Marcos Magalhães* |
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Acuado por denúncias de corrupção e pela virtual paralisação da economia, cujo crescimento anualizado neste momento seria de um pacato 1,2%, o governo e seus aliados no Congresso Nacional sempre têm uma resposta na ponta da língua: o país estaria muito melhor agora do que nos oito anos da chamada Era FHC. Há denúncias? Sim, mas agora o governo investiga como nunca antes. Falta crescimento? Ah, mas agora se criam mais empregos do que no governo anterior. Esse tipo de comparação pode ser muito bom para a disputa política particular que travam os dois mais importantes partidos do país na atualidade, PT e PSDB. Mas soa como uma briga de comadres para quem não se alinha em nenhum dos dois campos ou, mesmo que simpatize com um ou outro, espera mais soluções para o Brasil do que um jogo de culpas entre os principais protagonistas do mundo político. Publicidade
Até recentemente, sempre que uma nova denúncia de mau uso dos recursos públicos aparecia na imprensa, os governistas se limitavam a exaltar o papel da Polícia Federal. Em toda a história do país, dizem, nunca o Executivo se empenhou tanto em buscar e punir corruptos. Ou, em outras palavras, o atual governo estaria muito mais disposto do que o anterior a cortar na própria pele em busca de uma gestão pública mais correta. O apoio do PT à instalação da CPI dos Correios pode ter indicado uma alteração de rumo. Mas só foi oficializado depois da publicação de uma nova denúncia, de pagamento de mesada pelo próprio PT a deputados da base aliada. E a concordância do partido com uma possível segunda CPI – esta para investigar a mesada e as compras de votos de deputados – poderá ser condicionada a uma investigação que inclua, na mesma linha comparativa, os oito anos do governo anterior. Publicidade
Quanto à economia, o atual governo gosta de anunciar que cria mais postos de trabalho do que o anterior, produz maiores superávits na balança comercial e reduz a vulnerabilidade externa do país. Muito bem. Não vem ao caso, sequer, recordar que três crises internacionais coincidiram com o período do governo anterior ou mesmo que a valorização do real de então, pelo menos no início da Era FHC, serviu para quebrar o círculo vicioso da inflação. A questão é: o país está satisfeito com os resultados obtidos tanto no governo anterior como no atual? A velocidade de cruzeiro da economia, neste momento, é de 1,2% ao ano. Supondo que a situação melhore bastante até dezembro, poderemos ter uma nova surpresa, como sugeriu o presidente Lula, e cresceremos de 3% a 4%. Se tudo correr bem, ele poderá, mais uma vez, anunciar que foi melhor do que Fernando Henrique Cardoso. PublicidadeFugindo um pouco da disputa particular entre PT e PSDB, porém, poderiam ser feitas outras comparações. Com o Chile, por exemplo, que cresce de forma sustentada mais do que 5% ao ano, bem aqui ao lado, com exportações crescentes para todo o mundo. Ou com países como a Coréia, mais pobre do que o Brasil há apenas 40 anos e que atualmente inunda o mercado internacional com produtos eletrônicos de alta qualidade. Sem falar, naturalmente, da China e de seu incansável crescimento. Talvez seja preciso olhar um pouco mais para o mundo e um pouco menos para o espelho retrovisor. Além de buscar os mecanismos que permitam ao país crescer de forma mais acelerada e reduzir a exclusão social – promessas do presidente Lula acolhidas com entusiasmo pelos eleitores há quase três anos. Não se chega lá sem algumas reformas profundas. Enquanto elas não vêm, ficamos todos assistindo a uma proveitosa e produtiva guerra de números com o passado. |
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