A marcha civilizatória atravessa os séculos e é obra de muitas gerações. O desenvolvimento humano é projeto coletivo que amadurece a partir dos sonhos, do trabalho e da luta de todos. A evolução da espécie não é caminho retilíneo, passa por crises, saltos qualitativos, inovações, guerras e conflitos. O nosso tempo pessoal não se confunde com o tempo da História. É preciso humildade e inteligência para não superdimensionarmos o nosso papel na transformação da vida.
E o contínuo avanço pressupõe responsabilidade com o futuro e solidariedade intergeracional.
No Brasil diz-se que a memória é curta. Seria um sintoma de que as novas gerações valorizam pouco a experiência acumulada e transmitida pelas antigas? Mas, no sentido inverso, qual é o cuidado que estamos tendo com o horizonte futuro de nossas crianças e jovens? Qual é o legado e a herança que estamos deixando para nossos filhos e netos?Leia também
Sem o espírito presente nos versos de Lupicínio: “Esses moços, jovens moços, a se soubessem o que eu sei”, gostaria de dialogar nessas linhas principalmente com as novas gerações.
A juventude sempre teve papel central nas grandes transformações do mundo contemporâneo. A generosidade, o espírito libertário, a alma aberta para o novo, a ousadia de mudar o que parecia imutável sempre foram suas características.
Eu sei que o Brasil de 2017 não está nada fácil para nossos jovens. Não é à toa que o fluxo de brasileiros jovens para países como EUA, Portugal e Austrália está crescendo. O desemprego entre os jovens está acima de 20%. E o que fazemos? Conscientemente ou não, arquitetamos um pacto geracional perverso e irresponsável, legando para as novas gerações brasileiras um sistema previdenciário insustentável e uma dívida impagável. Estamos trocando dívida futura por consumo e despesas presentes. E não recebemos procuração deles para tal irresponsabilidade. Ou mudamos com coragem ou entregaremos um país pior que recebemos.
O Brasil precisa entrar com ousadia no novo ambiente do Século XXI. Abrir portas e janelas para a energia transformadora da juventude passar. Uma juventude que seja empreendedora e se liberte da tutela estatal. Uma juventude que transforme as redes sociais em instrumentos de inovação e solidariedade e não de intolerância e individualismo. Uma juventude que erga efetivamente padrões de desenvolvimento sustentável que gere renda e emprego sem devastar o meio ambiente.
Por último e mais importante, uma juventude radicalmente comprometida com a liberdade e a democracia. Confesso a minha tristeza ao ver jovens capturados por extremismos autoritários. Sei que a Nova República produziu a maior crise das últimas décadas. Mas não há salvação fora da democracia. Que os jovens ouçam o timoneiro da redemocratização, o Sr. Diretas, Ulysses Guimarães: “A grande força da democracia é confessar-se falível de imperfeição e impureza, o que não acontece com sistemas totalitários, que se autopromovem em perfeitos e oniscientes para que sejam irresponsáveis e onipotentes”.
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