O governo do estado do Amazonas entrou em contato com o Ministério da Saúde ainda em dezembro de 2020 solicitando mais insumos para combater o que chamou de “recrudescimento dos casos de contaminação pelo novo coronavírus”. No entanto, o pedido tornou-se prioridade da pasta apenas em janeiro o que contribuiu para instauração de uma crise sem precedentes da doença no estado, caracterizada pela proliferação de uma cepa altamente transmissível, falta de insumos básicos como oxigênio e recordes de mortes sendo batidos dia após dia.
Alguns dos ofícios encaminhado pelo secretário de Saúde, Marcellus Campello, foram disponibilizados pela CPI da Covid nesta quinta-feira (17).
Em um ofício datado do dia de natal de 2020, endereçado a Pazuello, o secretário estadual indica a alocação de 50 monitores multiparamétricos em quatro hospitais da cidade de Manaus. Uma lista encaminhada pela Secretaria aos senadores mostra que o primeiro pedido ocorreu uma semana antes, em 18 de dezembro, e era de 40 respiradores pulmonares. Em 26 de dezembro, novo ofício, solicitando 80 monitores e 50 respiradores para atender principalmente a capital amazonense, onde moram dois milhões de pessoas.
Ainda em 29 de dezembro, um novo ofício trata de contingência e de materiais para ambulatório, não ficando claro se o ofício era com pedido de itens como aspiradores, bombas de seringa e oxímetros. Em 24 de janeiro deste ano, já com a crise instalada no estado, Campello solicita 110 monitores e respiradores. Em 1º de fevereiro, data do último registro, a secretaria pede kits para mais 24 leitos adultos e 25 leitos neonatal.
Marcellus Campello esteve na última terça-feira (15) na CPI da Covid. O secretário falou que os pedidos estavam em um plano de contingência a ser adotado no estado, e que incluia um decreto para instaurar um lockdown no Amazonas como forma de diminuir o contágio pela doença. O decreto de restrição das atividades econômicas e de circulação de pessoas na cidade de Manaus e no estado era, nas palavras de Marcellus, “para dar uma trégua ao sistema de saúde e assim podermos reorganizar e preparar a quarta fase que, inclusive, previa – que previa – a instalação de hospital de campanha ou enfermaria de campanha na área externa do Hospital Delphina Aziz.”
O lockdown chegou a ser assinado pelo governador Wilson Lima (PSC), como recordou o secretário. “Nós, a partir daí, não tivemos êxito nesse decreto, que chegou a ser publicado, mas muitas manifestações, inclusive com violência, com barricadas, com a interrupção do direito de ir e vir da população o que obrigou o Governo a flexibilizar o decreto”. Já naquela época, se sabia que parlamentares ligados ao bolsonarismo – incluindo o filho do presidente e deputado federal Eduardo Bolsonaro – apoiaram manifestações pela derrubada o decreto, o que agravou as infecções no estado.
O governo do Amazonas indicou que, de todos os ofícios, apenas dois tiveram resposta do Ministério da Saúde: o pedido feito no natal foi respondido por meio de um parecer da pasta, datado de 19 de janeiro, 25 dias depois. O texto limita-se a informar que o MS já tinha distribuído 392 respiradores (sendo 90 entregues em dezembro) e repassado valores ao estado. Uma nota fiscal apresentada pela Secretaria mostra que o Ministério enviou 50 respiradores, apenas em 30 de dezembro.
Veja a íntegra dos documentos levados à CPI:
Quando foi chamado a depor na CPI da Covid entre 19 e 20 de maio, Eduardo Pazuello deu uma nova versão aos fatos: ele alegou que passou a acompanhar o caso do Amazonas de maneira preventiva.
“Ainda no final de dezembro, antecipando-me aos fatos do Estado do Amazonas, tomei a decisão de destacar uma equipe do Ministério da Saúde para avaliar in loco a realidade da situação e propor medidas de apoio”, disse o ex-ministro em seu discurso de abertura na corte. “Mesmo antes de conhecermos a profundidade plena dos fatos, decidi deslocar imediatamente o gabinete do Ministro, juntamente com todos os secretários nacionais de saúde, para Manaus e de lá prestarmos todo o apoio possível ao Governo do Estado e ao Município.”
A ação do Ministério da Saúde gerou críticas sobre a crise no estado por parte dos senadores amazonenses – dois dos três senadores amazonenses integram a CPI. “Está claro que nós identificamos essa fragilidade à época, fizemos o que deveríamos fazer como representantes do povo do Amazonas. Pedimos e assumimos perante a opinião pública e perante a Nação a responsabilidade do pedido”, disse Eduardo Braga (MDB-AM), em uma fala já no segundo dia do depoimento de Eduardo Pazuello. “Nós pedimos intervenção na saúde pública do Amazonas para salvar vidas. O Governo não quis fazê-lo.”
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