Said Barbosa Dib *
Leonel de Moura Brizola, o homem da resistência heróica à ditadura, o nacionalista incorrigível que sempre acusou as perdas externas e o caráter dependente da economia brasileira, o apaixonado pela educação integral como único caminho para o progresso do povo, deve estar muito triste lá no céu. As lideranças que vêm se destacando nacionalmente no PDT são, hoje, políticos originários não da própria legenda, mas oportunistas que desembarcaram no partido, distanciados das bases estaduais, sem compromissos com a história do trabalhismo e pouco preocupados com a moralidade que sempre permeou a atuação do partido.
A começar pelo candidato à Presidência da República, o insosso Cristovam Buarque, fã de carteirinha do globalizado Pedro Wall Street Malan, o homem da estabilização com recessão econômica, do superávit fiscal suicida, da política econômica absurda de submissão ao capital financeiro transnacional e coisas do gênero. Cristovam Buarque que, caricatural e desrespeitosamente, tentou pegar carona na luta histórica de Brizola pela educação integral, mas que, pelo que não fez pela educação, como governador do DF e ministro de Lula, acabou atolado no seu mísero 1% de votos.
O outro grande traíra do brizolismo também não é originário do partido. Veio, como não poderia deixar de ser, das hordas do PSDB, portanto, um tucanóide enrustido infiltrado no PDT: o enxacoco Jefferson Peres, o homem que se considera, em termos morais, o "grilo falante" do Congresso, mas que não passa de um dissimulado, um tartufo, que se diz preocupado com a corrupção e incompetência petistas no atacado, mas que sempre se manteve inexplicavelmente omisso com relação à verdadeira razzia perpetrada por FHC no varejo, com as privatizações financiadas pelo BNDES.
Mas, o mais grave vem do Maranhão. Um caso não apenas de traição aos princípios trabalhistas, mas de pura e escancarada corrupção. Candidato a governador pela coligação Frente de Libertação do Maranhão, o ex-prefeito Jackson Lago (PDT) tenta ampliar, para todo o estado, o esquema de corrupção que há vinte anos assola São Luís. Isso porque, depois de três gestões na Prefeitura de São Luís, não é de hoje que encontra dificuldades para dizer como e onde gasta o dinheiro público. Pelo menos é isso o que mostra um documento do Tribunal de Contas do Maranhão, há muito publicado pela revista IstoÉ (16.08.2002). Trata-se de um relatório sobre as análises das contas municipais durante o ano 2000. O documento, com 40 páginas, aponta falcatruas milionárias, como dispensas ilegais de concorrências públicas e o uso de notas fiscais frias para justificar despesas também milionárias.
Por tudo isso, o grande Leonel Brizola deve estar se revirando no túmulo. Como dizem os gaúchos, deve estar "mais constrangido que padre em puteiro" e "sofrendo mais que joelho de freira na Semana Santa". Isso porque, como se vê, depois de dois anos de sua morte, o seu maior legado, o Partido Democrático Trabalhista Brasileiro (PDT), embora tenha conseguido passar pela cláusula de barreira com 5,2% dos votos e eleito 24 deputados federais em 13 estados e um governador, vem sendo liderado por pessoas muito pouco comprometidas com a herança política e moral deixada por ele. As ratazanas e gabirus infiltrados no partido não estão dando tréguas. Se a direção nacional do partido não ouvir as suas bases e não tomar providências enérgicas, o partido estará eticamente morto muito em breve, o que seria muito mau para o Brasil verdadeiramente desenvolvido e justo que Brizola sempre sonhou.
* Said Barbosa Dib é historiador e analista político em Brasília
Nota da redação – Aberto como é à expressão das mais diferentes visões políticas, este site não se furtou a publicar o artigo de Said Barbosa Dib. Mas as acusações feitas no texto pelo autor nos levaram a procurar a direção nacional do PDT para oferecer igual espaço, caso tenham interesse em debater as questões levantadas. A oferta continua de pé.
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