Primeiro encontraram 100 mil dólares na cueca de José Adalberto Vieira da Silva, assessor do irmão de José Genoíno, ex-presidente nacional do PT. Três dias depois, acharam pelo menos R$ 10 milhões nas sete malas coloridas do deputado João Batista Ramos da Silva (SP), então no PFL. Os dois flagrantes, feitos por agentes da Polícia Federal nos aeroportos de Congonhas (SP) e Brasília em menos de uma semana, ajudam a trincar ainda mais os já bastante tênues laços entre o meio político e a sociedade brasileira. Publicidade
Adalberto nem mesmo tentou explicar o que os 100 mil dólares faziam dentro de sua cueca. E os 200 mil reais que levava em uma maleta, alegou, seriam provenientes da venda de legumes e verduras. Batista, por sua vez, afirmou candidamente aos agentes da polícia que os milhões de reais que levaria para Goiânia em um avião particular eram provenientes de dízimos da Igreja Universal. A escala de todo esse dinheiro na capital do país não chegou a ser explicada. Publicidade Os equipamentos que flagraram os dois passageiros nos aeroportos de São Paulo e Brasília fizeram também uma espécie de raio X no que existe de pior na política brasileira. Tudo isso apenas alguns antes de o empresário Marcos Valério e o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, divulgarem quase ao mesmo tempo uma nova versão para os recursos que migraram para o partido – os supostos empréstimos bancários feitos por Valério dentro do que logo se apelidou de Operação Paraguai, cópia mal feita da Operação Uruguai forjada pelo ex-presidente Fernando Collor para tentar escapar do impeachment. Até há poucos dias, simpatizantes do PT, partido mais abalado pelas denúncias de corrupção, se dividiam entre os que choravam o fim de suas ilusões e os que identificavam na penumbra movimentos sorrateiros de uma direita insatisfeita e golpista. Para estes, as denúncias envolvendo altos companheiros só podiam ser fruto de uma campanha orquestrada dos insatisfeitos com a chegada ao poder do primeiro líder operário na América Latina. O argumento perde um pouco a graça agora, quando o raio X flagrou também um deputado que pertencia ao PFL. PublicidadeA mistura explosiva de políticos com dinheiro vivo tem deixado um rastro de desconfiança cada vez maior de toda a sociedade em relação aos que deveriam representá-la. Quando a onda de denúncias atingiu em cheio o PT, partido que fez sua história com base em uma suposta luta em favor dos bons costumes na política, muitos dos que viam na estrela vermelha a única salvação em um mundo de corruptos afundaram-se no ceticismo. Se até o PT está envolvido nessas operações, concluíram muitos militantes e simpatizantes, então nada teria mesmo mais solução. Será? As investigações da CPI dos Correios já deixaram claro que nenhum partido detém o monopólio da ética, como já reconheceu o novo presidente do PT, Tarso Genro. E a apreensão de milhões de reais em dinheiro vivo na bagagem de um deputado então do PFL, dirigente da Igreja Universal, mostra também que o PT não tem o monopólio das denúncias e apreensões. Se ninguém é inteiramente dono da virtude ou do vício, existe aí mais um motivo para que todas as forças políticas minimamente decentes procurem juntas meios de desarmar a bomba-relógio que representa a atual relação entre a política e o dinheiro. Essa operação será acompanhada de perto pela sociedade. Mas isto não basta. Reclamar da desonestidade faz parte do exercício da cidadania. Só que as atenções de cidadãos e cidadãs não devem se voltar para o que acontece em Brasília só nos momentos de crise. Todo o país teria a ganhar se cada um procurasse também saber como votam seus representantes em cada decisão importante no Congresso Nacional. E se os eleitores demonstrassem a seus representantes o que pensam sobre cada voto. Sabendo-se acompanhados de perto pelos seus próprios eleitores, os representantes da sociedade poderiam pensar duas vezes antes de aderir a aventuras político-financeiras. |
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