Os partidos que estão em processo de aproximação com o presidente Jair Bolsonaro escolheram ficar distantes dos desdobramentos da demissão de Nelson Teich do Ministério da Saúde.
Tradicionalmente ocupado por indicações políticas em governos anteriores, a avaliação é que articular para assumir o cargo neste momento traz mais prejuízo do que benefício. O presidente Jair Bolsonaro também não tem procurado os representantes partidários para decidir a escolha.
O crescente número de mortes pelo coronavírus e as divergências no uso da cloroquina, defendida por Bolsonaro, e vista com cautela pelos dois últimos ocupantes da pasta, afastam o Centrão, grupo suprapartidário de centro e direita, de querer o posto.
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Um integrante do PP próximo do presidente nacional da sigla, senador Ciro Nogueira (PI), avalia que essa área do governo é “uma bomba chiando”.
Após o anúncio do pedido demissão de Teich, o comportamento da maioria das legendas que negociam cargos com o governo foi de silêncio.
Parte dos deputados do grupo defende que seja escolhido o atual secretário-executivo, general Eduardo Pazuello, pois é um nome mais equilibrado que o deputado Osmar Terra (MDB-RS), que almeja o posto e tem contrariado teses científicas consolidadas de combate à crise.
O presidente negocia formar uma base legislativa no Congresso e em troca tem oferecido cargos no segundo escalão. As negociações mais avançadas têm sido no PP, Republicanos, PSD e PL.
No Ministério da Saúde, o PL deseja emplacar uma secretaria, mas vê pouco espaço porque a pasta está repleta de militares.
O PSD conseguiu uma das diretorias da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas deseja ainda o comando da Fundação Nacional da Saúde (Funasa).
Integrantes do Centrão que não tem participado das negociações com o governo e são próximos do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se manifestaram sobre a demissão de Teich.
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O presidente nacional do Solidariedade, deputado Paulinho da Força (SP), divulgou uma nota com duras críticas à gestão do governo na saúde.
“Duvido que alguém consiga fazer o presidente aprender com a ciência e perceber que reduzir o isolamento social é colocar mais brasileiros na fila de espera por uma vaga na UTI. O Brasil precisa de liderança, mas vai ser difícil encontrar um ministro que seja capaz de lidar, ao mesmo tempo, com a crise sanitária e com os impulsos de Jair Bolsonaro”, disse.
A mesma linha foi seguida pelo deputado Marcelo Ramos (PL-AM): “diante das imposições do presidente, só topará ser ministro da Saúde quem não tiver compromisso com a ciência e nem com medicina. O pedido de demissão do ministro demonstrou que ele tem”.
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