Errante por vocação, Bezerra nasceu em Brasília em 1968. Amante de praia e sol, contou com a generosidade de uma tia de segundo grau – que o abrigou no Rio – para lá se formar em Jornalismo. Na PUC. Jamais exerceu a profissão. Anos depois, concluiu um mestrado em Comunicações na Universidade de Westminster, em Londres.
Não deu continuidade à vida acadêmica. Chegou a preparar boa parte de sua tese de doutorado, a ser defendida na mesma instituição, mas largou tudo ao constatar que o esforço seria inútil. “Eu meteria mais um título no currículo sem acrescentar nada de significativo ao precário conhecimento que se tem sobre as coisas do mundo”, filosofa.
Ele exigiu que publicássemos o perfil abaixo para aceitar o convite de escrever no Congresso em Foco. Meio envergonhados, topamos. Aí vai um pouco de Bezerra por ele mesmo.
Nome: Carlos Antônio Bezerra Couto
Estado civil: Casado com Isabela, professora e a pessoa mais linda que já conheci, e pai de Breno (9) e Bruna (6). Sou careta pra caramba e vocês vão odiar que eu diga isto, mas não consigo me conter – são as três pessoas que mais amo.
Origem social: Classe média. Meus pais, hoje aposentados, sempre trabalharam como funcionários públicos. Os dois têm curso superior. Tive comida em casa todo dia, boa educação e, desde a adolescência, dinheiro para passar as férias no litoral.
Perfil profissional: Estudei imaginando que poderia me tornar um intelectual. Por isso, escolhi o curso de Jornalismo. Queria ser especialista em tudo, e optei pelo modo mais fácil de ter um conhecimento abrangente no escopo e raso na profundidade. Nunca perdi a vontade de lutar contra minha própria ignorância. Mas, ainda na faculdade, percebi que jamais teria a vida estilo easy rider dos meus sonhos adolescentes trancado numa redação ou numa universidade. Comecei como corretor de imóveis aos 18. Com o tempo, peguei experiência e passei a fechar negócios maiores. Foi assim que me tornei um privilegiado, em termos financeiros, pelo menos para os padrões brasileiros. Quando Lula ganhou a eleição, os gringos estavam tão doidos que passaram a me pagar para falar de política e imprensa. Vai ver, foi por causa do meu inglês. Desde dezembro de 2002, sou mais chique que as dicas de Gloria Kalil: passei a andar com cartão de “consultor”. Nas horas vagas, vendo um imóvel ou outro. Sei lá se acaba de repente essa boa vida de ganhar pra bater papo com diplomatas de outros países…
O grande problema do Brasil: A idéia de que é preciso passar a perna nos outros para se dar bem. Claro que já enganei uns otários, até por sobrevivência profissional, mas isso não me impede de achar esse comportamento errado. Somos a república da traição. Alegres, criativos, habilidosos em quase tudo, mas profundamente malandros. Não é à toa que o antropólogo Roberto da Matta vem em primeiro lugar na minha lista pessoal de intelectuais brasileiros favoritos.
Maior sonho: Me perguntassem isso até uns cinco anos atrás, eu responderia serenamente que seria conquistar alguma mulher por quem eu tinha ficado enfeitiçado três dias antes. Hoje, o meu maior sonho é a recuperação da cidade do Rio de Janeiro. O lugar mais lindo do mundo está bem para lá do “purgatório da beleza e do caos” cantado por Fernanda Abreu. Virou um inferno, um terrível baixo astral de violência, grosseria e pobreza. Queria que o Rio voltasse a ser um lugar bacana porque meu sonho é morar lá, nesse Rio que precisa voltar a existir.
Cinco idéias para mudar o Brasil: 1) Acabar com o Senado, um sorvedouro de dinheiro público que pode ser eliminado por meio da implantação do Parlamento unicameral; 2) Proibir a circulação em áreas urbanas dos altamente poluentes, visualmente ridículos e potencialmente assassinos veículos a diesel; 3) Reduzir a carga tributária sobre os assalariados e as empresas e passar a botar na cadeia os sonegadores; 4) Mobilizar todo o país em torno de um conjunto de ações econômicas, sociais e políticas destinadas a salvar a região metropolitana do Rio de Janeiro, símbolo maior da degradação nacional; 5) Parar de acreditar que grandes idéias vão resolver os problemas da nação. Ela só vai mudar quando senão todos, porque aí seria otimismo demais, mas muitos começarem a viabilizar soluções para pequenas coisas. Daí a minha confiança nas ONGs, apesar de várias delas serem hoje dominadas por espertalhões.
Religião: Não tenho. Acredito em um Deus muito próximo daquele cultuado pelos cristãos, mas minhas formas de comunicação com a espiritualidade também passam por Buda, Iemanjá, São Benedito e Nossa Senhora da Penha.
Por que colaborar com o Congresso em Foco: Por várias razões. Primeiro, porque Isabela me ajudou a perder o medo de mostrar as coisas que escrevo. No início, eu mostrava só pra ela. Depois, para uns poucos amigos. Agora, tô sem vergonha: quero falar com quem tiver a fim de me ouvir (ou ler). A segunda razão é que a internet não é o futuro, como costumam dizer. É o presente. As notícias mais comentadas em Brasília não são aquelas publicadas no jornal. São as que acabaram de sair numa agência em tempo real ou que um site publicou há pouco. Terceiro, porque sou vaidoso e quero ser reconhecido como um cara inteligente e vitorioso.
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