O governo Jair Bolsonaro apresentou nesta segunda-feira (19) um estudo clínico com o uso do medicamento Nitazoxanida em pacientes na fase precoce da covid-19. Trata-se de um vermífugo conhecido com o nome comercial Annita, mas que não possui fundamentação científica. “Foi constatado na ponta da linha que a carga viral diminuía”, disse Bolsonaro citando um estudo clínico realizado pelo Laboratório Nacional de Biociências do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
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A médica Patrícia Rocco, coordenadora do estudo clínico, afirmou que ele foi submetido a uma publicação internacional e justificou que isso impede o detalhamento dos dados. “Infelizmente, neste momento não poderei relatar mais detalhes sobre o estudo, já que ele foi submetido a uma revista internacional e isso faria com que perdêssemos o ineditismo, limitando a publicação”, disse sem informar o nome da publicação.
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Segundo o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, a droga mostrou 94% de capacidade de inibir o vírus. “Nós temos agora um medicamento comprovado cientificamente que é capaz de reduzir a carga viral”, afirmou. De acordo com ele, essa redução leva a uma diminuição da capacidade de contágio e também abranda a probabilidade de agravamento de sintomas.
Pontes citou como vantagens do medicamento o baixo custo e os poucos efeitos colaterais. “Ele não pode ser utilizado para prevenção. Ele não é profilático, é só após a detecção do vírus”, frisou. Segundo a pasta, 1.575 voluntários participaram do estudo, um deles o próprio ministro, que já teve a covid-19.
O ministro Marcos Pontes admitiu que sua previsão inicial de concluir os testes em poucas semanas foi otimista. O estudo iniciou no mês abril e foi realizado no estado de São Paulo, em hospitais de São Caetano do Sul, Barueri, Guarulhos, Bauru e Sorocaba; em Minas Gerais, na cidade de Juiz de Fora; e no Distrito Federal, em Ceilândia.
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, não compareceu à cerimônia. Segundo o presidente, ele teve uma pequena indisposição e foi levado a um hospital, mas não detalhou o que houve. Procurada, a pasta informou que o ministro já está bem e em casa.
Falta de evidência científica
De acordo com o médico e advogado sanitarista Daniel Dourado, do Núcleo de Pesquisa e Direito Sanitário da Universidade de São Paulo (USP), falta evidência científica quanto ao vermífugo em questão. “Se não publicou em lugar nenhum, a gente não sabe se foi bem feito”, afirma. “Até agora não tem evidência nenhuma.”
O médico lembra que já foram testados vários vermífugos em outros países. “Infelizmente não tem tratamento precoce, já testaram várias coisas. Já testaram em outros laboratórios.” Dourado também alerta para a necessidade de olhar com atenção para esse tipo de anúncio do governo federal. “A gente tem que olhar sempre com reservas, até porque eles têm lançado mão desse tipo de artifício desde o início”, completa.
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É incorreta a informação de que o LNBio foi responsável pelos ensaios clínicos. O trabalho do LNBio foi na fase in silico e in vitro. Ou seja, no estudo computacional de identificação de moléculas com potencial de impedir replicação do vírus e nos testes de laboratório com células infectadas pelo vírus. Os ensaios clínicos foram realizados por outras equipes da Rede Vírus/ MCTI.