Antonio Vital
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Há coisas que só acontecem no governo Lula. Uma delas é a dificuldade do Palácio do Planalto em fazer com que os petistas apóiem determinadas medidas do governo. Isso já aconteceu nas votações da reforma da Previdência e da MP que reajustava o salário mínimo. Voltou a se repetir na MP que dá status de ministro ao presidente do Banco Central. Dos dez partidos que recomendaram a seus deputados votarem “sim” à proposta, o PT foi o mais desobediente. Dos 80 petistas presentes no plenário da Câmara na madrugada de ontem (1º), 28 disseram “não”. Ou seja, apenas 65% dos deputados do partido do presidente Lula seguiram o governo. O índice é inferior aos dos divididíssimos PPS e PMDB, que vivem uma relação de casa-separa com o Planalto. O PPS do oposicionista Roberto Freire (PE) deu 85% de apoio ao governo. O PMDB de Michel Temer (SP), 72%. Se isso acontece agora, quando a economia dá seguidos sinais de aquecimento e o PT ainda é hegemônico no Executivo, imagine quando Lula implantar – se implantar – o governo de coalizão que, em tese, garantiria a governabilidade e prepararia caminho para sua reeleição? Pelo menos na Câmara, 30% da bancada tende a discordar de quase tudo que o governo faz. Esse é aproximadamente o tamanho da chamada esquerda do partido, que não perde qualquer chance de mostrar que existe e concorda em votar determinadas matérias apenas quando ameaçada de expulsão. O PT vive uma situação curiosa, se comparado aos demais partidos da base. O PMDB, por exemplo. O partido dos ministros Eunício Oliveira e Amir Lando pode efetivamente sair da base aliada na convenção marcada para o dia 12, como informa Sônia Mossri (leia mais) (LINK PARA 0212-PMDB), mas eventual decisão nesse sentido será mais produto de antagonismos regionais que manifestação da vontade dos parlamentares. Esses querem verbas para emendas e cargos. O resultado da votação mostra que a rebelião de duas semanas atrás diminuiu muito de intensidade. Já o PT pode virar o maior calo de Lula se os indicadores econômicos não se mantiverem favoráveis em 2005. A política adotada por Antonio Palocci só não arredou pé da meta de segurar a inflação, diminuir gastos e pagar as dívidas por determinação pessoal, que beira a idéia fixa, do presidente. Se dependesse do PT, sabe-se lá o que teria acontecido. Nem os governadores dos estados exportadores, que estão furiosos com o governo devido ao vaivém da proposta de compensação pela desoneração da venda dos produtos, foram tão rigorosos em relação à MP do Meirelles quanto o PT. Dos dez estados que cobram bilhões para um fundo que compense a desoneração das exportações, apenas a bancada da Bahia rejeitou a MP. Os deputados da terra de Antonio Carlos Magalhães e do líder oposicionista José Carlos Aleluia (os dois do PFL) rejeitaram a proposta por 25 a 12. Nos outros nove estados (Pará, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), houve um empate (no Rio Grande do Sul do governador Germano Rigotto, por 10 x 10), um placar apertado (8 x 7 em Santa Catarina, onde o PT resolveu romper com o governador Luiz Henrique, do PMDB), e sete goleadas do governo. Como já está abertamente lançada a campanha eleitoral de 2006, Lula terá de conviver nos próximos dois anos com um crescente descontentamento dentro de seu próprio partido. Se não houver um mínimo sinal de distribuição de renda, discurso histórico do PT, a esquerda vai se sentir forte o suficiente para fazer mais barulho. Se petistas perderem cargos em função de aliados conservadores, pior ainda. Isso sem contar disputas internas paralelas, que terão Lula como árbitro. É o que vai acontecer, por exemplo, em São Paulo, onde três medalhões do partido disputam a candidatura ao governo estadual – Marta Suplicy, João Paulo Cunha e Aloizio Mercadante, este já lançado por José Dirceu. Enfim, Lula ainda não viu nada. |
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