Ronaldo Brasiliense
O presidente-candidato Lula queixou-se da agressividade de seu adversário tucano Geraldo Alckmin no debate da Band. Disse que esperava uma discussão sobre programas de governo e não apenas sobre o samba de uma nota só, a corrupção em seu governo. Conversa de perdedor.
É natural que eleitor de determinado candidato ache que ele, o seu candidato, venceu o debate eleitoral. Mas o que aconteceu na noite de domingo levou-me ao debate entre Lula e Collor, na eleição de em 1989, que teve aquela tristemente famosa edição global pró-Collor. E nem precisava. Lula esteve irreconhecível. Ainda estava arrasado com o uso de sua filha Lurian no horário eleitoral pelo "caçador de marajás", numa das maiores baixarias da história eleitoral brasileira.
De tão irreconhecível, Lula não conseguiu sequer responder à acusação de que tinha um aparelho três em um caríssimo, feita por um candidato proprietário do maior grupo de comunicação da república das Alagoas. Lá como cá, Lula perdeu o debate. Desta vez para o ex-chuchu Geraldo Alckmin, talvez por soberba, excesso de otimismo ou subestimação. Aquela fama que ele mesmo, Lula, cultiva de que é muito bom de palanque, que fala a linguagem do povo e outras coisas do gênero.
Achei ótimo que a corrupção tenha sido a nota só do debate da Bandeirantes e torço para que se repita nos próximos. Será bom para a democracia brasileira e melhor ainda para o eleitor que se lave a roupa suja em público.
Que todos fiquem sabendo das privatizações do governo Fernando Henrique. E, se houve roubalheira, Lula tinha o dever de mandar a polícia investigar, possibilitar ao Ministério Público atuar e deixar à Justiça o dever de punir. É bom que se saiba também se houve compra de votos para se aprovar o projeto da reeleição no Congresso Nacional e outras denúncias engavetadas nos escaninhos do Parlamento, em CPIs que não saíram do papel.
Mas é bom que se esclareçam, também, episódios como o do valerioduto e dos 40 ladrões; o caso da propina cobrada ao bicheiro Carlos Cachoeira pelo super-assessor da Presidência Waldomiro Diniz; a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo; e, por fim, a Operação Tabajara. Nós, o povo brasileiro, gostaríamos muito de saber a origem do dinheiro, reais e dólares num total correspondente a R$ 1,75 milhão, que pagaria o fajuto dossiê Vedoin para atingir o tucanato paulista. E que se saiba disso antes da votação, no dia 29 de outubro.
O poderoso Lula perdeu o debate para o ex-chuchu Alckmin porque queria discutir propostas e fazer comparações entre o seu governo e o de FHC. Que o faça nos próximos, mas tenha a convicção de que, descartando o debate sobre a corrupção no governo FHC e também no seu, estará jogando a lama para debaixo do tapete, o que ele, Lula, repete sistematicamente que não faz.
Se o valerioduto teve origem no governo de Eduardo Azeredo (PSDB), em Minas Gerais, que Lula exiba as provas e bata até doer. Alckmin que se vire para responder. O que Lula não pode é esperar que seu oponente discuta apenas sobre os temas que lhe interessem.
Lula reconheceu para seus assessores que precisa se preparar mais para os próximos debates.
Não pode ficar lendo as perguntas rabiscadas por "luas pretas" em papeizinhos e se esquecer de olhar no olho do eleitor, que está de olho nele. O povo não é bobo.
Que aproveitem os próximos debates para discutir abertamente sobre a política de alianças. Lula pode questionar o apoio do casal Garotinho a Alckmin (Garotinho que apoiou Lula em 2002) e Alckmin pode questionar o apoio que Lula tem do honestíssimo Jader Barbalho, que esteve na base de apoio a FHC e hoje é forte candidato, com o apoio do PT, à presidência da Câmara num hipotético segundo governo de Lula.
Não vale o argumento de alguns dos atuais detentores do poder de que pode haver corrupção agora porque já havia no governo do antecessor de Lula e no império romano.
Senão chegaremos àquela situação em que o larápio, ao ser flagrado roubando, sai gritando: "Pega o ladrão! Pega o ladrão!"
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