O deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) declarou nesta quarta-feira (31), em uma das primeiras entrevistas que concedeu desde que foi escolhido para ser o novo líder da oposição na Câmara, que há líderes partidários fora da esquerda e da centro-esquerda que têm o desejo de apoiar a abertura de um processo de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro, mas que a falta de protestos de rua é um empecilho para vários parlamentares de centro e direita.
“Vários líderes consideram que esse seria o caminho desejável, embora uma parte deles ache que não dá para fazer isso sem povo na rua, então acho que isso é uma das dificuldades desse momento”, disse. O deputado reforçou, no entanto, que não recomenda manifestações no momento atual, para evitar aglomerações durante a pandemia de covid-19.
Para ele, entretanto, a abertura de um processo de afastamento do presidente pelo Congresso Nacional não depende apenas desse fator. Há parlamentares que avaliam que “não há condições para que o processo de impeachment prospere”, e que temem um aprofundamento da divisão do país. Porém, na avaliação de Molon, partidos que compõem o chamado Centrão e que hoje estão alinhados ao presidente não devem demorar muito para se convencer de que o entendimento com o governo Bolsonaro não irá fazer com que o presidente mude sua postura em relação a assuntos que têm causado conflitos entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.
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“Esse entendimento que houve com parte do Centrão e do Congresso não vai perdurar, vai ser motivo de problema e desentendimentos novamente. É só uma questão de tempo”, disse o líder da oposição.
Questionado sobre as diferenças entre a gestão de Arthur Lira (PP-AL) e a do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), Molon reconheceu que “ainda é cedo” para avaliar a gestão de Lira, mas que o atual presidente “ainda aposta em um entendimento com o governo” que, para ele, “se mostrará impossível” em um médio ou curto prazo.
Na entrevista ao Congresso em Foco, Alessandro Molon, que já foi líder do PSB na Câmara e que venceu o Prêmio Congresso em Foco mais de uma vez, também disse que o seu partido ainda não descarta apoiar a candidatura em 1º turno de nenhum dos possíveis candidatos a presidência da república em 2022, nem mesmo daqueles posicionados mais a direita e centro-direita do espectro político. Porém, a probabilidade de uma aliança direta com esses partidos é menor, o que não anula os diálogos já existentes sobre o cenário eleitoral de 2022.
Publicidade“Eu não diria que [nomes da direita] estão descartados, mas não há proximidade com esses nomes, em especial com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB)”, disse. “O PSB é um partido da centro-esquerda, e naturalmente que os partidos que estão nesse campo têm mais proximidade e identidade conosco do que outras siglas. Isso torna impossível o diálogo com eles? Não, porque temos que conversar com todos, mas eu acho muito pouco provável que haja uma aliança com o PSDB, que é um partido de centro-direita”, esclareceu o parlamentar.
O líder da oposição na Câmara também avaliou os possíveis rumos do cenário político em 2022 depois que o ex-presidente Lula (PT) teve suas condenações na Operação Lava Jato anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e se tornou elegível novamente. Molon disse que ainda não conversou com integrantes do PT sobre as possibilidades para o ano eleitoral, mas que esse diálogo deve ocorrer “em breve”.
Para o deputado, o diálogo e alinhamento de todos partidos de oposição ao governo Bolsonaro devem avançar desde já, porém, a decisão sobre qual será a chapa apoiada por essa frente na próxima disputa à presidência será tomada “apenas em abril ou maio do ano que vem”. “O que eu considero importante, no momento, é os partidos de oposição manterem o diálogo aberto, não colocarem seus interesses na frente dos interesses do país, e estarem dispostos a não lançar candidaturas, se for o caso”, defendeu o líder.
Na entrevista ao Congresso em Foco, Molon ainda detalhou as pautas prioritárias que serão defendidas por ele em sua nova liderança, avaliou a atuação da oposição na Câmara até agora, e comentou os possíveis efeitos e consequências das recentes trocas nos comandos de seis ministérios e nas Forças Armadas.
O parlamentar também relembrou a divisão do PSB durante as eleições deste ano para a presidência da Câmara e citou nomes filiados ao partido que são cotados para concorrer as eleições de 2022, caso a sigla decida lançar uma candidatura própria à presidência. Segundo ele, o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, o governador do Espírito Santo Renato Casagrande e o de Pernambuco, Paulo Câmara, são políticos com as competências exigidas para disputar a presidência ou a vice-presidência.
;Leia a íntegra da entrevista ao Congresso em Foco:
Congresso em Foco – De acordo com o que o senhor observa no Congresso Nacional, existem conversas fora da oposição sobre a possibilidade de impeachment?
Alessandro Molon – Vários líderes consideram que esse [o impeachment] seria o caminho desejável, embora uma parte deles ache que não dá para fazer isso sem povo na rua, então acho que isso é uma das dificuldades desse momento. Nós da oposição achamos que é preciso avançar já, na verdade achamos que estamos atrasados, o impeachment é para ontem. Mas outros líderes [de fora da oposição] até teriam o desejo de apoiar, mas acham que isso não é possível, que não há condições para que isso prospere, e temem que haja uma cisão no país, que isso divida muito o país, e que haja algum tipo de conflagração.
Congresso em Foco – Na sua avaliação, se a parcela da população que é favorável ao impeachment do presidente começasse a articular mais movimentos e protestos de rua, haveria mais chances do Congresso Nacional dar início a esse processo?
Alessandro Molon – Sem dúvidas. O movimento de rua, que não é possível agora por causa da pandemia, certamente ajudaria a empurrar o impeachment para frente. Mas não acho que ele dependa só disso, porque o apoio na sociedade [ao impeachment] cresce à medida que o governo dá sinais de que vai reagir. Há um jogo dialético entre movimento de rua e Congresso. Se o Congresso também diz que não vai fazer nada, isso é um banho de água fria, inibe e desestimula movimentos de rua. Soma-se a isso o grave momento em que a gente atravessa, quando não é recomendável que se faça aglomerações, e é muito difícil fazer um movimento de rua sem aglomeração. Então é uma situação delicada, e isso realmente tem prejudicado o avanço do impeachment. […] Recomendamos que não se façam protestos de rua mesmo por causa da pandemia, mas se não fosse isso, nós estaríamos nas ruas na frente das caminhadas pedindo o impeachment do presidente. Ao contrário de Bolsonaro, nós somos responsáveis e nos preocupamos com a vida do nosso povo.
Congresso em Foco – As recentes mudanças no comando das Forças Armadas podem pressionar parlamentares de centro e direita, sobretudo os mais ligados ao governo, a apoiar o processo de impeachment?
Alessandro Molon – Acredito que a demissão do ministro Azevedo e dos comandantes das Forças têm causado muita preocupação em todo Congresso, em todos partidos que têm compromisso com a democracia, porque é um fato inédito. Além disso, os que saíram deixaram claro em suas despedidas a razão pela qual estavam saindo, em resistência ao uso político das Forças Armadas, eles não permitiram a politização das Forças Armadas. E certamente isso preocupa, ou pelo menos deveria preocupar, todo mundo que tem compromisso com a democracia. Felizmente as Forças Armadas têm mostrado compromisso com a Constituição, esses três comandantes e o ex-ministro da Defesa foram muito corretos nisso, e há de se reconhecer e aplaudi-los por isso.
Congresso em Foco – Qual vai ser sua estratégia, na prática, para angariar apoio do bloco de partidos do Centrão, atualmente mais ligados ao governo Bolsonaro?
Alessandro Molon – Acho que isso se dá em torno de pautas, e acredito também que os partidos do Centrão vão acabar se cansando da tentativa de convencer o presidente da República a ser quem ele não é. Repare o que aconteceu logo depois da primeira reunião do comitê da covid-19 que junta os presidente da Câmara, Senado, e o poder Executivo, e das casas legislativas: 15 minutos depois dos dois presidentes do Congresso e o ministro da Saúde terem dado uma entrevista coletiva, o presidente [Bolsonaro] sai e se pronuncia contra o distanciamento social. Ou seja, não tem saída, não tem solução. Não adianta, tem rabo de jacaré, olho de jacaré, bico de jacaré, não dá pra dizer que não é jacaré. Não dá para fingir que Bolsonaro não é quem ele é. Ele é uma pessoa autoritária que não desiste do seu projeto de poder autoritário, que demitiu três comandantes das Forças Armadas e o ministro da Defesa porque quer usar as Forças Armadas para ameaçar os outros poderes, e os partidos do Centrão vão acabar se convencendo disso. Cedo ou tarde, essa verdade vai aflorar. Mas acho que essa unidade com os partidos se constrói nas pautas concretas, é no dia a dia que vamos fazendo isso, em cada projeto, cada debate, cada tema, e a cada ataque de Bolsonaro à democracia.
Congresso em Foco – Como o senhor interpretou a recente declaração do presidente da Câmara sobre um “sinal amarelo” da Casa para o governo federal, e de que “tudo tem um limite”? Foi um recado sobre a possibilidade de um processo de impeachment contra o presidente da República?
Alessandro Molon – Não sei se sobre impeachment, mas com certeza foi um recado duro pro presidente da República, e eu acho que inclusive sinalizando com a possibilidade de impeachment sim. Quando o presidente da Câmara diz que os remédios na política às vezes são amargos e fatais, quando ele fala “remédio fatal” na verdade é o impeachment. Acredito que ele quis lembrar que existe isso, e deu um recado duro ao presidente. E o presidente entendeu o recado, porque nos dias seguintes trocou seis ministros. Mas não acredito que todos os seis tenham relação com esse recado apenas. Por exemplo, a mudança no meio militar nada tem a ver com isso, na minha opinião. Então me parece que o presidente entendeu o recado, fez concessões, mas o problema é que ele é quem ele é. Ou seja, faz uma coisa agora e daqui a 15 minutos volta a ser quem ele sempre foi, volta a ter recaídas autoritárias, e isso vai voltar a acontecer de forma que eu acho que esse entendimento que houve com parte do centrão e do congresso não vai perdurar, vai ser motivo de problema e desentendimentos novamente. É só questão de tempo.
Congresso em Foco – Quais diferenças o senhor vê na relação do governo com o legislativo durante a gestão de Rodrigo Maia e de Arthur Lira na presidência da Câmara?
Alessandro Molon – É muito cedo para avaliar a gestão do presidente Arthur Lira, porque ele acabou de assumir seu mandato, então é difícil fazer essa avaliação. Mas acho que a principal diferença entre os dois está no relacionamento dos dois entre o Congresso, ou a Câmara, e o governo. O presidente Arthur Lira ainda aposta em um entendimento no governo que, a meu ver, se mostrará impossível. Não por culpa da Câmara ou do Congresso Nacional, mas por esse comportamento do presidente da República que insiste em tratar os outros poderes como se eles fossem inferiores. Ele [Bolsonaro] não entende que o Executivo não está acima do Legislativo ou Judiciário, ele acha que está acima, que pode mandar nos outros poderes. Essa troca dos comandantes das Forças Armadas é por essa razão. Então eu acho que essa aposta do presidente Arthur Lira nesse entendimento com o governo acabará se mostrando equivocada, acho que ele vai perceber, e eu não digo nem no médio e longo prazo, mas até no curto prazo, que é muito difícil lidar com um presidente que não respeita os demais poderes, apesar de ele [Bolsonaro] ter passado 28 anos na Câmara.
Congresso em Foco – Como o senhor vê a atuação da oposição na Câmara em relação ao governo Bolsonaro nesta legislatura até agora? Falta resistência e engajamento em certas pautas por parte de alguns parlamentares?
Alessandro Molon – Não acredito que falte. Acredito que a oposição esteja fazendo nesses dois anos até aqui tudo o que pode e mais um pouco. Nós estamos vivendo um momento muito difícil no Brasil. Eu estou assumindo novamente a liderança da oposição, fui líder da oposição em 2019, agora volto em 2021, no momento em que eu considero o mais dramático, o momento mais difícil do Brasil desde a redemocratização. Eu acho que não houve nenhum momento tão dramático, difícil e desafiador quanto esse nos últimos 35 anos. E nessa semana nós tivemos uma prova disso com a demissão dos três comandantes das Forças Armadas no mesmo dia após a troca do ministro da Defesa. Isso não ocorria desde 1985, portanto, 35 anos atrás. Sem falar no desastre que é o governo Bolsonaro para a democracia brasileira se olharmos por exemplo para a pandemia, com o Brasil ultrapassando 320 mil mortos por essa pandemia, quando poderia ter morrido muito menos gente se o governo tivesse feito sua parte. Com a economia em frangalhos, desemprego, fome. Assumo a liderança da oposição com disposição de luta, pronto para dar meu melhor pro país, e acho que é nesse momento de dificuldade que a gente precisa se apresentar ao país e prestar os serviços que o país espera.
Congresso em Foco – O senhor avalia que a recente nomeação da deputada Flávia Arruda (PL-DF) para ocupar o cargo de ministra da Secretaria de Governo pode aumentar a influência do presidente Bolsonaro no Congresso Nacional?
Alessandro Molon – Eu acho que é o contrário disso. Acho que [a nomeação da deputada] é um sinal da dependência do presidente da República sobre a Câmara. Ao mesmo tempo que ele quer se impor, ele percebe sua fraqueza e percebe que precisa fazer concessões sob a pena de não ter maioria no Congresso, de não conseguir apoio a suas propostas no Congresso. Então não acho que esse gesto aumente a influência dele no Congresso, acho que é o contrário, é um aumento da influência do Congresso no governo dele. Ocorre que, apesar dessa nomeação, eu não acredito que vai mudar a forma dele agir. Ele pode botar 10 ministros do lado dele que tenham origem no Congresso, eu não acredito que ele vá mudar o seu comportamento. É um sinal de fraqueza, de percepção da necessidade de conceder espaços para o parlamento, mas não acredito que isso vá mudar o comportamento dele.
Congresso em Foco – Como o senhor avalia o cenário eleitoral de 2022 com o ex-presidente Lula de volta no jogo eleitoral, depois da decisão do STF que o tornou elegível novamente? E o senhor já teve algum diálogo com o Lula ou com membros do PT sobre o assunto desde que as condenações dele na Lava Jato foram anuladas?
Alessandro Molon – Não tive diálogo com eles sobre as eleições, porque isso se deu exatamente nesse momento super conturbado do país e da Câmara dos Deputados, da pandemia. Estamos vivendo um momento tão confuso que pensar na semana que vem é pensar a longo prazo, de tão difícil que está. Mas certamente a decisão do STF que recoloca o ex-presidente no jogo político é uma decisão que mexe muito com o tabuleiro político, certamente vai ter muito impacto nas eleições do ano que vem e pode redesenhar todo o cenário político. Mas as conversas ainda não avançaram nessa direção, esse ano começou de forma muito conturbada, ainda não aconteceram as conversas, que devem acontecer em breve.
Congresso em Foco – Hoje, qual o senhor acredita que é a melhor alternativa para os partidos da oposição e para o PSB nas eleições presidenciais de 2022: apoiar uma possível candidatura do PT, ou focar em outra candidatura única, já que o partido de Lula também tem uma imagem negativa diante de parte dos eleitores da esquerda e centro-esquerda?
Alessandro Molon – Um ano e três meses em política é uma eternidade. Daqui para lá, eu acho que muita coisa pode acontecer. O ex-presidente também não falou ainda que é candidato, e acho que não falou corretamente. Pode ser que não deseje ser candidato, pode ser que possa ser candidato e não deseja. O ideal seria que toda a oposição conseguisse estar unida em uma única chapa, uma unidade plena. Não sei se isso será possível, porque depende de todos partidos da oposição.
O PSB ainda não começou esse debate interno sobre qual partido seguir, e nem acredito que vai fazer tão cedo, porque é preciso que o cenário esteja um pouco mais claro para que isso aconteça. Agora, o nosso foco e de todo o Brasil tem que ser impedir que Bolsonaro seja reeleito. O país não suportará mais quatro anos dessa destruição deliberada, seguida e incansável que ele tem promovido nas instituições, é muito sério o que está acontecendo, e por isso é preciso derrotá-lo. Então, se a unidade não for possível no primeiro turno, no segundo turno, todos que não forem Bolsonaro têm que estar unidos em torno de seja lá quem for. Qualquer um ou qualquer uma que vá para o segundo turno contra Bolsonaro deve ter o apoio de toda sociedade brasileira independentemente de quaisquer divergências, porque nosso compromisso com a democracia e a vida tem que estar acima das diferenças partidárias. […] O que eu considero importante é os partidos de oposição manterem diálogo aberto, não colocarem seus interesses na frente dos interesses do país, e estarem dispostos a não ter candidaturas, se for o caso, e tentar, com o máximo de forças possíveis, saírem unidos. Porque nossas chances de derrotar Bolsonaro unidos é muito maior do que se a gente se dividir e começarem os ataques e fogo amigo.
Congresso em Foco – Quando o senhor acredita que essa discussão sobre candidaturas poderá ser feita com uma maior certeza e clareza do cenário para 2022?
Alessandro Molon – Eu acho que por volta de abril, maio, do ano que vem, bem perto da definição do calendário eleitoral que sai em julho. Parece mentira, mas há eleições em que a melhor candidatura fica clara na semana da convenção. […] Mas eu acho que as conversas, com todos partidos de oposição, devem começar já agora. Apenas acho que a decisão não deve ser tomada agora, e que é muito cedo para fazer a avaliação sobre qual candidatura é mais viável. […] E não há nenhuma porta fechada [aos partidos], de forma nenhuma. Estamos totalmente abertos para conversar com PT, PDT, PCdoB, PSOL, REDE, PV, e também com partidos de centro, como Cidadania, PSDB. Temos que conversar com todos para buscar qual é o melhor cenário para a eleição. Se a gente conseguir construir uma frente ampla que junte o maior número de partidos contra Bolsonaro, é o cenário ideal.
Congresso em Foco – Hoje, existe a chance do PSB lançar um candidato próprio nas eleições presidenciais de 2022?
Alessandro Molon – Não é impossível. O PSB já cogitou candidatura própria em outros momentos. Infelizmente perdemos Eduardo Campos, que era pré-candidato do PSB. Depois, no seu lugar, Marina Silva concorreu, mesmo sendo da Rede mas estava filiada naquele momento ao PSB. E desde então, o PSB cogita sim uma possibilidade de candidatura própria, mas naturalmente que isso vai estar subordinado ao que for melhor para o país. Tenho certeza que o PSB não vai fazer o que for melhor para si mesmo, vai fazer o que for melhor para o país, de forma que o interesse nacional esteja acima do partidário.
Congresso em Foco – Quais nomes do seu partido o senhor pode citar e que provavelmente vão concorrer nas eleições de 2022, mas não necessariamente para a presidência da República?
Alessandro Molon – O PSB tem grandes nomes, são muitos. Por exemplo, o governador de Pernambuco, que está se despedindo do seu segundo mandato, Paulo Câmara, pode ser perfeitamente candidato do PSB ao Senado ou à presidência ou vice-presidência da República. Da mesma forma o governador Renato Casagrande, do Espírito Santo. Ele também pode ser candidato, seja a presidente, vice, ou a reeleição, porque ele está no primeiro mandato. O ex-ministro Joaquim Barbosa, filiado ao PSB, que é extremamente bem visto e respeitado pela sua história, também pode ser candidato. Não sei se ele gostaria de se candidatar a algum cargo, mas tem todas as condições para concorrer à presidência da República, por exemplo. Temos grandes nomes, mas essa definição não se dará em torno dos interesses do PSB ou dos nomes que temos, mas sim daquilo que se mostrar melhor para o país. […] Quanto à minha candidatura em 2022, ainda não tomamos essa decisão [de qual vai ser]. É um assunto ainda aberto no PSB do Rio de Janeiro e no PSB nacional. Alguns defendem que meu nome seja apresentado ao Senado Federal, para concorrer pelo Rio, mas ainda não decidimos, são duas possibilidades que estão colocadas. Não estamos aventando possibilidades além dessas no momento, mas elas existem e vamos avaliar.
Congresso em Foco – Muitos membros do PSB apoiaram Ciro Gomes, do PDT, no 1º turno da eleição presidencial de 2018. Ele também é cotado para integrar uma chapa presidencial com o partido em 2022?
Alessandro Molon – Sim, sem dúvidas é cotado. É uma pessoa por quem o PSB tem muito apreço, consideração e respeito pela trajetória. Certamente essa é uma das possibilidades que o PSB vai analisar. Tivemos uma aliança importante com o PDT nas eleições municipais, estivemos juntos em várias capitais, e isso nos aproximou mais, então com certeza é uma possibilidade.
Congresso em Foco – Os nomes da direita cotados para concorrer à eleição presidencial de 2022, como Eduardo Leite, João Doria, Mandetta, já são totalmente descartados pelo PSB como a melhor candidatura única para combater Bolsonaro em um possível 2º turno?
Alessandro Molon – Eu não diria descartados, eu diria que não há proximidade com esses nomes, em especial com o governador de São Paulo (Dória), como há com os partidos de esquerda e centro-esquerda. O PSB é um partido da centro-esquerda, e naturalmente que os partidos que estão nesse campo têm mais proximidade e identidade conosco do que outros partidos, como o PSDB, que é um partido de centro-direita. Isso torna impossível o diálogo com a sigla? Não torna impossível, porque temos que conversar com todos, mas eu acho muito pouco provável que haja uma aliança com o PSDB em contraste com uma aliança com partidos que estão no campo da oposição propriamente dita. Mas eu acho que mesmo sem uma perspectiva concreta de aliança, é preciso manter o diálogo aberto com esses partidos. […] Quem sabe não conseguimos construir uma ampla frente que junte partidos de esquerda, de centro-esquerda e de centro-direita? Esse seria o ideal, seria o sonho de consumo.
Congresso em Foco – Durante as últimas eleições para a presidência da Câmara, aconteceram divergências dentro do PSB quanto a apoiar Baleia Rossi, Arthur Lira, ou uma candidatura própria da oposição. Hoje, o senhor ainda avalia que exista uma crise ou qualquer divisão entre os membros do partido?
Alessandro Molon – Sem dúvidas houve uma divisão na bancada, que acabou se mostrando permanente. Houve uma parte importante da bancada que entendeu que o apoio ao deputado Baleia Rossi não era o melhor caminho, então a bancada seguiu dividida nesse tema. […] Mas acho que não, acho que isso é uma página virada, esse episódio acabou, enfrentamos a eleição, e a eleição acontece e depois acaba. A bancada do PSB está unida trabalhando junto para tentar ajudar o Brasil nesse momento delicado. Não percebo nenhum clima de divisão e luta interna na bancada, ao contrário, percebo um clima de união, viramos essa página e seguimos em frente.
Congresso em Foco – Se a bancada inteira do partido tivesse apoiado uma só candidatura, do Baleia Rossi, ele poderia ter sido eleito no lugar de Arthur Lira, na sua avaliação?
Alessandro Molon – Não acredito, porque a diferença da votação foi muito grande. Se tivesse sido um resultado apertado, talvez uma vitória por 8 ou 9 votos, aí sim, mas a diferença foi muito grande, então não acho que a divisão do PSB tenha contribuído diretamente para uma vitória do Arthur Lira.
Congresso em Foco – Quanto às recentes denúncias do PSB (confirmadas pelo Congresso em Foco) sobre os gastos excessivos das Forças Armadas com carnes, cervejas, entre outros itens, quais são os próximos passos disso?
Alessandro Molon – Primeiro que devemos isso muito à capacidade investigativa do deputado Elias Vaz, que é do PSB de Goiás. Ele trabalhou muito buscando esses números, apresentou à bancada mostrando a gravidade, nós concordamos que ele tinha razão e decidimos assinar juntos a representação. […] E essas representações estão sendo acolhidas agora, tanto no TCU quanto no Ministério Público Federal, elas estão avançando. E vamos acompanhar. […] O deputado também acaba de aprovar, agora há pouco, a convocação do general Braga Netto, novo ministro da Defesa, para tratar desse assunto na comissão de fiscalização e controle da Câmara. Como agora o general acabou de assumir, outros assuntos serão perguntados também, como em que contexto se deu a nomeação dele. […] Mas esse tema de mau uso do dinheiro público nas Forças Armadas é um tema muito grande, e traz compras por preços exorbitantes, então são coisas gravíssimas que o PSB está fiscalizando, e vamos cobrar o andamento das investigações.
Congresso em Foco – Por fim, quais vão ser as principais pautas e mudanças que o senhor irá defender durante sua nova liderança?
Alessandro Molon – Uma das frentes de batalha da gente é a preservação da democracia, e por isso o pedido que nós, líderes da oposição e da minoria, apresentamos pedindo o afastamento do presidente da República por conta dessa tentativa de usar as Forças Armadas para pressionar os outros poderes, e para tentar, no fundo, como todos sabemos, e como o presidente da República nunca fez questão de esconder, preparar um golpe. O nosso primeiro desafio é preservar a democracia brasileira. Ao lado disso, nossa luta contra os retrocessos de outras ordens, em termos de perda de direitos do brasileiro. Vimos várias medidas do governo que minam os direitos dos brasileiros, a exemplo da última reforma da previdência. Então uma outra frente de batalha é a proteção dos direitos dos brasileiros. Outra frente de batalha é a vacinação do povo brasileiro. Essa meta de 1 milhão de vacinados por dia é uma meta pífia, se compararmos isso com a capacidade que temos de vacina. Temos capacidade de vacinar 3 milhões de pessoas por dia, e não 1 milhão. Então isso é menos da metade da meta que poderíamos estar fazendo se o governo tivesse providenciado vacinas. Em agosto do ano passado, o presidente da República se recusou a comprar 70 milhões de doses da Pfizer, que teriam sido entregues em dezembro do ano passado (…) Então a nossa outra meta é proteger a vida e a saúde dos brasileiros, garantindo vacinas, apoiando distanciamento social e medidas de lockdown onde elas forem necessárias, e procurando garantir os insumos para hospitais, como remédios para intubação e oxigênio.
Essas são três frentes, as frentes mais emergenciais. Mas ao lado disso, temos que olhar para o futuro também. Temos que apresentar ao país uma lista de outras propostas que permitam o país avançar. Então, primeiro, aprimorar, aperfeiçoar e apoiar o SUS, nosso sistema de saúde que se mostrou tão importante. E como podemos fazer isso? Nós podemos tomar medidas no país para tornar o SUS menos dependente de importações, apoiar o desenvolvimento de um complexo industrial da saúde, de insumos, de vacinas, de remédios, de outros produtos que são fundamentais para que o SUS possa prestar um serviço cada vez melhor. Garantir um auxílio emergencial que permaneça por mais tempo, diferente deste último que o governo aprovou contra o nosso voto, porque R$ 250 para uma família é inviável. R$ 600 que aprovamos no ano passado era o mínimo para as pessoas conseguirem sobreviver.
Ao lado disso, também precisamos investir em ciência e tecnologia. Olha como a ciência foi importante, a Fiocruz, o Butantan, então o país precisa investir nisso, nas Universidades. Além disso, apresentar ao país um outro modelo de desenvolvimento, para voltar a gerar emprego e renda. E esse modelo não é mais do mesmo, não é simplesmente recuperar aquilo que acabou fechando, como indústrias e lojas. Mas é ir além disso, recuperar aquilo que for possível do que fechou, mas apontar para um outro tipo de desenvolvimento, que é o desenvolvimento verde. O mundo inteiro está caminhando nessa direção, na transição de uma economia cinza para uma economia verde. E isso pode gerar milhões de empregos. Eu tenho trabalhado muito nisso em uma pesquisa formatando esse modelo de desenvolvimento para o Brasil, que a Europa tá chamando de “green new deal“, os Estados Unidos também estão apostando nisso, que é a transição de uma economia baseada em carbono, fontes fósseis, combustíveis, para uma economia baseada em energias renováveis, com menos poluição, com uma vida de mais qualidade para as pessoas, e que ao mesmo tempo enfrentam as nossas chagas, que aprofundam a desigualdade social.
Então, como essas agendas se juntam? Temos um grande déficit habitacional, então precisamos construir casas populares. Essa é uma atividade intensiva e com mão de obra, gera muito emprego. Então apostar na construção de moradia popular, gerando emprego e renda, e essa moradia popular precisa ser uma moradia sustentável, que aproveite a água da chuva, que tenha energia solar, que tenha um sistema de ventilação que desincentive o uso do ar condicionado. Usar essas tecnologias para desenvolver esses materiais. Tudo isso se junta na construção de outro futuro para o Brasil. Além de resistir aos retrocessos, além de lutar para preservar a democracia, para garantir um auxílio que garanta dignidade ao trabalhador, para garantir a vacinação e proteger os direitos dos brasileiros, é preciso preparar esse futuro. Isso passa também, por exemplo, por uma reforma tributária justa. Porque para fazer tudo isso que eu estou fazendo, de onde vem o dinheiro? De uma reforma tributária justa, ou seja, que cobre mais dos super ricos e menos das classes populares e das classes médias que são aqueles que sempre pagam a conta.
> Estudantes protocolam pedidos de impeachment em série contra Bolsonaro
“O choro é livre!”
O governo não tem oposição política. Tem inimigos recalcados, invejosos, que se sentem humilhados pela perda da hegemonia e do poder, nas urnas, para um deputado que por 30 anos foi isolado, pisoteado, achincalhado, cuspido, xingado, humilhado por não ter se misturado aos quadrilheiros, larápios dos cofres públicos.
Esses larápios não têm mais apoio popular, por isso que não convocam manifestações. A última que convocaram, saiu matéria aqui no CF, não passou de 10 pessoas em frente ao Palácio do Planalto. Também não existe crime do Presidente que justifique. Só existe o ódio dos invejosos.
Na mosca!
A sorte do rei das rachadinhas é que o general não entende nada de política.
Protesto de rua só se me pagarem o ônibus executivo,. a quentinha, o sanduíche de mortadela e o copo de Pepsi….kkkkkkkk
Eu apoio o impeachment.
Desde que entre uma junta.