Luis Vieira *
A ordem veio do Planalto – segurança máxima nas ruas – mas as ordens do Planalto não se limitam às previsíveis ações institucionais, elas são acompanhadas por um coro de contentes, o que dá mais legitimidade ao arbítrio. Por décadas, o Partido dos Trabalhadores incentivou a criação e a ação de organizações sociais com temáticas diferentes – terra, habitação, aborto, gênero, etc.
Diante da calamidade social que é o Brasil elas prosperaram e se multiplicaram, inclusive em campos concorrentes da esquerda. Quando não estava no poder era fácil apoiar invasões, bloqueios, ocupações e outros escrachos. Mas agora é diferente, às portas de uma Copa do Mundo, em um ano de eleições presidenciais, o Planalto descobriu que é preciso ordem para o sucesso, não necessariamente o progresso.
E assim, com a Lei da Copa em uma das mãos e as Forças Armadas na outra, convoca a militância a bradar aos quatro cantos que se faça silêncio. Nesse contexto ordeiro brotam apoios mais ou menos organizados, mais ou menos inocentes, mais ou menos úteis, como é o caso de um manifesto oriundo da academia, supostamente organizado por Simon Schwartzman & friends e intitulado “Pelo Direito de Manifestação, Pelo Direito de Ir e Vir”. Após lê-lo, concluí que não é por uma coisa, nem pela outra, mas pela ordem, simplesmente pela ordem.
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Há uma única frase dedicada à liberdade de expressão, ao final do texto, que não é exatamente uma defesa, mas uma ressalva – O direito de manifestação, assim como o de greve, precisam ser preservados e mantidos dentro de seus limites legais. Talvez por receio da carapuça de autoritarismo, enxertaram o slogan. Por outro lado, atribuir às manifestações a culpa pelos engarrafamentos e dificuldades de locomoção é um viés difícil de se sustentar qualquer que seja a abordagem.
Todos os dias a maior parte da população sofre apinhada em trens, ônibus e metrôs. Se uma carrocinha de pipoca quebrar a roda vamos ter quilômetros de retenção aonde quer que se tenha dado o acidente. Ao invés de invocar as forças de segurança para controlar manifestantes, invoque-se mais gente nas ruas, para que elas parem de vez e o país faça seu ajuste de contas.
Agora que não há mais o que roubar, convocar a população para assistir quietinha aos jogos da Copa pela TV é tudo o que a academia não deveria pedir, esse manifesto não me representa, nem representa os milhares de estudantes, professores e funcionários que estão longe das benesses desse regime que compra consciências no atacado e no varejo.
* Professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com interesses em geoestatística, mineração de dados e ensino a distância. Webmaster do Blog Observatório da Universidade.
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