Ronaldo Brasiliense*
Os três maiores bancos privados nacionais – Bradesco, Itaú e Unibanco – caminham este ano para mais que duplicar seus lucros desde o início do governo Lula, em 1º de janeiro de 2003. Na semana passada, o Bradesco bateu o Itaú mais uma vez, atingindo um lucro líquido, de janeiro a setembro, de R$ 4,05 bilhões, contra R$ 3,82 bilhões registrados pelo concorrente no mesmo período.
Segundo estimativas do CS First Boston (CSFB), o lucro conjunto dos três mega-bancos nacionais deve atingir R$ 12,5 bilhões em 2005: R$ 5,4 bilhões no Bradesco, R$ 5,3 bilhões no Itaú e R$ 1,86 bilhão no Unibanco. Só para comparar: em 2002, último ano de gestão do imperador tucano Fernando Henrique Cardoso, a soma dos lucros das três instituições financeiras atingiu R$ 5,4 bilhões.
Em termos nominais, o aumento do lucro líquido dos três maiores bancos brasileiros em 2005 poderá chegar a mais de 130%, em relação a 2002, caso a estimativa do CSFB se confirme. Descontando-se a inflação de 24% no período, isso significa extraordinários 87% a mais de ganhos. Nada mal para um país que mantém a inflação sob controle, no patamar de 5% ao ano, sacrificando seu crescimento.
É inacreditável que isso esteja acontecendo no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nunca me passou pela cabeça que seria justamente no governo do PT que os bancos brasileiros iriam bamburrar, para usar a linguagem de garimpo. Na minha ingenuidade – como a Velhinha de Taubaté, morta recentemente por Luís Fernando Veríssimo – eu acreditava que, com Lula no poder, os bancos seriam chamados a pagar parte da conta da pobreza.
Para mim, seria natural que Lula taxasse o lucro dos bancos para financiar os programas sociais como o falecido Fome Zero. Mas não, a conta mais uma vez está sendo paga com o meu, com o seu, com o nosso suado dinheirinho.
E isso num país pobre como o Brasil, que tem uma das mais altas cargas tributárias do mundo, com o imposto de renda descontado na fonte do assalariado e famigeradas contribuições como a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL); a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF); a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide). Ou seja, impostos cuja receita vai diretamente para os cofres da União e não é repartida entre os estados e os municípios.
Além do resultado bilionário e do recorde nacional, o Bradesco – maior banco privado do país – obteve também crescimento de sua rentabilidade sobre o patrimônio líquido médio, que subiu de 20% no fim do terceiro trimestre de 2004 para 33,7% no mesmo período deste ano. Somente no terceiro trimestre de 2005, o lucro contabilizado pelo Bradesco chegou a R$ 1,43 bilhão.
Um dos fatores que contribuíram para o espetacular desempenho dos bancos no primeiro semestre foram as altíssimas taxas de juros. A Selic, o juro básico determinado pelo Banco Central – presidido pelo ex-banqueiro Henrique Meirelles, que chegou à presidência mundial do Banco de Boston e foi requisitado por Lula no ninho dos tucanos para o BC – começou o ano em 17,75% e foi gradativamente aumentada, até chegar a 19,75% em julho. Foi o suficiente para jogar o lucro dos bancos para a estratosfera.
É o governo Lula, aquele em que a esperança venceu o medo, engordando os bolsos dos banqueiros com a fome do povo.
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