Antonio Vital
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Fazer balanços de quem perde e quem ganha com determinados eventos políticos é praxe entre analistas e jornalistas. Serve para mostrar para onde vai o equilíbrio de forças depois de cada situação. As denúncias de envolvimento de um assessor do ministro José Dirceu com o jogo do bicho já fez perdedores e vencedores bem visíveis após três semanas de paralisação do governo.
Depois de ler a exposição de motivos abaixo, o leitor vai concluir que o Palácio do Planalto, ao manobrar para implodir a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o caso e ao mesmo tempo tentar aprovar projetos que tirem a impressão de imobilismo administrativo decorrente da denúncia, ficou refém dos próprios aliados. Publicidade
O governo se enfraqueceu e com isso passou a ser mais dependente ainda de partidos como o PMDB, o PTB e o PL – além de facções dissidentes dos oposicionistas PSDB e PFL. Essa dependência já era visível, mas ficou crônica. Graças à aliança com esses partidos, foi possível aprovar as reformas da Previdência e tributária no ano passado. Agora, a conta vai ficar mais salgada ainda e provavelmente o presidente Lula vai acabar se perguntando se, afinal, o barato não saiu mais caro que o previsto. Publicidade
Esta semana, a repórter Sônia Mossri, do Congresso em Foco, revelou que os líderes dos partidos aliados conseguiram do ministro da Articulação Política, Aldo Rebelo, a promessa de liberação de R$ 4,5 bilhões para emendas dos parlamentares até julho. Esse é só um dos lados da fatura. O outro lado vai na forma de cargos no segundo e terceiro escalões do governo, assim como em estatais como a Petrobras e suas cobiçadas subsidiárias. Enfim, Lula ficou mais fraco e isso custa caro. Eis a tal lista: PublicidadeQuem perde Lula – Apesar de ostentar popularidade na casa dos 60%, perdeu força no Congresso e viu a maioria vacilante que tinha na Câmara e no Senado diminuir ainda mais, o que vai dificultar a aprovação de projetos considerados prioritários, como o das Parcerias Público-Privadas (PPP), a lei de Falências, o Plano Plurianual e a Lei de Diretrizes Orçamentárias. José Dirceu – o ex-superpoderoso ministro, até três semanas atrás tratado como premier no Palácio do Planalto, não conseguiu sair da defensiva desde o início do escândalo Waldomiro Diniz. Aloizio Mercadante – junto com a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), perdeu pontos ao tentar estender o alcance de uma CPI para o caso Waldomiro à investigação dos doadores de campanha dos demais partidos – inclusive dos aliados. Foi tratado como chantagista e bateu boca até com José Sarney, o homem mais poderoso do país depois de Lula. Magno Malta – o senador capixaba está na mira dos governistas depois que obteve assinaturas suficientes para criar uma CPI para o caso Waldomiro. A CPI não deve sair e Malta arrisca perder todos os cargos que controla no governo. Quem ganha José Sarney – Está nas mãos do presidente do Senado indicar ou não os integrantes da CPI proposta por Magno Malta. Independente do que vier a fazer, sai ganhando. Renan Calheiros – De olho na presidência do Senado, mobilizou os parlamentares do PMDB no Senado e na Câmara contra a CPI, se tornando peça fundamental para o Palácio do Planalto. Não vai ganhar o que quer, mas seu poder de barganha aumentou. João Paulo Cunha – Tem colocado projetos da chamada "agenda positiva" em pauta na Câmara e deve ganhar de lambuja o direito à reeleição, feito de encomenda para Sarney. PMDB – O partido, ex-patinho feio da aliança petista, virou o fiel da balança na Câmara e no Senado. O governo não pode mais viver sem ele. Oposição – O PSDB e o PFL ganharam de presente um argumento eleitoral que deve ser usado à exaustão nas campanhas de outubro. Antonio Carlos Magalhães – Comanda a dissidência governista do PFL e é peça importante para o governo – apesar de ninguém no Palácio do Planalto querer aparecer em fotos junto com ele. |
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