Desde a quinta-feira (1), quando o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), tornou público o fato de ser gay ele tem sido alvo de elogios, por ser o primeiro chefe de estado a declarar sua homossexualidade, mas também de críticas. Políticos e lideranças LGBTI+, apesar de reconhecerem o gesto como importante do ponto de vista da representatividade, apontam para uma possível tentativa de criar um fato que lhe assegure dividendos eleitorais.
A revelação de Leite foi dada em entrevista ao programa “Conversa com o Bial” da Rede Globo, quando o tucano também confirmou que pretende disputar com o governador de São Paulo, João Doria, a pré-candidatura do partido à presidência da República. Outro ponto presente nas críticas e questionamentos está o fato de Leite ter apoiado a candidatura do presidente Jair Bolsonaro em 2018. Bolsonaro coleciona falas homofóbicas públicas desde, quando ainda era deputado federal. Doria também apoiou Bolsonaro, quando chegou a propagar a hastag #bolsodoria nas redes. Ambos tucanos deixaram o palanque bolsonarista desde o ano passado.
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A Aliança Nacional LGBTI+ indica que o Brasil tem 104 políticos LGBTI+ eleitos para cargos do executivo e legislativo local ou nacional. O presidente da Aliança, Toni Reis, enxerga a declaração de Leite como importante. “Pessoalmente, a minha ideologia política é mais à esquerda, mas como LGBT, eu vi muita representatividade em mostrar para o mundo que uma pessoa, mesmo sendo gay, pode chegar a um cargo alto no país, como governador, ou concorrer à presidência”.
Ele destaca, ainda, o peso disso vindo do gestor de “um dos estados mais conservadores do país no aspecto político” e discorda da hipótese de ter sido uma “jogada eleitoral”. Reconhece, no entanto, que houve um “cálculo”. “Creio que teve um cálculo ali de falar, porque ele já estava sendo atacado por alguns setores da sociedade pela sua sexualidade. Ele sabia o que estava fazendo e claro que pode sofrer ataques homofóbicos, mas qualquer um irá defendê-lo”, disse.
Já o deputado federal David Miranda (PSOL-RJ), um dos poucos parlamentares publicamente homossexuais, disse, ao Congresso em Foco, que a “representatividade” em se ter um governador LGBTI+ “só é importante se ele lutar por essa causa”. “O Eduardo [Leite] sair do armário e expor sua sexualidade, e não fazer nada para a população LGBTI+ enquanto é governador é uma representatividade, mas é uma representatividade nula”, argumentou o deputado. “É importante ele se assumir, mas me parece que pode ser também uma estratégia para a corrida que estará fazendo contra o [João] Doria em breve”.
David Miranda também acredita que a declaração de homossexualidade pode fortalecer Eduardo Leite, inclusive, em uma possível candidatura à presidência dentro da chamada “terceira via”.
“Hoje em dia é muito mais aceitável publicamente [ser gay], principalmente com a grande mídia apoiando os LGBTIs. Por isso sai matéria sobre ele em tudo quanto é portal, o que coloca ele em uma certa diferenciação com o Doria nesse momento. Pode dar vantagem para ele ser o candidato a presidente do PSDB porque vai puxar uma galera mais progressista”, afirmou Miranda, que também faz críticas à forma como a grande mídia tem noticiado o anúncio do governador.
Sobre Leite ter votado no presidente Bolsonaro, Miranda reconheceu que não seria o maior dos problemas pois “muitos se arrependeram hoje em dia e assumem o erro”. Porém, observou um alinhamento do governador a uma política liberal semelhante à conduzida pelo ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, o que afasta Eduardo Leite de, mesmo assumidamente gay, se aproximar de setores LGBTQ+ que estão na base da pirâmide social.
Pelas redes sociais, o ex-deputado federal Jean Wyllys (PT) também se pronunciou e fez críticas à repercussão dada ao anúncio de Eduardo Leite. “Coragem grande teria o “governador gay” se tivesse se assumido e se colocado ao lado de LGBTQ no momento em que seu aliado Bolsonaro disseminava mentiras como “kit gay” e “mamadeira de piroca” que objetivam nos associar à pedofilia. Naquele momento o governador era cúmplice”, escreveu.
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