Ao lado das palavras “pandemia”, “covid”, “coronavírus”, “crise” e “morte”, outro termo ganha o noticiário e as análises político-sociais do atual momento: desorientação.
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Nada mais natural. Só quem atravessou há tempos a barreira centenária da idade viu algo minimamente parecido. Mas quem viu a pandemia de 1918 (mal batizada de “gripe espanhola”) o fez praticamente pela experiência concreta. Não havia telas ou janelas mostrando o caos sanitário e social como agora.
Um século depois, ampliou-se exponencialmente, tal como a curva brasileira de casos, a visibilidade sobre as pandemias. A atual, provocada pelo vírus Sars-CoV-2, vem sendo desnudada em suas múltiplas camadas: sanitária, social, política, econômica, psíquica, e quantas mais se possam detectar em tempos de comunicação multiplataforma.
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Ainda assim, ou talvez por causa disso, em vários momentos sentimo-nos desorientados. E não apenas pela abissal incompetência e descoordenação do governo Bolsonaro na precária (para não dizer inexistente) gestão da crise. Também pelo ineditismo do que estamos vivendo, conjuntura em que prevalecem as incertezas. Ou deveriam prevalecer, não fosse a existência dos fundamentalistas, como os que duvidam da doença, mas não da cloroquina para a cura da “doença que não existe”(?!).
Para nosso bem, e também como resultado do amplo desenvolvimento dos meios e redes de comunicação, tanto quanto dúvidas e incertezas, multiplicam-se na rede conteúdos que ousam dar-nos algum norte. Se não para o desembarque na margem de lá, pelo menos para a dura travessia até algum ponto possível.
“Crônica para um futuro imaginado” é um desses roteiros. Produzida pela TV Assembleia de Minas Gerais (e viva a TV pública!), a série é um painel de vozes, composto por pensadores, filósofos, acadêmicos e outros atores sociais. Mulheres e homens que traçam um panorama sobre o que nos trouxe até aqui, e, claro, sobre que mundo e que sociedades devem surgir não ao fim, mas em razão e no decorrer deste cenário pandêmico (ora, reflexões e mudanças sobre as nossas sociabilidades se mostram urgentes para o hoje, e não para “quando tudo isso passar”).
Pois como bem pontua uma dessas vozes ouvidas na série, a da economista Monica de Bolle, “os desafios ficaram, de uma hora para outra, urgentes”. Ela lembra ainda que “pandemias sempre marcaram um ponto de inflexão relevante”, e nota “como essa pandemia torna visível o sofrimento dos outros”.
E o futuro? Como será? A série aponta diversas possibilidades. Pinço aquela levantada pelo professor de filosofia Vladimir Safatle, que faz jus ao tórrido e tensionado momento político e social mundo afora: “vai ser um futuro de lutas profundas”.
Veja os episódios já disponíveis:
- Francisco Razzo, professor
- Monica de Bolle, economista
- Flavio Comim, professor
- Vladimir Safatle, professor
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