O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) considera que o chamado presidencialismo de coalizão deu lugar a um sistema de governo compartilhado pela Câmara, pelo Senado e pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em uma espécie de parlamentarismo branco. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, FHC diz que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), tem crescido politicamente em meio à pandemia de covid-19, enquanto o apresentador Luciano Huck, de quem o ex-presidente é amigo, tem se encolhido.
> Acesse de graça por 30 dias o melhor conteúdo jornalístico premium do país
Leia também
“Estamos passando por uma situação curiosa politicamente no Brasil. Tínhamos um sistema baseado em coalizão, que não foi planejado pela Constituinte, mas foi acontecendo. É a coligação de vários partidos para poder governar. O presidente atual despreza os partidos, mas está acontecendo uma coisa curiosa, uma espécie de governo compartilhado. A Câmara e o Senado estão atuando mais efetivamente. O STF também. Não se sabe muito bem o que vai acontecer de tudo isso, mas há outro sistema em funcionamento que não é mais o de coalizão”, declarou o ex-presidente.
FHC não acredita que o novo modelo tenha vindo para ficar. “Isso (parlamentarismo branco) está acontecendo, mas a cultura no Brasil não é parlamentarista. Desde o Império as pessoas precisam ter alguém que conduza. Elas criticam quem conduz, mas precisam de alguém para conduzir”, declarou.
O tucano avalia que o neoliberalismo está em “xeque”. “O Estado atuante e necessário, nem o mínimo nem o máximo. Na hora da crise todo mundo vira keynesiano (quem segue o economista inglês John Maynard Keynes) e quer que o governo gaste e dê dinheiro para quem não tem emprego. Aí se vê que o Estado tem uma função reparadora importante”, disse.
Para ele, o governador paulista tem ocupado vácuo de liderança entre partidos de centro.
“Nesse momento quem está colhendo mais frutos é o Doria. O Doria tem mostrado capacidade de sobreviver na crise”, disse. “É o que ele se propõe. Fora disso, quem tem? Um projeto, que é o Luciano Huck, que nasce de um movimento fora dos partidos. Mas na crise ele não tem instrumentos de aparecer e agir. Fica menor na crise. Doria fica maior. Os que detêm alavanca de poder, como o Doria, têm maior projeção. O Doria vem da rede social. Está tendo uma vantagem indiscutível”, afirmou.
FHC também defendeu que o PSDB se assuma como oposição a Bolsonaro. “Ficar nessa posição de que não é quente nem frio não é o melhor. Essa polarização que houve no Brasil é ruim para as pessoas que são razoáveis, e eu procuro ser razoável, mas ela existe. É um dado da realidade brasileira. O PSDB corre o perigo de não ficar nem cá, nem lá. Doria entendeu isso e avançou.”
Para ele, o PT perdeu espaço por ficar refém do “Lula livre” e não ter percebido outras movimentações na sociedade. “Qual era a proposta do PT? O Lula livre. O Lula está livre. Relativamente, mas está. A palavra do PT para a condução política desapareceu. Mas não foi só isso. A base do PT, sindicatos, CUT, etc., ficou muito aquém da movimentação da sociedade. Os governadores hoje têm mais acesso aos meios de comunicação. O Doria sabe usá-los. Mostrou que tem decisão. Decidiu enfrentar o presidente. Nesse momento quem está colhendo mais frutos é o Doria. O Doria tem mostrado capacidade de sobreviver na crise.”
Doria tem liderado, ao lado de Wilson Witzel (PSC-RJ) e Ronaldo Caiado (DEM-GO), o movimento dos governadores em defesa do isolamento social no combate à covid-19. Os dois primeiros, vistos como potenciais candidatos à sucessão de Bolsonaro em 2022, foram os principais alvos de manifestações bolsonaristas pela reabertura do comércio nas capitais fluminense e paulista nesse sábado. Os dois também têm sido responsabilizados por Bolsonaro pelo crescimento do desemprego e outros efeitos econômicos decorrentes da crise provocada pela pandemia.
> Acesse de graça por 30 dias o melhor conteúdo jornalístico premium do país
Essa múmia corrupta e asquerosa já deveria ter retornado ao sarcófago ha muito tempo!!