Expedito Filho, de Nova York |
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O marketing do medo vai entrar definitivamente para a história como demarcador de uma era na democracia americana . É algo absolutamente maquiavélico. Mais que atender as necessidades do eleitorado, a dupla George W. Bush e Dick Cheney prefere mantê-lo atemorizado, em permanente estado de alerta. Primeiro, via instititucional. Cada ameaça de curva descendente de Bush passou a coincidir com a necessidade de se aumentar o alerta para laranja, que na escala multicolor de prevenção ao terror, representa o grau de risco mais alto. Pior que isso só o alerta vermelho, que é o estágio posterior. Ele só é decretado depois do país ter sido efetivamente atacado. A subliminar e explosiva declaração do vice-presidente, de que em uma eventual vitória do candidato John Kerry os Estados Unidos seriam atacados mais uma vez pelo terror, é reveladora dessa tática. É, de longe, o ataque mais duro já desferido em uma campanha presidencial nos últimos 40 anos. Mas a imprensa americana repercutiu de forma quase natural, como se fosse mais uma dessas frases de palanque. Publicidade
Na verdade, para os gênios nacionais que sempre se guiaram pelos caminhos da mídia americana, com exceções aqui e ali, ela tem se subordinado ao marketing do medo e até aqui mostrou-se incapaz de revelar as nuances do jogo eleitoral que os americanos estão vivendo. Publicidade
Há um partidarismo claro, tanto para um lado, quanto para o outro, que acaba gerando uma certa incapacidade de produzir notícias de forma isenta e independente. A produção de novidades fica a cargo dos estrategistas de campanha – de ambos os lados. Não se viu até aqui um furo jornalístico, uma revelação fruto de esforço de reportagem, como a mídia brasileira costuma fazer com competência durante as campanhas eleitorais. Nesse cenário de imobilismo, a teoria de quanto mais medo melhor tornou-se o discurso único e encheu de monotonia uma eleição que poderia ser uma das mais emocionantes e modelares da história da democracia. PublicidadeO gogó do medo, ao contrário, extinguiu o debate e esvaziou seu conteúdo. Não se discute mais questões relevantes para a paz mundial ou temas de repercussão interna, como economia, desemprego e educação. O resultado disso é que a eleição de alguém em nome do medo dará ao mundo razões efetivas de se atemorizar na medida em que estaremos entre dois extremos bem definidos: o terror que amedronta e o medo que aterroriza. |
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