Mário Coelho
Surge uma forte evidência do envolvimento direto do governo do Distrito Federal na tentativa de grampear os deputados distritais de oposição que fazem a investigação do mensalão do governador José Roberto Arruda. O Congresso em Foco descobriu que, antes de ser lotado no gabinete do deputado Benedito Domingos (PP), Francisco do Nascimento Monteiro, o funcionário que foi preso junto com dois agentes da Polícia Civil de Goiás na semana passada monitorando deputados distritais, era nada menos que chefe da assessoria especial da Secretaria de Relações Institucionais do GDF. Ou seja: despachava de uma sala muito próxima da do próprio governador Arruda.
Uma curiosidade a mais é que a Secretaria de Relações Institucionais era a mesma antes ocupada por Durval Barbosa, o homem que instalou a atual crise de Brasília justamente por começar a grampear autoridades do governo – incluindo o próprio Arruda – e escancarar assim um imenso esquema de propina.
Novo personagem no escândalo que abalou o cenário político do Distrito Federal, Francisco do Nascimento Monteiro tem andado próximo do poder desde agosto do ano passado. Indicado por lideranças políticas do DEM em Samambaia, ele, num intervalo de seis meses, foi e voltou à Câmara Legislativa, passando pela Secretaria de Assuntos Institucionais no auge da crise do mensalão, após a saída de Durval.
A participação de Francisco mais ativamente na novela do mensalão do Arruda começou em 27 de agosto de 2009. Por meio do ato do presidente número 536/09, ele foi nomeado para assumir o cargo de segurança parlamentar no gabinete do distrital Raad Massouh (DEM). No mesmo dia, foi exonerada uma funcionária que ocupava a posição na equipe do deputado. A autorização foi assinada pelo então presidente Leonardo Prudente (na época no DEM, hoje sem partido).
Com formação em Direito, Francisco chegou a ser chamado para a segunda fase do concurso de agente penitenciário do governo de Goiás. Sua atuação, caso aprovado, seria nos presídios na região do Entorno. Porém, ele permaneceu na Câmara Legislativa. A saída de Raad, suplente, e a volta da titular do mandato, Eliana Pedrosa (DEM), não impediu que Francisco permanecesse no cargo. Eliana retornou à Câmara na semana seguinte da realização da Operação Caixa de Pandora, em 27 de novembro.
De acordo com fontes ouvidas pelo Congresso em Foco, Francisco ficou na Câmara Legislativa na ocasião com uma missão específica: monitorar os passos de Eliana. Apesar de ser uma deputada da base governista, ela nunca mereceu a confiança total de Arruda. A ida dela para a Secretaria de Desenvolvimento Social deve-se muito à desconfiança do governador nas articulações feitas por ela nos bastidores do Legislativo. No governo do ex-governador Joaquim Roriz, Eliana foi a principal responsável por derrubar o candidato do Executivo na eleição para a presidência da Câmara em 2004. Na ocasião, a candidata do governo era a deputada Eurides Brito (PMDB), mas Eliana articulou com o PT para eleger Fábio Barcellos (DEM). No lap top apreendido pelos policiais da Divisão Especial de Combate ao Crime Organizado (DECO) na última quarta-feira (3), havia um extenso relatório da movimentação de parlamentares. Como, por exemplo, reuniões e atividades exercidas por Eliana desde que a Operação Caixa de Pandora estourou.
Abrigo no GDF
Francisco não ficou muito tempo no gabinete de Eliana. Desconfiada da sua rotina, ela acabou por exonerá-lo. Sua saída foi publicada em 22 de janeiro. Francisco, porém, não ficou sem emprego. Na Câmara, recebia R$ 4,3 mil por mês, fora benefícios. No mesmo dia em que foi exonerado, saiu no Diário Oficial do DF a nomeação dele para Cargo de Natureza Especial (CNE) 7, de chefe, da assessoria especial da Secretaria de Estado de Relações Institucionais do DF. Fontes ouvidas pelo Congresso em Foco afirmam que ele tinha livre acesso à residência oficial de Águas Claras, de onde o governador não tem saído nas últimas semanas.
No entanto, Francisco não esquentou banco no governo. Na quarta-feira (3), Francisco estava de volta à Câmara Legislativa, agora lotado no gabinete de Benedito Domingos, apontado pelo ex-secretário de Relações Institucionais do GDF, Durval Barbosa, como um dos beneficiários do esquema de propinas que envolveu membros do Executivo e do Legislativo da capital do país. Bastaram, no entanto, algumas horas para que se soubesse qual era a verdadeira natureza da sua nova atividade na Câmara. Foi nesse mesmo dia que ele acabou detido juntamente com os policiais civis goianos Luís Henrique Ferreira e José Henrique Daris Cordeiro monitorando os deputados distritais. Ainda no mesmo dia, o diretor-geral da Polícia Civil, Cléber Monteiro, foi afastado do cargo por ter se recusado a acobertar o flagrante de grampo.
Após a publicação da reportagem, o site foi procurado pela assessoria de imprensa do GDF. O órgão confirmou a nomeação de Franscico, mas afirmou que ele não chegou a ser efetivado no cargo. Isso porque ele acabou tomando posse no gabinete de Benedito Domingos dias depois. Após sair o nome no Diário Oficial, o servidor tem 25 dias para tomar posse. De acordo com a assessoria, o araponga foi indicado ao GDF pelo próprio deputado do PP, dentro de sua cota de indicações.
A lista do grampo
Em depoimento, os policiais afirmaram quais eram os alvos dos grampos. Além da sala da liderança do PT, e dos gabinetes de Jaqueline Roriz (PMN), filha do ex-governador Roriz, e da ex-líder do PT Erika Kokay, também seriam grampeados pelos arapongas Eliana Pedrosa, Geraldo Naves (DEM) – o primeiro emissário do governador na tentativa de suborno ao jornalista Edmílson Edson dos Santos, o Sombra – e Raimundo Ribeiro (PSDB). De acordo com os depoimentos, a ordem veio do ex-chefe de gabinete do governador Fábio Simão.
Grampear Ribeiro causou surpresa na Câmara Legislativa. Antigo aliado do governador, o deputado trabalhou com Arruda no Senado e também no governo, sendo secretário de Justiça e Cidadania até o início de 2009. Porém, com o aumento das denúncias e o aquecimento do embate político na Câmara, observadores acreditam que Arruda pode ter considerado importante mantê-lo sob vigilância. Ribeiro tem um eleitorado ligado ao Judiciário, que poderia pressioná-lo a abandonar o governador.
Além do lap top e do aparelho de escuta ambiental, os policiais encontraram com Francisco um contrato, que especificava o valor de R$ 300 mil. Investigadores supõem que o dinheiro era para pagar a instalação dos grampos e o monitoramento dos parlamentares. Na segunda-feira (8), o novo diretor-geral da Polícia Civil, Pedro Cardoso, prometeu rigor nas investigações.
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