Marcos Magalhães*
O moderno skyline junto ao rio Pinheiros,
Algumas das mais importantes empresas com atuação no país ergueram suas sedes junto à Marginal Pinheiros, onde também se encontram casas de espetáculos e suntuosos shopping centers. Ali, assim como na sua prima Marginal Tietê, o trânsito é quase sempre bastante pesado. Carros, ônibus e caminhões disputam espaço de manhã à noite. E pequenos trens deslizam junto ao rio, entre estações futuristas. Para os que ainda têm olhos pouco acostumados a esta cena cotidiana, porém, uma pergunta parece inevitável: onde estão os pedestres?
Em um local com tamanha ocupação empresarial, era de se supor que centenas ou milhares de pessoas circulassem ao ar livre, sentassem em praças, admirassem o movimento a partir das mesas de restaurantes. Pode ser que cenas como essas existam e não tenham sido captadas pelos olhos amadores de um visitante eventual. Mas não importa: em outras cidades brasileiras também se erguem locais belos e inóspitos. O que importa é saber que nenhum outro momento pode ser mais propício do que o atual para debater quão humanas – ou desumanas – podem ser as nossas cidades.
Ao percorrer as páginas dos jornais de nossas grandes cidades, é comum encontrar notícias sobre os planos dos candidatos a prefeito para melhorar o trânsito. É verdade que já se fala até bastante da ampliação das linhas de metrô e da implantação de linhas exclusivas de ônibus, como as de Curitiba. Mas sempre persiste a tendência de se abrirem novas e mais amplas pistas para atuais e futuras avenidas. No caso de São Paulo, por exemplo, já foram divulgadas promessas de novas pistas para as marginais.
Os motoristas provavelmente agradecerão. Eles poderão perder menos minutos de seus dias no percurso entre a casa e o trabalho. Os engarrafamentos poderão ser um pouco menores do que os atuais. Não seria o caso, porém, de se conjugarem soluções para o trânsito e projetos que tornem a cidade um pouco mais humana? Às vésperas de eleições, interessariam ao eleitor apenas promessas de uma vida melhor para os motoristas?
Já que a Marginal Pinheiros ingressa pouco a pouco na lista dos cartões postais brasileiros, ela poderia ser tomada como exemplo de um debate de alcance mais amplo: a vida nas grandes cidades pode ser mais agradável? Imaginem-se, por exemplo, os espaços junto ao rio Pinheiros repletos de quadras de esportes, ciclovias, calçadas, anfiteatros, quiosques de alimentação, praças e gente, bastante gente. A despoluição do rio cabe no mesmo sonho. Assim como barcos navegando em suas águas e levando turistas para conhecer a maior cidade brasileira, a exemplo do que ocorre em diversas capitais européias.
Idéias assim poderiam se espalhar pelo Brasil. Ninguém discute a importância das soluções para o trânsito nas grandes cidades do país. É óbvia, igualmente, a prioridade a projetos nas áreas de educação e saúde públicas. Talvez seja o momento, no entanto, de se pensar um pouco no prazer de viver em nossas cidades. Aquele prazer de caminhar, de encontrar outras pessoas, de praticar um esporte ou até de não fazer nada. Tudo isso requer segurança, é verdade. Mas não requer muito dinheiro. As eleições podem ser o momento de desenhar cenários diferentes para as cidades onde vivem milhões de brasileiros.
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