Marcos Magalhães*
Que tal uma redução em 80% das emissões de gás carbônico dos Estados Unidos até 2050? Depois de sete anos da política isolacionista adotada pelo presidente George Bush, que até hoje se recusa a ratificar o Protocolo de Kyoto, a proposta soa ligeiramente marciana. Mas está lá na página oficial na internet do pré-candidato Barack Obama, que disputa com Hillary Clinton a possibilidade de tornar-se candidato do Partido Democrata ao cargo mais importante do planeta.
Obama pretende ainda, segundo o site de sua campanha, dar início a um programa de investimento de US$ 150 bilhões em energias limpas ao longo de dez anos, além de apoiar campanhas destinadas a reduzir em 35% o consumo de petróleo e ampliar a eficiência energética – ou seja, obter mais resultados com menos recursos – até 2030. Na política externa, promete dar início imediato à retirada das tropas norte-americanas do Iraque.
Todas essas propostas, embora apresentadas de forma geral à sociedade norte-americana como um todo, têm um alvo especial: o público jovem dos Estados Unidos, que se sente desmotivado diante da falta de alternativas oferecidas nos últimos anos pelos principais partidos políticos do país.
Ainda existe uma longa estrada pela frente para que Obama obtenha – ou não – a vaga de candidato democrata à presidência dos Estados Unidos. Ele começou bem nas eleições primárias. Mas conta com uma adversária de peso como Hillary, que tem no marido Bill – um ex-presidente cada vez mais popular – o seu mais influente cabo eleitoral. Mesmo que Obama perca a corrida pela indicação, ainda assim terá apresentado como grande contribuição o impulso à renovação da cena política americana.
A política e os políticos andam meio por baixo em várias partes do mundo. Nos últimos anos, há poucos exemplos de renovação. Nos anos 90, ainda brilhou o carisma de um líder como Tony Blair, que renovou o trabalhismo britânico. Mais recentemente, José Luiz Zapatero também atualizou o mapa político da Espanha. Na Austrália, o novo primeiro-ministro trabalhista, Kevin Rudd, rompeu o alinhamento de seu país com Bush e ratificou o Protocolo de Kyoto logo no início de seu mandato, em dezembro de 2007.
PublicidadeDeixando de lado esses casos, porém, o quadro mais amplo da política mundial demonstra uma longa ausência de renovação. Ou poderia ser considerado inovador o presidente russo Vladimir Putin, herdeiro do autoritarismo soviético, escolhido personalidade do ano pela revista Time? Seria promissora a eleição de Nicolas Sarkozy para a presidência da França? Há poucos meses no cargo, o novo primeiro-ministro britânico Gordon Brown já recebe duras críticas da oposição e da própria base governista. E abre caminho para uma possível volta ao poder dos conservadores, nas próximas eleições gerais.
A América Latina tem visto o surgimento de fortes líderes carismáticos. Os presidentes da Venezuela e da Bolívia, Hugo Chávez e Evo Morales, são até mesmo relativamente jovens. Mas seriam as suas idéias renovadoras das práticas políticas do continente? Serão eles capazes, com seu estilo l’État c’est moi, de pavimentar um caminho para a modernidade e o desenvolvimento?
No Brasil, os muitos simpatizantes do presidente Lula poderão argumentar – com alguma razão – que ele mudou o quadro político com a sua eleição. Mas isso aconteceu há quase seis anos. Para 2010, não há até o momento, nem no governo nem na oposição, nenhum candidato que indique um sinal mais definitivo de renovação na política brasileira.
Os defeitos de Obama com certeza aparecerão nas páginas de jornais de todo o mundo ao longo dos próximos meses. É bom que seja assim. Ninguém está em busca de salvadores da pátria, ou de figuras emblemáticas que apresentem soluções rápidas e fáceis para os problemas da humanidade. Até porque não existem soluções rápidas e fáceis. E porque quase ninguém mais está disposto a seguir incondicionalmente grandes caudilhos. O sopro de renovação que ele representa, contudo, é bem-vindo.
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