Marcos Magalhães |
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Um tiro seco, rápido e certeiro abateu nesta semana a candidatura do Rio de Janeiro às Olimpíadas de 2012, juntamente com as de Havana, Istambul e Leipzig. Ao anunciar a decisão de afastar as quatro cidades e manter na disputa Paris, Londres, Nova York, Madri e Moscou, o belga Jacques Rogge, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), foi econômico nas palavras: “Estamos separando os meninos dos homens”. Mesmo que envolvido em argumentos técnicos sobre temas como segurança e transporte público, o comentário de Rogge carrega o sentimento de superioridade dos países que se sabem capazes de promover os grandes investimentos necessários à realização de uma Olimpíada. E acaba cometendo injustiça, por exemplo, com os enormes esforços dos meninos cubanos, que lotam as quadras, praças e campos de todo o país para se dedicar à paixão nacional pelo esporte. Bem menos brasileiros fazem a mesma coisa, por falta de estímulos ou de condições de praticar esportes. Nas periferias das grandes cidades – especialmente no Rio de Janeiro – existem mesmo meninos que acabam nem se tornando homens. Morrem antes disso, atingidos por balas que cruzam os céus das favelas nas disputas pelo comando dos pontos de vendas de drogas. A violência sufoca a cidade e joga pelos ares as modestas chances de atrair os Jogos Olímpicos e todos os investimentos que vêm junto com eles. Perde o Rio, naturalmente. Perde a economia brasileira a oportunidade de receber alguns bilhões de dólares a mais. E parece ter perdido também o mundo político. Porque os principais temas lembrados para afastar a candidatura brasileira – segurança, transporte e falta de saneamento – não parecem estar entre as prioridades da agenda nacional. Em momentos críticos, a segurança se transforma em parte da agenda política. No ano passado, depois de longos debates, aprovou-se o Estatuto do Desarmamento, que agora está sendo regulamentado pelo Poder Executivo. Ainda não se sabe como a lei será aplicada na prática, até mesmo porque as forças policiais têm enfrentado quadrilhas armadas até os dentes, muitas vezes com equipamentos pesados e típicos de uma guerra. O transporte público chegou a ser, no passado, uma preocupação federal. Atualmente, parece entregue às iniciativas de estados e municípios, que, por sua vez, vão buscar recursos do exterior ou junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Quando as operações de financiamento precisam de autorização legislativa, por alguns dias os projetos de novos sistemas de ônibus e metrôs movimentam o debate. O saneamento básico tem sido tema mais constante. Os baixíssimos índices de atendimento à população brasileira com serviços de água e esgoto muitas vezes animam os parlamentares, especialmente da oposição, a cobrar do governo o estabelecimento de um novo marco regulatório para investimentos privados na construção de adutoras e estações de tratamento. Mas a definição das novas regras ainda não saiu. Segurança, transporte e saneamento não são apenas exigências do COI para a escolha da melhor cidade para sediar as Olimpíadas. São também condições indispensáveis para uma vida civilizada nas cidades. Quando esses temas entrarem para valer na agenda política, os resultados cedo ou tarde começarão a aparecer. Nesse momento, o Rio, São Paulo ou qualquer outra cidade brasileira que venha a se candidatar a sede dos Jogos Olímpicos poderá ter pelo menos uma chance de virar gente grande. |
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