Em toda guerra de que se tem notícia, inocentes costumam ser atingidos sem piedade. Não se separam cidadãos de bem daqueles a quem realmente se quer punir, julgar ou destruir. Na realidade brasileira, em que se está instalada uma guerra sem trégua entre oposição e governo, também tive a minha honra enlameada para atender à demanda vaidosa e irresponsável do deputado Rodrigo Maia (PFL-RJ).
Ele preferiu ter seus três minutos de fama em cena durante o espetáculo, ao divulgar lista com nomes de assessores e parentes de parlamentares que supostamente teriam sacado dinheiro da agência do Banco Rural em Brasília, a ter que realizar apuração séria para conferir se, de fato, as pessoas envolvidas eram realmente assessores dos deputados citados.
Em meu caso, uma simples checagem de documentos de identidade, comprovaria que o ex-assessor parlamentar Luiz Carlos da Silva não é a mesma pessoa citada na matéria veiculada no Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão, no último dia 14 de julho, cuja fonte foi o deputado Rodrigo Maia. Trata-se, portanto, de um caso de homônimos. O Luiz Carlos, meu ex-assessor, é portador da Carteira de Identidade 1.063.265 SSP–DF, enquanto o seu homônimo tem documento de número M734107 SSP-MG.
Mais ainda. Em 06 de junho de 2002, data da visita de Luiz Carlos da Silva ao Banco Rural, eu sequer era deputado federal. Logo, Luiz Carlos não poderia ser meu assessor parlamentar. Mais tarde, como muitos acompanharam pela imprensa, o próprio deputado Rodrigo Maia teve que se retratar e lamentar por ter envolvido o meu nome no episódio, conforme se pode constatar, por exemplo, em matéria veiculada pelo jornal Correio Braziliense no dia 16 de julho. Aliás, o próprio motorista do deputado Rodrigo Maia esteve, por 15 vezes, no Banco Rural, em Brasília. O parlamentar não disse isso à reportagem do Jornal Nacional.
Sinceramente, nunca imaginei que meu nome pudesse surgir em meio a denúncias de corrupção. É preciso separar o joio do trigo. Ética vem de berço. Antes mesmo de militar em causas políticas ou me filiar ao Partido dos Trabalhadores, sempre agi eticamente em todas as instâncias de minha vida. Não há motivo para que não me comporte da mesma maneira na esfera pública. Jamais negociaria a minha honra, a minha dignidade.
Com sentimento de revolta em relação a esses denuncismos, não tive outra alternativa senão pedir a cassação do mandato do líder do PFL, cuja maneira de tratar a dignidade alheia me causou espanto. Destituídas de qualquer critério ético, as acusações de Maia, em meu caso, não se sustentaram por mais de 24 horas devido à sua inveracidade. Ainda abalado, saio desse episódio com a certeza de que jamais precisarei baixar os olhos, envergonhado por meu comportamento, seja ele qual for. Não preciso desviar o olhar dos meus eleitores, nem temer a avaliação da população de Brasília. Agradeço a todos os que me enviaram e-mails de estímulo e solidariedade. Obrigado pela confiança!
No entanto, afora esse triste incidente, também tenho indignação contra companheiros e dirigentes do Partido dos Trabalhadores que colocaram em xeque a história de luta do PT, nesses 25 anos, pela ética e democracia no Brasil. Agiram não somente contra o patrimônio financeiro mas também contra o patrimônio moral do partido. Ficou visível que a ingerência se deu em prol de projetos pessoais de poder, em que o nome do PT foi vilipendiado e os militantes, desrespeitados.
Contudo, é preciso ressaltar, a crise é do PT, não do governo, que tem propiciado saltos incríveis nos índices econômicos. A economia brasileira vai muito bem, obrigado. A crise é do PT, mas, nem por isso, o Partido dos Trabalhadores deve ser destruído, impedido de seguir nesta caminhada de mudanças profundas por que passa o país. É preciso repensar o PT, rever conceitos, ajustar ali e acolá, cortar arestas. Por isso, em vez de me ater apenas aos fatos negativos, creio que, desta crise, também surgirá um novo partido: mais amadurecido, mais realista, com a cara do brasileiro deste novo século.
*Wasny de Roure é deputado federal pelo PT-DF e economista
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