Expedito Filho, de Nova York |
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A globalização tornou o mundo menor. Mas seus resultados ainda não foram suficientes para torná-lo melhor. Na verdade, o mundo até aqui está se apequenando. Um sinal claro disso está na solidariedade internacional às vitimas da trágica tsunami de Natal. Os países mais ricos do mundo disponibilizaram apenas a migalha de US$ 100 milhões para socorrer os países atingidos pela tragédia. Campeão de mesquinharia, o Fundo Monetário Internacional prometeu apenas reajustar a data dos vencimentos dos empréstimos feitos pelos países atingidos, mas nada de anistiar as dívidas. Não se leva em consideração que esse é um desastre em que o número de mortos cresce em progressão aritmética. Hoje, são 100 mil mortos. Mas quando você estiver lendo esse artigo o numero deverá ser muito maior. Publicidade
A reação internacional é uma vergonha. O único líder a escapar da insensibilidade generalizada foi o chanceler alemão, Gerhard Schröeder. Ele interrompeu suas férias de imediato e propôs ao Clube de Paris a moratória da dívida externa da Indonésia e da Somália. Outro foi Jan Engeland, o homem da ONU (Organização das Nações Unidas) responsável pelas ações humanitárias. Ele foi um dos poucos a denunciar que a reação de alguns países ricos era avarenta. Os Estados Unidos limitaram-se a enviar condolências e a prometer uma merreca de US$ 15 milhões. Sequer as férias no rancho, no Texas, George W. Bush tinha interrompido. Para se ter uma idéia do tamanho da esmola, basta olhar alguns números. Apenas com a invasão do Iraque, segundo estimativas conservadoras, o governo americano gastou US$ 120 bilhões. Não está incluído aí o que se gastou com a ocupação. Mas você pode argumentar que, nesse caso, trata-se de uma Guerra em que os Estados Unidos estavam envolvidos diretamente. Mas eu posso contra-argumentar que se torraram US$ 120 bilhões para destruir vidas e que todos os países do mundo são incapazes de mobilizar pelo menos US$ 1 bilhão para salvar vidas. A ameaça de epidemia nos países devastados pela tsunami é um problema global. Publicidade
Os números de Wall Street também podem ser ilustrativos. Vamos aos bônus de fim de ano distribuídos aos executivos do mercado financeiro. Segundo o New York Times, a expectativa em Wall Street é a distribuição de US$ 15,9 bilhões agora no final de ano. Nesse mesmo período, em 2003, teve gente por aqui abocanhando bônus individuais de até US$ 20 milhões. Este ano, o desempenho do mundo financeiro foi tão bom que houve fila na porta das concessionárias da Ferrari e da Mercedes Benz aqui na Parque Avenida. Diante dessa exuberância do coração do mundo globalizado, os US$ 100 milhões oferecidos pelos países são ou não uma miséria? PublicidadeTanto é que a ficha caiu. Bush interrompeu as férias no rancho, aumentou a oferta para US$ 35 milhões, o mesmo que chegam a somar alguns bônus individuais de Wall Street. Ele também enviou um porta-aviões com suprimentos e mais nove aviões militares. Melhorou, mas o mundo ainda está fazendo muito pouco. Essa tragédia vai ser lembrada pelos números: o de mortos, que se avoluma a cada dia e o do montante arrecadado para socorrer os países atingidos, algo tão pequeno quanto a estatura dos líderes que o mundo globalizado produziu até aqui. Eles têm o mesmo tamanho da esmola que dão. |
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