Mário Coelho
A sindicância instalada pela Polícia Civil de Goiás para investigar a conduta de dois agentes da corporação no episódio da instalação dos grampos na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) está no início. Porém, os delegados responsáveis pela condução do caso já projetam a necessidade de uma acareação entre dois dos principais personagens da trama de espionagem: o ex-servidor do gabinete do deputado distrital Benedito Domingos (PP) Francisco do Nascimento Monteiro e o policial civil goiano Luís Henrique Ferreira.
A necessidade de colocar os dois frente a frente surgiu após a Corregedoria da Polícia Civil goiana confrontar o depoimento dos dois. Luiz Henrique já falou oficialmente aos policiais de Goiás, dentro da sindicância aberta em 8 de fevereiro por determinação do secretário de Segurança Pública do Estado, Ernesto Roller, após saber do caso pelo Congresso em Foco. Já Francisco depôs em Brasília aos agentes da Divisão Especial de Combate ao Crime Organizado (DECO) da Polícia Civil do DF.
Em três pontos principais os dois divergem: valores, datas e, principalmente, objetivo. O policial, lotado na Delegacia Estadual de Combate ao Narcotráfico (Denarc) e especialista em contrainteligência disse que estava em Brasília para fazer um trabalho de contrainteligência. Ele disse em depoimento à Corregedoria que receberia três parcelas de R$ 100 mil para fazer uma varredura e rastrear possíveis grampos nas secretarias de governo no DF, no Centro Administrativo de Taguatinga, o Buritinga, e na residência oficial de Águas Claras.
Afirmou também que Monteiro o contratou para periciar as gravações feitas pelo ex-secretário de Relações Institucionais do DF, Durval Barbosa, que reveleram o esquema de propina conhecido como mensalão do governador José Roberto Arruda (sem partido). O dinheiro viria da Comunidade Cristã, entidade baseada na região administrativa de São Sebastião, distante 26 quilômetros do plano piloto de Brasília.
Ele foi preso, junto com o policial José Henrique Daris Cordeiro, na tarde de 3 de fevereiro por policiais militares em frente à Câmara Legislativa. A versão inicial era que os agentes da própria DECO haviam detido os dois. O site apurou que, desconfiados da movimentação dos dois na sede do Legislativo local, manifestantes favoráveis ao governador Arruda alertaram os militares. Junto com eles, foram apreendidos material de grampo, um lap top – que contém um relatório de atividades de parlamentares – e um contrato de prestação de serviço no valor de R$ 300 mil.
Câmeras de segurança
A versão de Francisco é diferente. Ele diz que contratou Luiz Henrique para instalar câmeras de segurança na sede da Comunidade Cristã. Porém, o servidor exonerado, que chegou a ser nomeado funcionário do governo do DF, sustou o cheque para o pagamento do serviço. Luiz Henrique e José Henrique, então, teriam saído de Goiânia e ido até a Câmara Legislativa para cobrar os R$ 20 mil para o serviço.
Francisco Monteiro ainda não prestou depoimento na sindicância da polícia goiana. As divergências foram descobertas pelos investigadores após a chegada do inquérito policial instaurado pela DECO em Brasília às mãos da Corregedoria de Goiás na última sexta-feira (12). O delegado Sidney Costa e Souza, corregedor da Polícia Civil do Estado, analisou o material durante o carnaval. E repassou todo o conteúdo ontem (17) para o delegado responsável por apurar o caso. “Vamos examinar todas as versões, ouvir todos os envolvidos e ver qual a participação de cada um deles no caso”, afirmou o corregedor ao Congresso em Foco.
De acordo com a investigação inicial dos policiais de Goiás, uma outra informação está prestes a ser desmontada. Os investigadores acreditam que Luiz Henrique não possui uma e nem é sócio de uma empresa de vigilância. A legislação permite que ele seja cotista, mas não único dono ou tenha a maior parte da sociedade. Para confirmar, falta ainda verificar na Junta Comercial do Estado se o policial é proprietário ou não do negócio. Porém, a tese predominante neste momento é que ele faça serviços por fora, como free lancer.
Deputados
O Congresso em Foco mostrou que a notícia da detenção dos policiais civis e do ex-servidor da Câmara Legislativa caiu como uma bomba no meio policial brasiliense. A instituição entrou em crise. O então diretor-geral da Polícia Civil do DF, Cléber Monteiro, recusou-se a encobrir o caso, já que os policiais teriam dito que estavam na sede do poder Legislativo após serem contratados por Fábio Simão, ex-chefe de gabinete de Arruda.
Além da sala da liderança do PT, e dos gabinetes de Jaqueline Roriz (PMN), filha do ex-governador Roriz, e da ex-líder do PT Erika Kokay, também seriam grampeados pelos arapongas Eliana Pedrosa, o suplente de distrital Geraldo Naves (DEM) – o primeiro emissário do governador na tentativa de suborno ao jornalista Edmílson Edson dos Santos, o Sombra e que está preso no Complexo Penitenciário da Papuda – e Raimundo Ribeiro (PSDB), aliado de longa data do governador afastado.
Por serem alvos, a Polícia Civil de Goiás também pretende convocar os deputados para depor. Isso deve acontecer em um segundo momento, após a análise completa do material enviado pela DECO e após o depoimento de Francisco Monteiro. A Corregedoria tem 30 dias, prorrogáveis por mais 60, para concluir a sindicância. Caso seja confirmado o desvio de conduta, os dois policiais ficam passíveis de punição, podendo até serem exonerados dos cargos.
“A nossa preocupação é com a instituição em primeiro lugar”, afirmou o corregedor da Polícia Civil goiana. De acordo com o delegado, a ideia é concluir esse primeiro procedimento investigatório em até 30 dias.
O site entrou em contato com o diretor da DECO, Guilherme Henrique Nogueira. Ele disse que não pode comentar nenhum aspecto do caso. Limitou-se a afirmar que “tudo está em apuração” e que a investigação não tem prazo para ser encerrada. A cada 30 dias, disse o delegado, ele terá que renovar o prazo fazendo um pedido formal à Justiça.
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