Marcos Magalhães |
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Em recente entrevista ao jornal O Globo, o economista norte-americano Michael Pettis, professor convidado de Relações Internacionais da Universidade de Pequim, foi contra a corrente. Disse que o modelo educacional da China, autoritário e hierárquico, pode limitar o país ao destino de “excelente copiador de soluções alheias”, no momento em que a inovação se transforma cada vez mais em um poderoso motor da economia mundial. No também recente livro A Ascensão da Classe Criativa, ainda não publicado no Brasil, o igualmente norte-americano Richard Florida, professor de Desenvolvimento Econômico Regional da Universidade Carnegie Melon, descreve a criatividade como um recurso econômico fundamental. E prevê que os líderes econômicos do futuro não serão necessariamente “gigantes emergentes” como Índia e China, dedicados à construção de um modelo de indústria de baixos custos. Os maiores competidores dos Estados Unidos em setores fundamentais para o crescimento econômico, aponta Florida, seriam pequenos países como Finlândia, Suécia, Dinamarca, Holanda, Irlanda, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, que teriam criado um clima especialmente estimulante para a criatividade e já exportam para o mundo produtos tão variados como os celulares Nokia ou os filmes da série Senhor dos Anéis. As observações dos dois acadêmicos, separados por milhares de quilômetros mas unidos no monitoramento das tendências econômicas internacionais, parecem oportunas no momento em que os parlamentares chegam a Brasília, após o recesso de final de ano, e crianças e jovens retornam aos bancos escolares em todo o Brasil. Tão esquecido no debate parlamentar, o tema da qualidade do ensino, como indicam os dois professores, está diretamente ligado à posição que cada país pretende ocupar no cenário econômico global. Já se sabia que os estudantes brasileiros desempenhavam um papel medíocre – especialmente quando comparados aos asiáticos – em disciplinas fundamentais para o desenvolvimento da indústria tradicional, como a matemática. O que se percebe agora é que o desafio é bem mais amplo do que parece. O governo brasileiro se preocupa atualmente em enviar ao Congresso Nacional um projeto de reforma universitária que cria, por exemplo, conselhos compostos por estudantes e “líderes comunitários”, para definir os rumos das faculdades privadas. Enquanto isso, países da América do Norte e da Europa já discutem o modelo de educação básica que pode ajudá-los a obter maior sucesso na economia do conhecimento do século 21. A educação básica bem que mereceria dos parlamentares uma atenção no mínimo tão grande quanto a dedicada a propostas capazes de atualizar a infra-estrutura física brasileira, como foi o projeto das parcerias público-privadas. E muitas vezes o que se precisa mesmo é de um bom debate, não necessariamente da criação de novas leis. Um debate, por exemplo, sobre a aplicação de leis já existentes. A criatividade e a inovação, classificadas pelos dois acadêmicos norte-americanos como fundamentais para uma educação voltada às necessidades do novo século, podem e devem ser estimuladas em cada disciplina desde o ensino fundamental. Mas certamente receberiam um enorme incentivo se, além das aulas já oferecidas nas quatro horas diárias das escolas tradicionais, fossem também oferecidas aos alunos novas oportunidades em artes e ciências, em horário complementar ao do currículo tradicional. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996, já determina a progressiva ampliação da jornada escolar do ensino fundamental para tempo integral. Mas não há indicação clara do governo federal sobre o caminho para a implantação desse dispositivo. Em uma das versões iniciais de seu parecer sobre a LDB, o então senador Darcy Ribeiro abria a possibilidade de a expansão de jornada ocorrer por meio de escolas integradas ou, como foi o caso de Brasília, pela combinação de escolas-classe com as escolas-parque. Foi nessas escolas-parque, por exemplo, que muitos brasilienses tiveram seu primeiro contato com as artes plásticas e com a música. Cenário parecido com o de uma promessa feita há pouco tempo pela televisão. Em um de seus programas eleitorais, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva perguntou por que não seria possível se colocar pelo menos um conjunto de instrumentos musicais em cada escola do país. Este poderia, provavelmente, ser um bom começo. |
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