A primeira qualidade de um bom governo é entender seu papel histórico, e isso inclui, necessariamente, não se perceber como a própria revelação da virtude e da competência. Muita gente boa fez muita coisa boa ao longo do tempo. O que existe, em cada tempo, não é fruto do acaso – alguém construiu. Mesmo governos considerados menos virtuosos e realizadores deixam heranças. É fato que nenhum governo é tão indigno a ponto de não ser capaz de qualquer ato digno. Até porque o egocentrismo de um governante não se reflete necessariamente nas ações de todos os servidores públicos – e há muita gente nos governos que compreende com clareza que seu propósito primeiro é servir o público, daí ser chamado de servidor público.
A construção e a consolidação das diversas políticas públicas, os investimentos – principalmente em obras – e a construção da infraestrutura de governo necessariamente ultrapassam o período de quatro anos. Perde para si mesmo e prejudica a sociedade o governante que de maneira irrefletida e persecutória desmonta programas, encerra atividades, paralisa obras e faz uma reposição geral de servidores perdendo informações e conhecimentos vitais para o sucesso da gestão pública. Além disso, a história sempre sinaliza com lições de erros e acertos – desprezar esse conhecimento acumulado não é de bom senso.
O messianismo em grande medida é um rompimento com o passado, na medida em que o governante entende que sua chegada ao poder é a própria revelação do bem, rompendo com todo o mal praticado anteriormente – pois para este, tudo o que veio antes era, no mínimo, irrelevante. O problema do messianismo virtuoso ocorre quando essa suposta superioridade encontra a realidade. Num caso extremo – e não tão longe da realidade – qual seria o comportamento virtuoso para um médico que, dispondo de apenas uma dose de anestesia, tem dois pacientes críticos para serem operados sob risco de morte? Decisões tão graves e não tão graves como essa são tomadas diariamente por gestores públicos.
O outro problema desse virtuosismo é que ele se torna cego a ponto de que a referência do certo e do errado passa a ser a ação do governante messiânico, e não a realidade dos fatos: não importa o que ele fizer, estará sempre certo. No exemplo citado acima, se o médico deixou um dos dois pacientes vir a óbito, ele necessariamente tomou a decisão adequada, pois o que fizer estará sempre validado por sua própria virtude.
No mundo real da gestão pública, inúmeras vezes o gestor escolhe entre o ruim e o pior, ou o péssimo e o horroroso. Não há virtuosismo que torne esse mal em bem – continuará sendo o menos ruim, sempre – e o gestor terá que carregar consigo o peso de suas decisões.
O bom governante e o bom governo olham para si mesmos conscientes dessas realidades, na expectativa de cumprir bem o seu papel, e preocupados com aquilo que deixarão de herança para o futuro. Não esquecem o passado, e não são irresponsáveis para com as gerações dos que ainda virão, dos seus próprios filhos. Não contrata de forma irresponsável, não gasta recursos de forma irresponsável, planeja o futuro.
Em grande medida, essas são marcas características do governo Rollemberg. Houve e há muita coisa boa neste governo do DF. Apresentarei mais algumas nos próximos episódios…