Marcos Magalhães |
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Ao completar 75 anos, a Business Week – uma das mais conceituadas publicações de economia e negócios do mundo – foi buscar na inovação o tema de sua edição especial de aniversário. A revista dedica mais de 100 páginas às “novas idéias e tecnologias que estão mudando o mundo”. Bem mais recente, mas igualmente nas bancas, a publicação Desafios – editada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) – mostra, em reportagem de capa, “como a inovação tecnológica pode mudar a indústria brasileira”. A eloqüente sintonia entre as redações de Nova York e Brasília ocorre poucas semanas antes de o Congresso emitir a sua palavra final a respeito do projeto de lei de iniciativa do Poder Executivo que estimula a interação entre as empresas e os centros de pesquisa. Já aprovada pela Câmara, a proposta vem sendo analisada simultaneamente por três comissões do Senado – de Educação, de Assuntos Econômicos e de Constituição, Justiça e Cidadania. E tem boas chances de entrar na pauta do Plenário logo após as eleições municipais. O projeto da Lei de Inovação, como vem sendo chamado, parece uma espécie de primo-pobre de um outro bem mais conhecido – o que estabelece as regras para as Parcerias Público-Privadas (PPPs). Enquanto este serve como cenário de uma dura disputa entre os principais partidos de situação e de oposição, PT e PSDB, o primeiro caminha sob a sombra dos quase consensos, silenciosamente como geralmente ocorre quando uma proposta não chama a atenção de deputados e senadores. A polêmica em torno das PPPs em boa parte se justifica pelos milhões de reais que serão movimentados por meio dos contratos que terão as regras definidas pela futura lei a respeito do tema. Mas também revela a enorme importância que tem no imaginário político brasileiro a realização de grandes obras físicas de infra-estrutura, como rodovias, ferrovias e usinas elétricas. O crescimento certamente não virá sem doses maciças de investimento na combalida infra-estrutura brasileira, como vêm seguidamente alertando empresários, acadêmicos e integrantes do governo. Mas o próprio conceito de desenvolvimento começa a sofrer profundas transformações ainda não totalmente percebidas no meio político brasileiro. Para garantir um lugar de destaque na economia global do século 21, não basta ter estradas e ferrovias em perfeito estado. É preciso oferecer ao mundo produtos inovadores e de alto conteúdo tecnológico. Segundo a Business Week, o impacto econômico da biotecnologia, por exemplo, pode ser tão grande como o do microchip, na medida em que avanços da medicina poderão prolongar a expectativa de vida. A nanotecnologia, por sua vez, também teria o poder de transformar o atual cenário da saúde, da manufatura e da computação. E novas fontes de energia tenderiam a se tornar economicamente viáveis mais rapidamente do que se pensa, caso os preços do petróleo se mantenham em elevação. As pesquisas sobre setores tão importantes para a economia do novo século, diz a revista, estão em andamento principalmente no Vale do Silício, na Califórnia, e em países da Europa e da Ásia – neste caso, especialmente China e Índia. O Brasil, revela a revista do Ipea, investe em pesquisa e desenvolvimento apenas 1% do seu Produto Interno Bruto (PIB) – contra 1,29% da China, 2,5% da Alemanha e 4,7% de Israel. O Brasil registrou 220 pedidos de patentes nos Estados Unidos em 2000. A Coréia, 5705. A necessidade de se ampliarem os investimentos em pesquisa e desenvolvimento já é vista com clareza pelo governo, como se percebe até mesmo pelo envio do projeto da Lei de Inovação ao Congresso Nacional. Mas ainda existe um longo caminho a percorrer se o país quiser se aproximar dos líderes da corrida tecnológica. A aprovação da atual proposta pode ser um passo nessa direção, uma vez que permitirá que universidades e centros de pesquisa tenham uma relação menos complicada e mais proveitosa com as empresas nacionais. |
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