Paloma Gomes*
Dormir com a confissão de Rodrigo Janot e acordar com a nota do ministro Gilmar Mendes, foi para muitos, assim como para mim, a certeza de que a política no Brasil supera qualquer abstração dos melhores roteiristas cinematográficos.
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Um elemento que poderia ser relegado a segundo plano, entretanto, nos revela as nuances de um machismo que permeia não apenas a nossa sociedade, mas as entranhas do nosso Sistema de Justiça.
É a defesa da honra de uma mulher, na condição de filha, que justificaria o assassinato e o suicídio diante dos olhos de todas as brasileiras e brasileiros no plenário do Supremo Tribunal Federal.
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O argumento, covarde, materializa o que ocorre cotidianamente em nossas casas e comunidades: a violência decorrente do machismo. O homem, sob o escopo de defender essa mulher, que se deduz, não ter condições de se defender sozinha ou que depende de um homem para defender a si, se sente no direito de cometer diversas atrocidades.
Se a honra da mulher, neste caso, se tornou a causa de legitimidade para o homem cogitar a prática de um crime, o corpo dessa mulher também é entendido como propriedade ou objeto de direitos dos homens. Os crimes decorrentes dessa apropriação da defesa dos direitos das mulheres muitas vezes se volta contra ela e contra as pessoas por quem nutre afetos.
O crime desejado não ocorreu por intervenção divina, como diz o ex-procurador-geral da República. Mas a coragem de verbalizar e sugerir à todos nós como seria essa cena, é estarrecedora.
É preciso levar muito à sério a confissão, pois um crime foi premeditado por um dos homens que ocupou um dos cargos de maior relevância no Brasil, e que, seria cometido no local de maior representatividade de acesso à Justiça.
O cometimento de crimes por autoridades brasileiras tem sido uma triste tônica em nosso país.
Discursos misóginos do Presidente da República promovem difusão e incentivo à posse de arma e a tentativa de frustrar instrumentos que visem combater o abuso de autoridade.
Se as vísceras do machismo estão tão expostas em nossas instituições, sorte que pela “mão de Deus”, no caso do Janot, se trata apenas de sentido figurado. O que restará para as mulheres brasileiras vítimas dessa violência?
*Paloma Gomes é advogada atuante em casos de Direito de Família e Direitos Humanos e comanda o escritório Paloma Gomes Advocacia no Distrito Federal.
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O Janot não matou ninguém, nem tentou matar!
A nobre advogada até começou bem, mas ao incluir no texto o seguinte parágrafo,
“Discursos misóginos do Presidente da República promovem difusão e incentivo à posse de arma e a tentativa de frustrar instrumentos que visem combater o abuso de autoridade.”,
joga todo seu texto no lixo!
Que pena que ele não concretizou o ato. Mas mais cedo ou mais tarde alguém o fará. Não só ele mas Toffili. Alexandre Moraes e Levandoski.