Cláudio Versiani, de Nova York*
Normalmente o Brasil é notícia aqui nos EUA quando algo ruim acontece por aí. Não precisa ser o trágico acidente do avião da Gol, ou a bárbara e incompreensível morte do garoto João Hélio, nem algum acontecimento excepcional. Pode ser a nossa corrupção de cada dia, a violência cotidiana ou o contínuo desmatamento da Amazônia. Em janeiro de 2007, a revista National Geographic dedicou a capa e 30 páginas a uma matéria sobre o desmatamento da Amazônia. A imprensa americana não é diferente da nossa. Ela também gosta de notícia ruim.
Por isso mesmo, dá certo orgulho quando você entra num bar, num restaurante ou numa loja qualquer e a música que está tocando é do Brasil. Não é raro acontecer, é quase normal. O Brasil se vende muito mal. Em Nova York existe uma grande curiosidade sobre o nosso país. Uma curiosidade que vai além dos estereótipos do samba, da praia, do carnaval e da mulher pelada. O novaiorquino é ligado na aldeia global e 40% dos habitantes da cidade vêm de outras partes do planeta.
Lula fez muito sucesso na terra do Tio Sam quando eleito, em 2002. Infelizmente, esse sucesso não existe mais e hoje as pessoas querem saber se todas as notícias sobre a corrupção no governo são verdadeiras ou se são fruto de má vontade da imprensa brasileira com o ex-líder operário. Difícil de explicar.
Nesse contexto de notícias ruins, o prazer de se ver um jogador brasileiro de basquete fazendo sucesso na NBA é muito grande. O campeonato americano de basquete é o melhor do mundo, sem dúvida. Porém, isso não justifica o fato de eles declararem o vencedor da liga como campeão do mundo. É só mais um absurdo dos americanos do Norte.
Leandro Barbosa, armador e ala do Phoenix Suns, é mais conhecido como Barbosa, mas tem vários apelidos. “The Brazilian Blur” é o principal. Blur significa mancha, borrão e a expressão quer dizer que ele é tão rápido que é quase impossível vê-lo, quando ele arranca da sua quadra em direção à cesta do adversário. A rede de TV TNT, que transmite as partidas, chegou a fazer uma animação com o “Beep Beep”, o desenho animado do Road Runner, com a cara do jogador brasileiro. Ligeirinho é outro apelido de Barbosa, que é considerado um dos jogadores mais rápidos da liga. E ele é reserva, o melhor da competição, eleito por 127 jornalistas esportivos dos EUA e Canadá.
De fato, ele é titular, já que joga mais de 24 minutos por partida que tem 48 minutos no total.
PublicidadeO segundo colocado foi o argentino Manu Ginobili, do San Antonio Spurs. Batemos los hermanos, que são os atuais campeões olímpicos de basquete, mais uma vez. Se com os pés eles não podem com a gente, pelo menos nesse caso, com as mãos, também não.
Barbosa tem números impressionantes na sua carreira de quatro anos na NBA. A temporada 2006/2007 parece ser a consolidação do Ligeirinho, mas é na fase final que os jogadores são realmente postos à prova. E Barbosa tem correspondido. O Suns mandou o Lakers para casa e o jogador brasileiro foi fundamental nas quatro vitórias do time do Arizona. Assistir ao Phoenix Suns e a Barbosa jogarem é um verdadeiro prazer. O time joga com alegria e se diverte inventando jogadas que parecem impossíveis de serem executadas. Melhor ainda é ver a entrevista de Kobe Bryant, o melhor de todos, falar que Barbosa desequilibrou nos dois primeiros jogos. Kobe afirmou que foi impossível parar Barbosa. Se fosse Magri, aquele ex-ministro do ex-presidente Collor, teria dito que Barbosa é imparável.
Quem quiser conferir, no site Youtube (aqui) tem vários vídeos incríveis de Leandrinho, como ele é chamado no Brasil.
O técnico do Suns, Mike D’Antoni, colocou o assistente Dan D’Antony, seu irmão, para cuidar de Barbosa e aprimorar as qualidades técnicas do brasileiro. O resultado é que Leandro Barbosa é um dos melhores jogadores da NBA, a bilionária liga de basquete dos EUA.
Nada mal para um garoto pobre de São Paulo que vendia frutas e verduras no mercado para ajudar a família. Arturo, o irmão 21 anos mais velho, foi quem o iniciou no esporte. Leandrinho tinha cinco anos de idade.
A mãe, D. Ivete, e o irmão estavam na platéia assistindo ao filho/irmão despachar o Lakers. Se pela TV já dava para se orgulhar de Barbosa, imaginem o coração da mãe ali na quadra. Leandro Barbosa tem contrato de cinco anos com o Phoenix Suns. Ele vale cada centavo dos US$ 33 milhões que o time lhe paga. Ou melhor valia, porque se o Suns quiser manter o jogador na sua equipe, vai ter de pagar um pouco mais. Já tem muito time de olho em Leandrinho. Quem não quer ter o jogador mais rápido da NBA na sua equipe?
Com licença, que eu vou me concentrar para o próximo jogo do Suns. Aqui em casa, ninguém perde uma partida do Phoenix Suns. Nós adoramos ver o “Beep Beep” correndo pela quadras. Ou, como dizia o cartaz que uma fã segurava durante o último jogo: “We love Captain Barbosa”. Mais um apelido para Leandrinho, o nosso próximo campeão do mundo.
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