Cá estou eu de volta. Continuarei semanalmente tentando contribuir com ideias e opiniões para o desenvolvimento social, político e econômico de Minas e do país.
O Brasil experimentou a maior crise das últimas décadas. Combinação explosiva entre recessão, desemprego alto, feridas abertas pelo impeachment, conflito entre os Poderes republicanos, insatisfação social represada e o maior escândalo de corrupção desvendado pela Lava Jato.
É evidente que a herança desse quadro transformou 2018 num terreno movediço povoado de incertezas.
A democracia representativa brasileira viveu uma crise silenciosa que veio à tona nas urnas. Quem achou que tinha o pulso da realidade, segundo antigos paradigmas, se surpreendeu. Quem achou que o modelo clássico de fazer política e campanhas funcionaria se frustrou. A distância entre a sociedade brasileira e sua representação política se aprofundou de forma radical nos últimos anos. Esse sentimento explodiu nas urnas.
A vitória de Bolsonaro – um “outsider” com 29 anos de vida pública sem muito destaque, mas que conseguiu se identificar com o “cidadão comum” em torno da defesa dos valores da tradição, da família, da propriedade, da tolerância zero com a corrupção e a violência e do sentimento majoritário anti-PT, sem tempo de TV, sem muito dinheiro e sem presença nos debates, mas com um vigoroso apoio voluntário nas redes sociais e nas ruas – representa uma monumental derrota do que ficou conhecido como “a velha política”, o “establishment”.
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A eleição de Bolsonaro e de diversos outsiders como governadores (MG, RJ, DF, SC, AM, RR etc.) determinou o fim do ciclo histórico da redemocratização e da Nova República. Algumas elites tradicionais conseguiram manter sua hegemonia regional (PA e AL). O PT e as esquerdas mantiveram a liderança no Nordeste. Mas a marca dominante das eleições de 2018, onde as exceções confirmam a regra, foi a vitória da “nova política” – seja lá o que isso signifique. Mesmo as vitórias tucanas de João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) têm interface e traços comuns com esse novo universo da política.
O ciclo da Nova República está encerrado. Temos por fim uma direita organizada e expressiva. Plínio Salgado, com seus integralistas, tentou. Carlos Lacerda infernizou a vida de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, mas nunca construiu uma alternativa competitiva em escala nacional. Agora Bolsonaro e diversos outsiders vocalizam vigorosamente princípios e diretrizes de uma direita que nunca teve presença relevante na política.
Tudo o que era importante até 2016 (alianças, tempo de TV, financiamento forte, debates) não tem mais lugar preponderante na disputa política. Emergiu uma nova forma de fazer política e campanhas. O império das redes sociais coloca novos desafios.
Minha geração, que nasceu e cresceu na luta pela Nova República, não tem mais tempo a perder. O Brasil tem pressa. Vamos torcer e ajudar, das mais diversas formas, para que os governos eleitos consigam tirar Minas e o Brasil da profunda e complexa crise que vivemos.
Do mesmo autor:
Na “democracia brasileira” ou na nova república, nunca tivemos representantes e sim algozes. Na “democracia brasileira” os brasileiros tem “obrigação” de votar e eleger seus “inimigos” e não representantes. Se eu soubesse que “isto é democracia” jamais teria ido às ruas por diretas já. Fomos enganados por criminosos gananciosos e ambiciosos com objetivos pessoais que se travestiram de políticos. Dos milhares de políticos brasileiros dá para contar nos dedos quantos tem compromisso com o Brasil e os brasileiros.