Há pouco mais de uma semana, avisei aos meus mais de mil amigos no Facebook que, ali, eu não iria mais falar de política. É uma provocação que venho mantendo desde então. Falo de telenovela, falo de história em quadrinhos, falo de desenho animado. Mas de política, não falo, não. Alguns me apoiaram, outros me criticaram, outros pediram meu retorno ao tema, outros entenderam qual era a provocação.
Quando eu digo que não falo de política, refiro-me à política eleitoral. Porque, dentro das atuais regras não escritas das redes sociais, essa tornou-se a única política possível. As redes sociais tornaram-se um campo de guerrilha político-eleitoral. E, como já se disse, para vencer, na guerra vale tudo. Então, de cada trincheira, o guerrilheiro de plantão distorce, omite, cria, inventa ou, simplesmente, mente descaradamente.
De política, todos nós falamos. Política, todos nós fazemos. É uma atividade intrínseca à vida em sociedade. Mas nem toda política precisa necessariamente ter propósito eleitoral. Disso, não sabem os guerrilheiros das redes sociais.
No caso do jornalismo, mais do que direito, é dever se engajar a favor de determinados temas, como a liberdade de expressão, a democracia, o respeito ao próximo e o combate ao preconceito. Mas conferir ao exercício do jornalismo qualquer propósito eleitoral é uma total desonestidade. Não existe jornalismo a favor. Jornalismo a favor é propaganda. Mas também não existe jornalismo contra. Jornalismo contra é jornalismo a favor de algo ou de alguém. Então, igualmente é propaganda.
Jornalistas governistas e oposicionistas são coisas tão inúteis quanto uma nota de três reais. Tão desnecessários quanto uma Cibalena vencida. Nada acrescentam. São totalmente dispensáveis, porque já se sabe de antemão o que eles escreverão antes mesmo de começar a lê-los.
No campo da guerrilha virtual nas redes sociais, porém, jornalistas que se comportam como jornalistas tornam-se seres profundamente incômodos. Nenhum dos lados pode atribuir credibilidade a eles – “e se amanhã ele critica um dos nossos, se elogia um deles? Temos que pintá-lo como partidário também”. Pouco importa que num momento você seja atacado por um dos lados e, no momento seguinte, seja atacado pelo outro. Na internet, a leitura é eventual, compartilhada por alguém, ali não há o hábito da leitura frequente que possa ajudar a consolidar a impressão de equilíbrio de determinado escriba. É, assim, o campo ideal para a desqualificação.
No atual momento, não é com a atividade jornalística em si nem com a análise política que eu ganho a vida. Escrevo eventualmente sobre política somente por achar que a experiência de quase trinta anos nesse campo poderia ser de alguma serventia para outros. E porque, para mim, esse tipo de observação das coisas tornou-se tão natural quanto andar para frente. Forjei em mim ao longo do tempo essa condição de procurar olhas as coisas com certa distância, desapaixonadamente. Uso a mesma lente para tentar compreender até mesmo as ações das pessoas próximas. Para entender as razões que as levam a determinados atos de egoísmo, de compaixão, de maldade, de bondade, etc.
É uma postura que serve também para entender que juízes podem até ter capa, mas não super-heróis. Também não são super-vilões. Que cruzadas heroicas e redentoras só existem nos livros de capa-e-espada. Que todo guerreiro do povo é, antes de mais nada, guerreiro de si mesmo. E muitas vezes não é mais nada além disso. Que não há nobreza absoluta, assim como não há maldade absoluta.
Se a intenção do guerrilheiro é cooptar o outro, o jornalista que se comporta como jornalista não cabe, se a sua intenção não é cooptar ninguém. Na prática, no entanto, a guerrilha na internet virou uma sucessão de bombas que explodem antes de atingir o alvo. Porque cada grupo só consegue mesmo falar para si mesmo. É um diálogo de surdos. E, num diálogo de surdos, falar com bom senso acaba tendo a mesma ineficácia que qualquer gritaria. Todos são surdos: ninguém vai escutar. Como não tenho obrigação, como não ganho nada com isso, não falo mais de política nas redes sociais.
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