Chegamos ao 3º Fórum das Águas de Manaus. Em 2009, quando aconteceu a primeira edição, era difícil prever que iríamos tão longe. Avançamos em 2010 e, este ano, obtivemos palestras marcantes e participações ainda mais expressivas. Um dado avulta do evento: para cada real gasto em saneamento, são economizados quatro reais em saúde.
Manaus é a capital do Amazonas e da Amazônia, banhada pelos rios Negro e Solimões que, ao desaguar, no porto da cidade, formam o Encontro das Águas e recebem o nome conjunto de rio Amazonas.
As previsões científicas são de que, em 15 anos, 1,8 bilhão de pessoas terão problema de abastecimento dágua no planeta. Em Manaus, com toda essa profusão de água, temos mais de 100 mil pessoas, hoje, sem água na torneira ou com intermitência no serviço.
Com a água cada vez mais cara que o petróleo basta ver quantas garrafas de água mineral de 150ml são vendidas por R$ 1, quase sete para atingir o volume dos atuais R$ 3 do litro de gasolina , a cidade continua registrando invasões das margens de igarapés, os berçários dos rios, por toda parte. Só na gestão do ex-governador e hoje senador Eduardo Braga (PMDB-AM), é que o problema começou a ser combatido, por intermédio do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (Prosamim), financiado pelo governo do estado e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), hoje tocado pelo governador Omar Aziz. Mais de 16 mil famílias já foram retiradas e outro tanto continua em áreas similares.
O ribeirinho do interior foge da enchente, da seca ou da falta de perspectiva econômica rumo ao Eldorado, representado pela capital e a Zona Franca. Ao chegar, quer morar perto da água, como sempre fez, empurrado pela cultura de tirar dali o peixe para o sustento básico. Só que, diante dos altos preços do mercado imobiliário, ele precisa invadir a terra para morar. Sem previsão orçamentária para oferecer infraestrutura a esses novos bairros, o poder público fica de braços amarrados e a promiscuidade se instala.
O dado sobre a influência do saneamento na saúde da população, levado ao debate pelo diretor executivo do Instituto Trata Brasil, Édson Carlos, é fundamentado em diversas pesquisas e encontra respaldo na experiência do Prosamim. Só 11% do esgoto manauara, informa ele, é coletado hoje, enquanto 60% da água tratada pela concessionária do serviço na capital, a Águas do Amazonas, é perdida.
O realismo fantástico desse ambiente mostra nos filmes atores e atrizes tomando água na torneira, enquanto o caboclo bebe direto do rio. Da mesma forma que é impensável para um europeu ou norte-americano beber diretamente em seus rios, para o caboclo a água da torneira é tabu, dado o histórico de problemas no tratamento.
Num mundo ambientalmente correto, a questão da água no Amazonas merece a atenção internacional. É um estado-armazém de parte expressiva do manancial de água doce da terra. O 3º Fórum das Águas de Manaus mostrou a seriedade da questão. Vamos continuando lutando para fortalecê-lo, a cada ano, no dia-a-dia, em cada pequena vitória obtida.
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