Era por volta das 14h de quinta-feira (01) quando o deputado Hugo Leal (PSC-RJ) chegou ao Palácio do Planalto. Estavam com ele os deputados Cadoca (PSC-PE) e Felipe Pereira (PSC-RJ). A alguns metros dali, na Câmara dos Deputados, os demais parlamentares do PSC comemoravam efusivamente. Hugo Leal havia sido chamado pela presidenta Dilma Rousseff para se tornar o novo ministro do Trabalho, em substituição a Paulo Roberto dos Santos Pinto, que está interino no ministério desde a demissão de Carlos Lupi, do PDT. Cerca de uma hora depois, Hugo Leal saiu do Palácio do Planalto sem falar com Dilma e, consequentemente, sem se tornar ministro. Na sequência, a presidenta pegou o avião e rumou para São Paulo, para se encontrar pessoalmente com o ex-presidente Lula no seu apartamento em São Bernardo do Campo.
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O que fez Dilma dar um chá de cadeira em Hugo Leal, frustrar – pelo menos momentaneamente – sua expectativa de se tornar ministro, pegar um avião correndo e ir se consultar com Lula foi a iminência do que poderia ser a mais grave crise política enfrentada pela presidenta desde que tomou posse em janeiro do ano passado. Depois da surpreendente nomeação de Marcelo Crivella no Ministério da Pesca, o PMDB, principalmente, ameaçava uma rebelião que, àquela altura, poderia se estender para o PDT também e para outros aliados. Diante do risco, Lula aconselhou Dilma a adiar qualquer outra mexida ministerial até as coisas se acalmarem.
Prefeitura de São Paulo
Em torno das ações de Dilma e das reações que poderiam terminar em rebelião estão os movimentos feitos por todos os partidos em torno das eleições para a prefeitura de São Paulo. Maior cidade do país, berço do PT e do PSDB, o resultado das eleições em São Paulo será importante definidor dos rumos eleitorais do país em 2014. Daí, a sua importância.
Quando resolveu tirar o deputado Luís Sérgio (PT-RJ) do Ministério da Pesca para ali colocar Marcelo Crivella, a intenção de Dilma era fortalecer a candidatura do ex-ministro da Educação Fernando Haddad, que tentará a prefeitura paulistana pelo PT. O PRB, partido de Marcelo Crivella, tem um pré-candidato na disputa de São Paulo, que aparece bem colocado nas pesquisas, Celso Russomano. Embora ainda mantenha sua pré-candidatura, Russomano vinha, ao mesmo tempo, conversando com o pré-candidato do PMDB, o deputado Gabriel Chalita. Depois da entrada de José Serra, do PSDB, na disputa, o quadro eleitoral em São Paulo tornou-se confuso, e um eventual fortalecimento de outras candidaturas poderia até acabar por tirar Haddad do segundo turno. Daí, a estratégia de desidratar outras candidaturas dentro da base aliada para fazer com que esses partidos unam-se desde o início a Haddad.
O problema é que Dilma fez a mexida no Ministério da Pesca ignorando solenemente o PMDB, seu principal aliado na coalizão do governo. O vice-presidente Michel Temer, principal líder peemedebista, só soube da nomeação de Crivella pela televisão. E ficou imensamente irritado. Na quinta-feira, os deputados do PMDB preparavam uma carta, que pretendiam entregar a Temer para que ele a encaminhasse para Dilma, na qual o partido manifestaria claramente a sua contrariedade, acusando o PT de optar por uma estratégia hegemônica atropelando de forma truculenta os planos eleitorais de seus parceiros. Quando se preparava para receber Hugo Leal para discutir o Ministério do Trabalho, Dilma ficou sabendo da rebelião peemedebista. Naquele momento, a nova mexida iria colocar ainda mais lenha na fogueira.
Mais uma pedra contra Chalita
A escolha de Hugo Leal seria mais uma pedra contra as pretensões de Chalita e do PMDB em São Paulo. Assim como era o PRB de Crivella, o PSC é um partido aliado com cargos ministeriais, e igualmente com peso junto à bancada evangélica. Em São Paulo, o PSC já fechava um acordo para apoiar a candidatura de Chalita à prefeitura de São Paulo.
Assim, a escolha de Hugo Leal serviria para neutralizar mais um possível acordo eleitoral para fortalecer a candidatura de Chalita em São Paulo e enfraquecer a candidatura de Haddad. Assim, caso acontecesse na sequência da escolha de Crivella, a nomeação de Hugo Legal agravaria a insatisfação peemedebista.
À grita do PMDB, iria somar-se à do PDT. Depois da votação da Fundação de Previdência do Servidor Público (Funpresp), a avaliação dentro do governo é de que o PDT, pela sua insubordinação, não deveria ter mais direito ao Ministério do Trabalho. Praticamente toda a bancada do PDT, com exceção de Brizola Neto (RJ) e Marcos Medrado (BA), votou contra a Funpresp. Para completar, um dos deputados do partido, João Dado (SP), ainda resolveu entrar na Justiça contra a criação da fundação. A constatação de Dilma era de que Brizola Neto, como líder, não tinha o comando da bancada, que não tinha o menor pudor em agir de forma contrária aos interesses do governo.
Ao mesmo tempo, o PDT dava sinais de querer abandonar de vez a base do governo, ao aceitar a Secretaria do Trabalho no governo tucano de Geraldo Alckmin em São Paulo. Era, assim, consenso dentro do governo que se deveria tirar o PDT do Trabalho e entregar a pasta a outro partido. Enquanto, porém, costurava-se a solução Hugo Leal para o ministério, parte do PDT fazia gestões junto a Dilma para permanecer no ministério. Assim, havia uma chance de manter o PDT na base. Por outro lado, a decisão definitiva de retirá-lo do ministério faria com que o partido de Lupi seguisse definitivamente para a oposição.
Foi com esse quadro confuso que Dilma resolveu pedir conselhos a Lula. O ex-presidente sugeriu, então, a Dilma que deixasse as coisas como estão, esperasse a poeira baixar, reavaliasse a situação antes de tomar a decisão. Hugo Leal continua cotado para o Ministério do Trabalho, mas tudo irá depender das futuras reações e dos acertos que Dilma venha a fazer. Enquanto ela estava em São Paulo com Lula, o candidato do PSC ao Ministério do Trabalho teve reuniões em Brasília com o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), e com a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti.
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