João Vieira*
Comentamos neste espaço sobre a possibilidade e necessidade de poder asseado (leia o artigo anterior), exercido com alma, e alma grande, naquele sentido cravado por Fernando Pessoa no seu poema "Mar Português" quando saca, lindamente, que "Tudo vale a pena se a alma não é pequena"!
Poesia do civismo foi como nos referimos ao poder formatado no ideal do serviço ou senso da prestação com vistas ao favorecimento do bem comum. Um poder imune a pecadões e pecadilhos debitados à conta da natureza humana fraca, esta sim, vilã dos descaminhos que vão da corrupção interesseira, e deslealdades, ao lúdico que encena a tirania pela volúpia do mando em si. Mando falto de virtudes, conquanto complacente, leniente com os capitais pecados tais como: avareza, orgulho, ambição, inveja, preguiça, luxúria, entre outros mais já codificados ou a codificar, face a possíveis e novas combinações. Poder, em síntese, de irretocável correção no que respeita princípios éticos, e mais congenial vocação de bem-servir, traduzível numa expressão: altruísmo!…
Registre-se, entrementes, que não importa a natureza e tamanho da obra ou, se quiser, da "missão" a ser cumprida nos acometimentos que a vida oportuniza em seu transcorrer: se da área política ou campo privado; se relativo a universos extensos e complexos ou realidades mais simples de restrito alcance como no caso de uma família, por exemplo; também grupos clâmicos e até associações classistas e/ou corporativas. Em conclusão, tanto faz sargento, capitão ou marechal; chefe de secção ou presidente da Republica e, naturalmente professor da categoria "mestre-escola": todos, todos são importantes, aliás, muito importantes no mando dos processos e realidades sob sua responsabilidade; sua área de jurisdição, ou domínio, quer se trate de uma nação inteira ou só uns poucos indivíduos e mesmo uma única pessoa, porventura dependente da ação de uma chefia legitimamente constituída; ou que decorre de situações naturais e sociais de vigência do "pátrio poder"…
Tome-se para ilustração um campo de aplicação ou exercício de autoridade, cara aos brasileiros, que é o futebol. Todos recordam o quão firme e vigilante -limpo – era o poder praticado por Telê Santana enquanto técnico, com isso honrando de maneira edificante as duas instituições: o Futebol e o Poder. E agora considerando que mal-traçamos essas poucas desde Brasília, cumpre mencionar a figura de Israel Pinheiro, engenheiro e homem público em cujo nome recaiu a escolha de JK para o comando do órgão-pião da construção – a NOVACAP. Como se sabe, o Dr. Israel, em que pese sua idade já avantajada, cumpriu a missão ciclópica com incomparável desvelo, correção e desprendimento pessoal.
Aproveitando mais a deixa Brasília/Capital Federal onde, aliás, o poder vem sendo ultimamente maltratado… Em vista, dizíamos, do convívio capitaleiro, inscrito e bem realçado seja o nome, e exemplo, de Aloysio Campos da Paz, médico-fundador e venerando diretor da "Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação". Já se tornou legendária a dedicação com que esse profissional-exemplar se desincumbe de suas funções, mais exatamente, missão, não se deixando seduzir, encantar pelos acenos de riqueza e poder… Pelo poder! Filantropo e disciplinador, goza o Dr. Campos da Paz de prestigiamento e distinção nesta cidade tanto quanto ou mais que deputado, senador ou o Presidente da República – não escapos, eles, de ter de recorrer ao mesmo e ficar devendo favor…
Encerre-se com a figura mítica de Rondon (Marechal Candido Mariano da Silva,) que em sendo um guerreiro e guerreiro positivista, soube desconstruir a rigidez racionalista de sua formação ante o incerto do "quantum" cultural indígena, na ousadia humanística da proclamação: "Morrer se preciso for, matar nunca"! (Continua)
*João Vieira, professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de Mato Grosso (aposentado) e ex-diretor do Museu Rondon.
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