Por que Andre Luís Gaspar Janones, um deputado federal de 37 anos de Minas Gerais em primeiro mandato, acredita que pode ser um candidato a presidente viável em 2022? Em um país que já está habituado a eternos salvadores da pátria e que a cada 30 anos costuma eleger outsiders, por que um dos parlamentares mais populares virtualmente poderia ser uma boa opção para subir a rampa do Palácio do Planalto em 1º de janeiro?
Segundo ele, justamente por não ser nada disso. “Ao contrário dos outros, que se colocam como salvador da pátria, eu não me coloco assim”, disse o parlamentar do Avante ao Congresso em Foco Talk desta quinta-feira (3). O diferencial dele para a quase dezena de pré-candidatos, em suas próprias palavras, seria sua cumplicidade com seus eleitores. “Eu posso ser visto como um ‘traíra’ pela opinião pública, pela imprensa, pelos políticos. Mas não posso ser visto como alguém que virou as costas para quem paga o meu salário, para quem eu represento”, completou o deputado.
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E isso também se reflete em seu posicionamento em relação ao atual ocupante do Planalto. “O atual presidente não é uma opção. Estamos falando de democracia, de respeito às instituições, ao STF, ao poder Judiciário, à imprensa. Estamos falando de democracia – e não de um plebiscito para saber se vamos instalar um regime democrático ou ditatorial”, disse. “[Jair] Bolsonaro não será opção para mim em nenhum dos cenários.”
Filho de uma doméstica e de um cadeirante, ex-cobrador de ônibus na cidade de Ituiutaba (MG), Janones acabou se formando em Direito como bolsista e atuando como advogado em causas consideradas populares. Sua fama virtual, no entanto, veio apenas recentemente: a greve dos caminhoneiros em 2018, onde um vídeo visualizado mais de 30 milhões de vezes catapultou a imagem do mineiro como um porta-voz do grupo. O holofote dado pela manifestação, indicou o deputado, foi essencial para a sua ida à Brasília: “só com a greve dos caminhoneiros, eu não seria deputado. Sem a greve dos caminhoneiros, eu não seria deputado”, resumiu.
O candidato do acaso
Janones disse que, até novembro passado, nem ele nem o Avante consideravam uma candidatura sua. Foi quando uma pesquisa do Ipec surpreendeu o mundo político (e o próprio parlamentar) ao colocá-lo com dois pontos percentuais, em situação de empate técnico com o governador João Doria (PSDB) e à frente de outros pré-candidatos muito conhecidos, como os senadores Alessandro Vieira (Cidadania), Rodrigo Pacheco (PSD) e Simone Tebet (MDB).
Isso fez com que o partido fosse pego de calças curtas em relação à campanha. Janones declarou no Congresso em Foco Talk que ainda trabalha na criação de sua equipe econômica – que deve ser apresentada em 60 dias.
Apesar disso, disse estar pronto: “Não sou um economista, mas também não sou um despreparado, um desqualificado como o atual presidente. não estou dizendo que vou escrever na mão antes do debate, e nem que eu não tenha condição de debater…mas se a solução fosse fácil assim, era só assoprar a resposta no ouvido do governo Bolsonaro”, ironizou.
Economia
Apelando a um discurso popular, Janones disse que os recursos no Brasil são escassos – mas nem sempre. “Para pagar meu salário, meus recursos nunca foram escassos. Eu ganho R$ 33 mil por mês e meu salário nunca atrasou um dia – nem na pior fase da economia do nosso país”, reclamou.
O parlamentar indicou que, com prioridades corretas, o país consegue pagar o auxílio emergencial – “Tem que se perguntar sobre qual prioridade iremos inverter, cortar de onde para pagar auxílio a quem precisa e passe fome” – mas esquivou-se de apresentar propostas macroeconômicas mais robustas, caso seja eleito.
Janones reconheceu, no entanto, que os problemas econômicos que o país passa são graves, e que ignoram ideologia política. “Precisamos aprofundar esse debate, parar com essa palhaçada de discussão de ideologia e pauta de costumes, e passar a enfrentar o que é problema de verdade”, exclamou.
O pré-candidato disse, no entanto, que não abriria mão de um centavo de seu salário. “Nunca abri nem nunca vou abrir. Sou trabalhador, honesto, e não vivo de doação de empresas”, respondeu, dizendo que seu foco hoje é exclusivamente a atividade política. “O dinheiro do meu trabalho é suado, honesto e, modéstia a parte, faço por merecer”. Nem da cota parlamentar ele disse que iria se desfazer: ao chamar a manobra de “medida populista”, indicou que o valor voltaria para a Câmara.
O deputado ainda declarou ser favorável ao fundo eleitoral – mas não no valor atual, que deve chegar a R$ 4,9 bilhões em 2022.
Combustíveis e caminhoneiros
A entrevista ocorreu horas depois de a Câmara receber a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) sobre os combustíveis. Janones, que esteve ao lado dos caminhoneiros durante as manifestações de 2018, disse discordar da política de preços da Petrobras, baseada na dolarização das suas operações. Ele disse ser contrário a proposta, e acredita ser difícil que a proposta seja aprovada antes do Carnaval.
Questionado sobre como vê o alinhamento dos caminhoneiros neste período, o parlamentar disse que, entre os caminhoneiros autônomos, não há nem lideranças representativas nem um sentimento antidemocrático – e, por isso, nomes como Zé Trovão não seriam representativos do grupo. No entanto, Janones não indicou se o grupo possui algum tipo de alinhamento, seja ao governo, seja a uma oposição.
O perfil do pré-candidato
Com cerca de 8 milhões de seguidores apenas no Facebook e apresentando-se como uma “terceira via viável”, André Janones lançou-se como pré-candidato no último dia 29, durante encontro nacional do Avante em Recife (PE).
Sua popularidade aumentou quando começou a dar visibilidade à pauta do auxílio emergencial. Hoje, o parlamentar soma mais de 13 milhões de seguidores em suas redes sociais. Ataques aos políticos e à corrupção são constantes em seu discurso. Ele fala que sua prioridade é combater a fome, o desemprego, o aumento de preços e a desigualdade social.
A entrevista está disponível nos canais do YouTube, do Facebook e do Twitter do Congresso em Foco. Janones foi entrevistado por três integrantes da nossa equipe: a editora Julia Schiaffarino; Rudolfo Lago, diretor do Congresso em Foco Análise; e, atuando como mediador, Sylvio Costa, fundador do Congresso em Foco.
André Janones, o deputado que empatou com Doria na pesquisa do Ipec
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