Alfredo Bonduki*
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, está corretíssimo ao afirmar que a tendência inflacionária é mundial. O Brasil, contudo, não deve resignar-se às oscilações genéricas da economia globalizada, pois já demonstrou, na recente crise do subprime, ser capaz de encontrar soluções próprias e eficazes para conciliar níveis elevados de atividade com um ambiente monetário equilibrado e saudável.
Assim, ouso afirmar que o país é um dos poucos em condições de continuar crescendo, inclusive acima dos 4,5% estimados para 2011, sem risco de recrudescimento inflacionário. Ante tal convicção, incomodam-me as justificativas de Mantega de que o governo está tentando moderar a expansão do PIB para impedir uma escalada dos preços.
Por outro lado, me agradaram o comprometimento com o controle da inflação e a confiança do ministro de que o índice acumulado do ano ficará em torno de 5,6%, quase um ponto percentual abaixo da meta de 6,5%. Sua fala referenda o recente pronunciamento da presidente Dilma Rousseff sobre o tema. Porém, para não precisarmos refrear a economia e podermos continuar crescendo sem culpa e medo do fantasma que nos assombrava antes do Plano Real, é preciso ir muito além do discurso e das medidas que o governo vem adotando. A primeira atitude é reconhecer que o juro perdeu eficácia como inibidor dos preços.
Ao mantermos a maior taxa real do mundo, e considerando que trocamos a formação de poupança interna pelo leilão de títulos públicos (atrelados à elevadíssima Selic), estamos realimentando a antiga ciranda financeira e atraindo o capital especulativo. Este confere artificial otimismo ao balanço de pagamentos, mas não impediu que a balança comercial da indústria de transformação tivesse saldo negativo superior a US$ 70 bilhões em 2010. É um tanto apetitoso para o famigerado dragão inflacionário esse círculo vicioso disfarçado pelo chamado superávit primário das contas públicas. A rigor, o que temos é um grande déficit no orçamento da União.
Portanto, a prioritária providência para o enfrentamento da inflação é o rigoroso controle dos gastos públicos, em especial os supérfluos. É premente, ainda, a vigilância sobre os preços administrados, como os dos transportes, que estimulam em escala as majorações. Sobretudo, é crucial investir na produção, reduzindo-se (já!) os juros para créditos destinados aos investimentos produtivos. É preciso converter a usura em recursos multiplicadores de empreendimentos, negócios e empregos!
Tais medidas, que não dependem de emendas constitucionais, mas apenas de decisões do Executivo, nos garantiriam crescimento substantivo, sem pressão inflacionária. Continuaríamos com a economia aquecida e tranquilidade para realizar as reformas tributária, previdenciária e trabalhista, que nos dariam o definitivo impulso ao desenvolvimento.
*Presidente do Sinditêxtil-SP e engenheiro pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, com pós-graduação na Fundação Getúlio Vargas
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