O documentário Sementes – mulheres pretas no poder estreia às 19h desta segunda-feira (7). A obra é dirigida por Éthel Oliveira e Júlia Mariano, que participarão de um debate, no canal acima, pouco antes do lançamento do filme. O documentário conta a história de mulheres negras que disputaram as eleições de 2018, numa espécie de resposta à execução de Marielle Franco (Psol-RJ), vereadora assassinada em março daquele mesmo ano durante o exercício do mandato.
Entre as mulheres retratadas pelo filme estão as deputadas federais Talíria Petrone (Psol-RJ) e Áurea Carolina (Psol-MG) e as deputadas estaduais Renata Souza (Psol-RJ), Mônica Francisco (Psol-RJ) e Dani Monteiro (Psol-RJ). As três últimas trabalhavam no gabinete de Marielle.
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A palavra “sementes” do título tem a ver com o fato de tantas mulheres terem dado continuidade ao trabalho de Marielle em prol da justiça social e dos direitos humanos. A obra também se distingue por ser produto de uma equipe em que mulheres também negras tiveram a oportunidade de mostrar os fatos conforme sua perspectiva – coisa rara no cinema brasileiro.
Eis como o filme é apresentado por suas criadoras:
Publicidade“O filme acompanha, escuta e revela quem são algumas das mulheres pretas na política do Brasil, que emergiram após o brutal assassinato de Marielle Franco. Em um país com a menor representação parlamentar feminina na América do Sul e com menos de 10% de cadeiras, existentes na Câmara dos Deputados, ocupadas por mulheres – responder politicamente ao assassinato de Marielle Franco significou candidatar-se a cargos de deputadas federal e estadual nas eleições de 2018, disputar o espaço da política institucional do qual Marielle foi brutalmente arrancada.
No Rio de Janeiro em 14/03/2018, a vereadora Marielle Franco é brutalmente executada. Tristeza e indignação inundam os dias posteriores ao assassinato. Milhões de brasileiros saem às ruas, em todo país e no resto do mundo, para cobrar justiça e uma resposta que até hoje não temos: quem mandou matar Marielle Franco?
A tentativa de silenciamento da vereadora se transformou em força e luta. Marielle era semente. Seus assassinos não imaginavam que seu legado se multiplicaria em novas forças políticas femininas, em sua maioria de mulheres pretas e periféricas como ela, que vieram em forma de organização política e anunciaram suas candidaturas aos carogs de deputada federal e estadual nas eleições de 2019. Houve um aumento de 93% em candidaturas autodeclaradas pretas em 2018.
Sementes: mulheres pretas no poder foi rodado no Rio de Janeiro, durante o primeiro turno das eleições de 2018, acompanhando seis candidatas: Mônica Francisco, Renata Souza, Talíria Petrone, Rose Cipriano, Tainá de Paula e Jaqueline Gomes. Mostra como é o processo de construção dessas mulheres como figuras políticas, como elas driblam as dificuldades financeiras e trazem de volta às urnas eleitores desacreditados, que haviam desistido de votar.
O longa foi feito com baixo orçamento, e sempre teve uma equipe majoritariamente feminina e com paridade entre mulheres brancas e pretas. Sua equipe técnica é formada por mulheres pretas na direção, roteiro, direção de fotografia e trilha sonora, o que garantiu a elas estar em posições de chefia e, mais que nada, que o olhar do filme fosse pelas perspectivas diversas dessas mulheres pretas, assim como as retratadas em frente às câmeras.
Sementes: mulheres pretas no poder é o primeiro longa da co-diretora Éthel Oliveira, da fotógrafa Marina Alves e da roteirista Lumena Aleluia. Uma escolha da produtora executiva e co-diretora Júlia Mariano, que coloca em perspectiva o próprio cinema brasileiro e toda a produção de memória e história que vem com ele. Um cinema fundado no fazer de pessoas brancas, que desconsidera outras perspectivas e olhares de mundo. Esse mono-olhar branco, que constrói nosso imaginário coletivo, é redutor e empobrecedor. Mas para além disso, é também constitutivo do racismo estrutural brasileiro. É só se perguntar como o corpo feminino negro é trabalhado no cinema nacional – para se ter o tamanho do problema.
Sementes: mulheres pretas no poder nasce do desejo de contar como a barbárie da morte de Marielle Franco se transformou no maior levante político conduzido por mulheres negras que este país já viu. Nasce também com o objetivo de quebrar, de certa forma, essa cultura no audiovisual e mostrar uma história sobre lideranças negras, contada por profissionais negras.”
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