Após vários anos afastado da sala de aula, na semana passada fui dar uma palestra sobre política numa instituição de ensino aqui em São Paulo. A satisfação foi dupla. Por um lado, o auditório ficou lotado. Por outro lado, pude travar com os meus alunos um debate extremamente proveitoso sobre a política brasileira.
A aula havia sido planejada como uma discussão teórica. Estava preparado para discutir conceitos de autores clássicos como os alemães Max Weber e Carl Schmitt, temperados por uma pitada do nosso João Ubaldo Ribeiro – autor de um dos meus livros clássicos particulares (“Política: quem manda, por que manda, como manda”).
Mas o que era para ser uma exposição teórica acabou virando um pequeno seminário sobre a conjuntura política brasileira. Acho que o fato de estarmos às vésperas do início da campanha eleitoral contribuiu para isso. Mas também fiquei muito satisfeito ao constatar o elevado grau de politização daquela minha turma.
Os brasileiros somos considerados um povo pouco politizado. De fato, sob uma perspectiva comparativa internacional, isso é mesmo verdade. Nossas taxas de preferência partidária e de apoio à democracia ainda são mais baixas do que a média mundial. Além disso, nossas taxas de escolaridade e de leitura de jornais também deixam muito a desejar.
Mas passei a suspeitar que a própria rotinização da democracia esteja contribuindo para elevar o grau médio de politização do brasileiro. Quando o presidente Lula entregar o poder para o seu sucessor, esta terá sido a quinta vez consecutiva em menos de duas décadas – contando as reeleições – em que um governo democraticamente eleito dá posse a um novo governo também democraticamente eleito.
Nunca houve nada parecido no Brasil. E nem me refiro aos períodos autoritários da nossa história. Na República Velha, os governos não eram eleitos por sufrágio universal. E a instabilidade política era a grande marca do regime constitucional de 1946. Hoje, todos já sabem que ano de Copa do Mundo também é ano de votar para presidente.
Instituições democráticas tradicionais como a alternância pacífica no poder, a liberdade de opinião, a mobilidade social e a universalização da educação básica, entre outras, acabam gerando efeitos positivos sobre o que se convencionou chamar de a cultura política da população. A aprovação da Lei da Ficha Limpa teria sido inconcebível tempos atrás.
Acredito, portanto, haver boas razões para acreditar numa tendência de crescimento da politização da população brasileira. Mas reconheço que essa hipótese ainda precisa ser submetida a testes empíricos mais sofisticados. Talvez eu deva passar mais tempo nas salas de aula.
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