Fernando Haddad caiu na rede, virou meme, com sua imagem associada ao aumento de impostos. Graças, sobretudo, à “taxa das blusinhas”, a tributação de compras de baixo valor de sites estrangeiros, especialmente chineses. Ministros da Fazenda não costumam ser muito populares, mas Haddad vem tendo um bom desempenho. É visto no meio político como potencial candidato a sucessor de Lula, caso o presidente desista da ideia de disputar a reeleição.
A regulamentação da reforma tributária é um assunto muito complexo para a população, mas a ideia de que o novo imposto sobre valor agregado, o IVA, pode ter uma das maiores alíquotas do mundo é um prato cheio para ser degustado pelos adversários do governo no rastro das sátiras ao ministro. Ainda que o projeto tenha recebido a maioria de votos na Câmara.
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A pesquisa Genial/Quaest, divulgada em junho, mostra que a aprovação a Lula subiu e chegou a 54% (eram 50% em março). A melhora ocorreu principalmente entre os mais pobres (até dois salários mínimos) , atingiu 60%. A percepção em relação à economia não acompanha a popularidade presidencial. Para 36%, houve piora. Apenas 28% acharam que a situação melhorou. Para 63%, houve queda no poder de compra, sensação mais forte na faixa que recebe entre dois e cinco salários mínimos (65%).
Para a maioria (63%), houve perda de poder de compra em relação há um ano, essa constatação é uniforme em todas as classes sociais ouvidas na pesquisa. As contas cotidianas subiram para 61%, e o custo dos alimentos é o grande vilão — está mais salgado para 70%. A gasolina promete dor de cabeça. O percentual dos que acham que houve queda nos preços vem caindo — de 51% em fevereiro para 44% agora. Mas o reajuste da semana passada, feito pela Petrobras, de 2,2%, deve se refletir no humor dos eleitores nas próximas sondagens.
Lula ainda tem boas razões para ficar otimista. Além da alta na popularidade, metade da população acha que a economia vai melhorar (são 52%, e eram 48% em março). A economia é o maior problema, mas, em tese, vem perdendo prioridade nas preocupações dos brasileiros. Hoje, dois em dez entrevistados fazem essa afirmação, eram três em agosto do ano passado. A inquietação cresce em relação à segurança pública. A violência subiu 9 pontos percentuais desde dezembro. Alcançou 19%. no ranking dos maiores problemas do país.
Em época de eleição, governos costumam ser culpados por todos os males. E o custo de itens essenciais provoca a sensação de pesar ainda mais no bolso. A eleição é municipal, mas, em São Paulo, Lula aposta tudo em Guilherme Boulos e entrou na campanha. Haddad é a cara da economia sob Lula (mesmo que discordem aqui e ali). A oposição está aproveitando o “Taxad”— a proliferação de memes comprova.
Pode parecer mau negócio para ele, se lembrada a experiência de Marta Suplicy na prefeitura de São Paulo, quando virou “Martaxa”. O apelido pesou na derrota à reeleição, vinte anos atrás. Ocorre que a política mudou e, hoje, não importa muito se falam bem ou mal de um candidato — importa mesmo é que falem dele. O ministro caiu na boca do povo. Deveria agradecer à “ajuda” da oposição.
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