Diego Moraes |
O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), confirmou que avisara ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a existência do suposto pagamento de mesadas a parlamentares, o mensalão, 15 meses antes de o caso vir à tona, em junho deste ano. Em ofício encaminhado ontem ao Conselho de Ética da Câmara, Perillo revela que fez o alerta no dia 5 de março de 2004, quando Lula foi à cerimônia de inauguração da fábrica da Perdigão em Rio Verde (GO). A afirmação levanta mais suspeitas sobre o envolvimento do governo no escândalo do mensalão. O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) havia dito, também ao Conselho de Ética, que foi o primeiro a levar o caso ao presidente, no início deste ano. Ao que parece, Lula deu mais ouvidos ao petebista. Depois de avisado por Jefferson, o presidente teria mandado cortar o pagamento das mesadas, segundo a versão do próprio parlamentar. Publicidade
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No documento, Perillo afirma que relatou ao presidente ter ouvido “rumores sobre a existência mesadas a parlamentares em Brasília”, embora não possuísse provas. O governador confirma também que dois funcionários da Presidência da República, o motorista e um segurança que acompanhavam Lula, testemunharam a conversa. “Não sei quais foram as providências tomadas”, declara o tucano. Perillo diz, no ofício, que narrou ao presidente uma conversa com a então deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO), hoje secretária de estado em Goiás. Nela, a parlamentar afirmou que o deputado Sandro Mabel (GO), líder do PL na Câmara, sugeriu-lhe que mudasse de partido. Em troca, levaria uma mesada de R$ 30 mil, além de um bônus de R$ 1 milhão no fim do ano. Publicidade“O Senhor Presidente da República disse que não tinha conhecimento (do pagamento de mesadas) e que ia tomar as providências que o assunto requeria”, afirma Perillo, no ofício ao qual o Congresso em Foco teve acesso. Aparentemente Lula não se moveu para acabar com o esquema. Em setembro do ano passado, seis meses após o alerta feito por Perillo, o Jornal do Brasil publicou reportagem em que o deputado e então líder do governo na Câmara, Miro Teixeira (PT-RJ), denuncia a existência de um esquema para fazer deputados votarem com o governo mediante o pagamento de mesadas. Quando o caso veio a público, Miro negou as afirmações. Contudo, o petista, pouco depois, pediu afastamento da liderança do governo. Nos bastidores, comentários sustentavam a tese de que o deputado deixara o cargo por não ter agüentado a pressão de deputados da base aliada cobrando o mensalão. A história ficou esquecida até junho deste ano, quando o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) afirmou, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, que o esquema de compra de parlamentares, já relatado pelo governador de Goiás e por Miro anteriormente, existia de fato. Depois de avisar Lula sobre o suposto mensalão, Perillo diz que não recebeu outras informações a respeito. “Certo de ter levado o assunto ao conhecimento da maior autoridade do país e, como também não tinha provas testemunhais concretas, resolvi dar por encerrado o assunto”, relata ao Conselho. As respostas de Perillo foram encaminhadas por escrito ao Conselho de Ética. Os deputados pensaram em convidá-lo para narrar o caso pessoalmente, mas o governador preferiu responder a um questionário. O mesmo método foi adotado para ouvir o ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, que ainda não enviou suas respostas à Câmara. A assessoria de imprensa do Palácio do Planalto disse que não comentaria o depoimento de Perillo. Assim que estourou o escândalo, em junho, o Planalto divulgou nota oficial, afirmando que Lula não se lembrava do relato feito pelo governador de Goiás, o que justificaria o fato de o presidente não ter tomado qualquer providência. |
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