A Fundação Getúlio Vargas (FGV) não quis mesmo ter muito trabalho para elaborar o último concurso do Senado. Além de clonar o gabarito das provas para o cargo de consultor, a banca organizadora que arrecadou cerca de R$ 32 milhões fez o mesmo com a maioria dos cargos de analista e de técnico. Só os exames de analista nas áreas de Processo Legislativo, Assistência Social, Arquivologia e Arquitetura, e de técnico em Arquivologia, Administração e Processo Legislativo e de policial legislativo tiveram, de fato, tipos diferentes de prova. Nos demais casos, a sequência das respostas nas disciplinas de conhecimento geral foi rigorosamente a mesma. As diferenças se restringiram apenas às questões sobre conhecimentos específicos. Os dados foram avaliados pelo SOS Concurseiro/Congresso em Foco a partir dos gabaritos oficiais preliminares divulgados na última quarta-feira pela organizadora.
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Ou seja, as respostas das provas de Português, Conhecimentos Gerais e Inglês seguiram a mesma ordem no gabarito. Na prática, o candidato que tivesse acesso antecipado à ordem das respostas garantiria 40 das 70 questões para os postos que exigiam nível médio e metade dos 80 pontos das provas que pediam formação superior completa.
Menor custo
Na verdade, a FGV imprimiu só um tipo de prova, em quatro cores diferentes, para cada cargo de analista em Taquigrafia, Biblioteconomia, Administração, Contabilidade, todas as áreas da Medicina e da Engenharia, Nutrição, Fisioterapia, Psicologia, Comunicação Social e Redação e Revisão. Assim, eles foram avaliados com um só tipo de prova dessas matérias, sem qualquer diferença na ordem de perguntas. Para acertarem as questões, todos os concorrentes para os cargos citados deveriam responder às perguntas de Português começando com a sequência de alternativas “C, E, B e D” (veja a imagem abaixo), de Conhecimentos Gerais com “D, E, C e D” e Inglês, “D, C, B e E”. Com a mesma estratégia, foram aplicadas as provas de técnico nas áreas de Enfermagem, Odontologia, Eletrônica e Telecomunicações e Processo Industrial Gráfico.
A constatação dessa “coincidência” mostra que a organizadora reduziu os custos na montagem e impressão dos exames ao produzir só um caderno de questões com quatro cores diferentes e mudando apenas as 40 perguntas sobre conhecimentos específicos. Segundo os especialistas, não há nenhuma obrigação de a banca oferecer opções de provas para um mesmo posto, porém, quando isso ocorre, é esperado que as perguntas sejam embaralhadas para resultarem em uma ordem diferente quando impressas no caderno de prova. A prática é usada para aumentar a segurança e evitar tentativas de fraudes.
Ao escolher alterar só a cor dentro de um mesmo cargo e, ainda, manter as avaliações de Português, Conhecimentos Gerais e Inglês na mesma sequência para praticamente todos os candidatos a analista, a FGV assumiu o risco de tornar o processo seletivo mais frágil e vulnerável a tentativas de fraudes.
Exceção
Para avaliar os inscritos para analista nas áreas de Processo Legislativo, Assistência Social, Arquivologia e Arquitetura; e técnicos em Arquivologia, Administração e Processo Legislativo, a estratégia foi diferentes. Os quatro tipos de provas eram diferente entre si. Entretanto, o tipo 1 de cada cargo seguiu a regra anterior, ou seja, as questões das disciplinas não específicas foram “clonadas”, e os cadernos tipos 2, 3 e 4 foram montados como tradicionalmente ocorre com provas em concursos.
Até agora, só os concorrentes a policial legislativo se mantêm sem qualquer reclamação ou denúncia. Também só para esta função foram entregues quatro tipos de provas diferentes. No próprio dia do concurso, foi necessário cancelar os exames para Enfermagem e Tecnologia da Informação. As novas avaliações foram marcadas para 15 de abril (confira nota completa aqui).
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