*Heitor Diniz
Você, caro leitor, muito provavelmente já viveu a desagradável sensação de comprar gato por lebre, não é mesmo?
O nobre deputado Wladimir Costa (PMDB-PA), como publicou o Congresso em Foco, viu uma situação típica dessa expressão popular nos veículos de comunicação e de publicidade que retocam suas fotos digitalmente, e o fazem através do famoso Photoshop. Não por acaso, a ferramenta é especialmente empregada no tratamento de fotografias de revistas masculinas.
Pois bem, Costa não quer acabar com essa farra da celulite perdida. Mas quer que todas as publicações informem claramente ao público quando fizerem uso de tal artifício. É o que prevê o projeto de lei 6853/10, em tramitação na Câmara. Por ele, determina-se que as fotografias editadas venham acompanhadas da seguinte frase: “Atenção: imagem retocada para alterar a aparência física da pessoa retratada”. E a multa por descumprimento não é tão mixuruca quanto essas aplicadas por propaganda eleitoral extemporânea não. Pode chegar a R$ 50 mil por peça.
Pensando bem, até que é uma boa essa história de fazer as coisas mais às claras. Poderia se tornar moda. E poderia também ser uma iniciativa expandida a outras categorias. Como a dos políticos em pré-campanha e/ou campanha, por exemplo.
Veja: de dois em dois anos, pipocam exemplos de políticos e aspirantes a tal condição que praticamente se viram do avesso, tentando bravamente ser um pouco menos intragáveis aos olhos e estômagos do eleitorado do que costumam ser “na vida real”. Nessa situação, despem-se facilmente da contumaz arrogância, deixam o ar aborrecido em casa (ou no gabinete) e desandam a beijar e abraçar todo mundo, carregar criancinhas, enfim. Do nada, tornam-se nossos amigos mais íntimos.
Não é privilégio brasileiro, nem fenômeno moderno. No século XIX, o russo Mikhail Bakunin já pincelava a conduta: “É verdade que, em dia de eleição, mesmo a burguesia mais orgulhosa, se tiver ambição política, deve curvar-se diante de sua Majestade, a Soberania Popular. Mas, terminada a eleição, o povo volta ao trabalho, e a burguesia, a seus lucrativos negócios e às intrigas políticas. Não se encontram e não se reconhecem mais”.
OK, vão dizer que eleição não é concurso de Miss ou Mister Simpatia. Concordo. Tampouco pode continuar sendo essa corriqueira e banal marcha de hipócritas, oferecendo risinhos fáceis, entre uma dentada e outra num pão com mortadela regado a pingado ou a café puro mesmo, numa esquina central de uma cidade qualquer. O que dizer então sobre aquela buchada de bode, engolida a seco, debaixo de um sol quente de torrar os miolos?
Portanto, fica a sugestão de um projeto de lei correlato ao de Wladimir Costa, que torne obrigatória, naquelas circunstâncias que você conhece bem, a seguinte frase: “Atenção: político retocado artificialmente para se tornar eleitoralmente mais palatável”.
*Heitor Diniz é jornalista de Belo Horizonte/MG. Seu trabalho também pode ser lido em www.uai.com.br/cronicapolitica e www.twitter.com/heitordiniz
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