Eduardo Militão, de São Paulo
O publicitário aposentado Ricardo Rocha Aguieiras mora em um prédio simples de Santa Cecília, bairro de São Paulo. No apartamento 30 do edifício azul claro, vizinho do imenso viaduto conhecido como Minhocão, bem próximo à sede do Procon de São Paulo, onde hoje há mais de 1.800 reclamações contra o banco BMG, sendo 35% por empréstimo consignado.
Aguieiras é um dos milhares de aposentados que, logo no início da novidade do crédito com desconto em folha, se aventurou na empreitada. Ex-funcionário da empresa telefônica BCP, hoje Claro, ele aproveitou o ano de 2004 e se endividou. ?O BMG entrou de peso porque o Lula liberou o consignado. Eu fiz vários empréstimos. Esgotei toda a minha margem?, contou o aposentado ao Congresso em Foco.
Ele reclama que, quando quis quitar todos os empréstimos para se livrar da dívida, o BMG ficava enrolando e não permitia que ele encerrasse a relação com o banco. ?Exigem o RG, o CPF, comprovante de residência, puxam o extrato de seu benefício, fazem com que você assine uma carta pedindo essa quitação?, diz Aguieiras. Para o publicitário, o objetivo era fazer a pessoa desistir da quitação da dívida. Hoje, pelas novas regras, os boletos têm que ser dados aos aposentados em 48 horas. Aguieiras diz que tempos depois conseguiu resolver seu problema.
Fraude
Aguieiras não foi o único aposentado a sofrer com os consignados. Relatório produzido pelo Ministério Público de São Paulo e pelo Procon mostra dezenas de problemas no início da operação do mercado do crédito com desconto em folha para idosos. BMG e Cruzeiro do Sul lideravam a lista de queixas. Até hoje, o BMG ainda é um dos campeões em reclamações.
O documento obtido pelo Congresso em Foco é datado de 1º de agosto de 2006 e mostra pelo que passaram os aposentados no início da operação do mercado do empréstimo com desconto em folha.
A senhora Luísa de Araújo, moradora da Cohab Padre Anchieta, na capital, contratou um empréstimo na financeira Crefisa. Entretanto, o contracheque de seu benefício passou a ter descontos de outros dois empréstimos, ambos do BMG. O caso é classificado pelo documento do MP e do Procon como uma das ?fraudes?.
Pensão de viúva
A senhora Maria Arci de Oliveira Soares, moradora de Itaquera, na zona Leste de São Paulo, perdeu o marido em maio de 2006. Ele tinha contraído um consignado com o BMG. À época, sua pensão de quase R$ 1.300 passou a receber descontos de R$ 242 todos os meses.
A economista do Procon Neide Ayoub explicou ao Congresso em Foco que, hoje, ficou esclarecido para os bancos que eles podem cobrar a dívida do falecido dos familiares. Mas isso não pode ser descontado no benefício. É necessária uma negociação sobre as forma de pagamento, disse. A reportagem do site não localizou as senhoras Luísa de Araújo e Maria Arci.
Normas para crédito consignado prejudicaram idosos
Junto com 34 bancos, BMG ocupa segundo lugar em juros do consignado
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