O movimento liberal Livres possui atualmente 23 pessoas (veja a lista no final do texto) com mandatos de senador, deputado federal, deputado estadual e vereador. Os organizadores deixam claro que a intenção não é formar um novo partido político. A maioria dos políticos com mandato do movimento está filiada a legendas como Novo, Cidadania e PSDB.
O Congresso em Foco ouviu membros da organização do Livres e deputados associados ao movimento.
As informações deste texto foram publicadas antes no Congresso em Foco Premium, serviço exclusivo de informações sobre política e economia do Congresso em Foco. Para assinar, entre em contato com comercial@congressoemfoco.com.br.
No ano de 2017, o objetivo do grupo era atuar na vida partidária e disputar eleições. Nascido dentro do PSL com o objetivo de reformular a sigla e trazer o foco para o liberalismo econômico e de costumes, o movimento decidiu se desfiliar da legenda após Jair Bolsonaro entrar no partido em janeiro de 2018.
Leia também
> Movimento liberal que deixou o PSL com chegada de Bolsonaro se reinventa
Um dos que saíram do PSL com a vinda de Bolsonaro foi Sergio Bivar, filho do presidente nacional do partido, Luciano Bivar, e um dos fundadores do que na época era uma corrente interna da legenda. Hoje Sergio Bivar mantém participação no Livres.
Publicidade“Desde a saída do PSL, o Livres decidiu atuar como um movimento suprapartidário”, disse Karla Falcão, co-fundadora do Livres e filiada ao Cidadania (ex-PPS).
A partir dessa data, o Livres atua como um movimento com a intenção de promover a ideologia liberal, mas sem necessariamente disputar mandato eletivo.
“O movimento não tem alianças com os partidos. É independente. Mas temos associados que são filiados a diferentes partidos. Também temos muitos associados que não são filiados a nenhum partido”, declarou Karla.
Não há veto a participação no grupo, mas Karla Falcão declarou que existem legendas com ideias com as quais o grupo não se identifica nem aceita ser associado.
“Não excluímos antecipadamente, mas não nos vinculamos com projetos extremistas, como PT, PC do B, Psol e PSL, por exemplo”, falou.
Ela também afirmou que há etapas a serem cumpridas para que os membros exerçam função representativa:
“Qualquer pessoa que concorda com os dez compromissos do movimento pode se associar. No entanto, nem todo associado fala em nome da organização. Somente as pessoas que passam pelo processo de validação para atuar como liderança do movimento”.
A coordenação do Livres é exercida por Paulo Gontijo, consultor da Confederação Nacional dos Jovens Empresários. Também compõem a diretoria executiva o cientista político Magno Karl, que é diretor de políticas públicas, e Mano Ferreira, representante de comunicação.
“A gente também tem um conselho de administração, para quem a diretoria executiva presta contas e uma estrutura de voluntários, com coordenações de núcleos estaduais”, afirmou Mano Ferreira.
E completou: “nós somos funcionários, ou seja, podemos ser demitidos pelo conselho de administração, que é composto por indicados do conselho de beneméritos, composto por fundadores do movimento e por pessoas que recebem o título por relevantes serviços à associação, e por eleitos pela assembleia geral”.
Um dos membros do grupo é o líder do Cidadania na Câmara dos Deputados, Daniel Coelho (PE). Ele afirmou que há uma proximidade programática entre o Livres e o partido.
“O Livres tem representação na Executiva [do Cidadania], indicado pelo próprio movimento Livres, mas o filiado tem os mesmos direitos e deveres, apenas é respeitada as posições do movimento internamente”, disse.
Antes de entrar no Livres, o líder do Cidadania afirmou que já havia proximidade com o grupo liberal:
“Sou muito próximo e milito junto ao Livres há muitos anos, apenas formalizei agora a participação no movimento, mas a gente tem uma relação muito antiga, já participei de vários eventos e já havia uma convergência muito grande. Como há uma integração hoje também muito intensa entre o movimento e o partido, resolvi entrar formalmente no Livres, mas já é uma relação antiga e a gente tem muita convergência de posições”, falou.
Ex-membros do governo FHC como consultores
O Livres possui um grupo consultivo que auxilia os membros do grupo no debate ideológico. Entre os participantes estão pessoas que participaram do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), com a ex-diretora do Programa Nacional de Desestatizações Elena Landau e o ex-presidente do Banco Central, Pérsio Arida.
“Eles são integrantes do nosso Conselho Acadêmico, com um papel consultivo. Eles não tocam o dia a dia da organização, mas são referências importantes que nós consultamos sempre que necessário, para nos ajudar a qualificar o debate”, afirmou Mano Ferreira, coordenador de comunicação do Livres.
O deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB-PB) faz parte do Livres e classifica como diferente a atuação dos dois grupos políticos.
“São espaços de atuação distintos, não existe confronto entre a filiação partidária e fazer parte de um movimento como Livres”, afirmou.
O tucano reforçou as ideais liberais defendidas pelo movimento. “O Livres é um movimento suprapartidário liberal, então quem acredita nessa visão de mundo que tem menos interferência do poder público para trazer mais eficiência e um caminho real de combate a desigualdade com intervenção naquilo que precisa, vaga de creche, segurança pública, assistência de saúde, o mínimo para cada um, faz sentido estar no Livres”, falou.
Também membro do Livres, o deputado federal Tiago Mitraud (Novo-MG) afirma que não fala pela legenda que é filiado e nem pelo Livres, mas tem a opinião de que nem o Novo nem o movimento procuram disputar com o PSDB.
Assim como o movimento Livres, o novo tem entre seus quadros um ex-membro do governo de Fernando Henrique, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco.
“Nenhum deles tem a intenção de ser um novo PSDB, atrair pessoas do PSDB ou qualquer coisa assim. Até a existência do Novo você não tinha partidos liberais no Brasil. O PFL que tinha lá atrás já desandou faz muito tempo. Quando Gustavo Franco sai do PSDB para ir para o Novo, acho que é muito mais por ele sempre ter se identificado com as ideias que hoje o Novo defende, mas que pela falta de um partido liberal, muitos que pensam como ele acabaram fazendo parte do PSDB no passado, do que um movimento explícito do Novo de atrair quem quer que seja”, disse o deputado mineiro.
Tiago Mitraud classifica o PSDB como de centro-esquerda e não alinhado com as ideias liberais.
“Na própria carta de desfiliação do Gustavo Franco do PSDB ele disse que se sentiu estranho lá dentro pelo fato do PSDB ser um partido social democrata, de centro-esquerda, e o Gustavo Franco sempre ter sido um liberal. Na falta de outras opções, ele ficou muito tempo no PSDB e ajudou a levar as ideias do liberalismo para o PSDB, que em algum grau, bem tênue, incipiente, foi adotado”, declarou.
Sobre o Livres, o deputado do Novo disse que por não ser um partido há como convergir entre as duas agendas e que não há intenção do movimento de atrair tucanos.
“Em relação ao Livres, é um movimento suprapartidário, você não pode ser filiado ao Novo e PSDB ao mesmo tempo, mas pode ser do Novo e do Livres ou do PSDB e do Livres, tanto que você tem filiados do Livres que são do PSDB, o Pedro Cunha Lima. O que o Livres tenta fazer é identificar em qualquer partido que seja, filiados que tem esse viés mais liberal para trazer para dentro da organização”, afirmou.
Livres e Novo
O movimento e o partido político tem muitas semelhanças na pauta econômica de não intervenção do estado, mas se diferenciam ao tomar posições sobre assuntos de costumes dos cidadãos.
“Tudo que o Novo acredita, o Livres acredita também. Algumas questões que o Livres acredita o Novo não tem posicionamento definido, como por exemplo as descriminalização de drogas, o Livres é a favor e o Novo deixa cada filiado decidir como quiser”, declarou Tiago Mitraud.
De acordo com o deputado mineiro, também há diferenças pelo fator estrutural, já que o Novo é um partido político e está submetido a regras eleitorais e o Livres é um movimento independente com uma atuação menos regulada.
“O Novo é um partido político, disputa eleição, está na política formal, partidária. O Livres é um movimento suprapartidário, também um movimento político, que busca defender e difundir as pautas do liberalismo. É uma pauta que está dentro da ideologia do Novo, mas no caso do Livres eles acabam, por não serem um partido, abarcando pessoas de diferentes legendas”, afirmou.
“Além de ter uma convergência 100% com a ideologia do Novo na parte do liberalismo econômico, o Livres é um movimento político que defende a liberdade econômica e dos costumes. Você vai ter associados dos Livres que são filiados ao Novo, vai ter filiados do Novo que não associados ao Livres e vai ter associados ao Livres que não são filiados a nenhum partido ou que são filiado em outros partidos. No meu caso faço parte dos dois, no meu caso e de mais uns dez filiados ao Novo”, disse o deputado.
Veja a lista de membros do Livres com mandato político:
Senador
- Rodrigo Cunha | PSDB-AL
Deputados Federais
- Alex Manente (Cidadania-SP)
- Daniel Coelho | Cidadania-PE
- Franco Cartafina | Progressistas-MG
- Gilson Marques | Novo-SC
- Marcelo Calero | Cidadania-RJ
- Pedro Cunha Lima | PSDB-PB
- Tiago Mitraud | Novo-MG
Deputados estaduais
- Davi Maia | DEM-AL
- Daniel José | Novo-SP
- Guilherme da Cunha | Novo-MG
- Chicão Bulhões | Novo-RJ
- Fábio Ostermann | Novo-RS
- Giuseppe Riesgo | Novo-RS
- Júlia Lucy | Novo-DF
- Laura Serrano | Novo-MG
Vereadores
- Emerson Jarude | Sem partido-AC (Rio Branco)
- Lucas de Brito | PV-PB (João Pessoa)
- Gabriel Azevedo | Sem partido-MG (Belo Horizonte)
- Caio Miranda | PSB-SP (São Paulo)
- Caio Cunha | PV-SP (Mogi)
- Thiago Lucena | PMN (João Pessoa)
- Mazinho dos Anjos | PSD (Vitória)
>Movimentos de renovação política elegem mais de 30 deputados e senadores
Deixe um comentário