Trabalhamos juntas cerca de 16 anos no Centro Cultural, eu me aposentei em 2010 e ela morreu no final de 2012, em Floripa, ao visitar uma irmã pelo Natal e lá mesmo foi cremada.
Se eu disser que o tempo da nossa amizade durou os 16 anos supracitados, estaria apenas falando cronologicamente, mas minha amizade com Ohana (não se chamava Ohana, mas este era o nome com o qual ela queria ser chamada, lembrada, seu grito de guerra, seu selo pessoal e intransferível) transcendia o tempo e as contingências duma relação cotidiana de trabalho.
Sem contar que tanto Paris e o próprio Centro Cultural são um mix de Circo e Festa Permanente onde “o espetáculo não pode parar” e onde se vive meio mascarado e por aí vai. Tudo a ver comigo, Ohana, figurinhas, seres caóticos, poetinhas & Cia bela.
Aliás, Ohana era uma espécie do que os escritores (o velho Riders Digest e o tesouro nacional de lugares comuns e frases feitas) chamam de “Meu Tipo Inesquecível”.
Bela, mas duma beleza especial, estranha, ruiva, agressiva. Ou “enfrentativa” – se eu quisesse usar a gíria queer. Sim, porque, acima de tudo, ela também era – talvez pela voz – rouca e grossa –, o jeito “meio estúpido de ser e fazer as coisas”, o carregado sotaque carioca, as expressões teatrais, as piadas de bastidores – A Musa Gay par excellence.
Olhando assim de fora, ela chegava a confundir-se com uma drag-queen.
Imagine-se, Ohana, superfeminina, precisamente encarnava essa espécie de Estereótipo da Mulher do qual qualquer anima-gay desocupada dá seu testemunho involuntário. Assim como Mae West, Marilyn Monroe, Rita Haywoorth, Lisa Minelli, Marlene Dietrich, Bárbara Streisand (pela voz & gosto musical), etc.etc.etc. E Priscila, a Rainha do Deserto, é claro.
Mas, como ninguém, Ohana sabia tanto ser engraçada quanto dar colo, oferecer aquele ombro amigo permanentemente ao nosso dispor. Quer dizer…SE você fosse um dos eleitos, of course.
E eu era.
Desde o primeiro momento, nasceu entre ambas aquela cumplicidade, aquele “dejá-vu” tão raro e imponderável que une dois amigos de uma vez por todas e para sempre.
Algo como um vínculo indissolúvel, incondicional e tão inexplicável como certos amores à primeira vista. Com a diferença que, na condição de amizade, este é permanente.
Não tenho palavras pra descrever minha dor (outro clichê em que jamais, como escritora, eu deveria incorrer mas agora já foi, saiu sem mais aquela), do quanto me pesa tua ausência, agora definitiva, Ohana, porque afinal, quem irá o ocupar o mesmo buraco de ar? Hem?
Que mais se não encerrar com uma derradeira frase de efeito que era tão tua? Ou seja, que tua morte foi a verdadeira “maldição da cadela asteca”? Que pros amigos e os bons entendedores essa frase é o bastante mas não o suficiente pra te definir.
Inesquecível Ohana.
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