Acho que todos os cientistas políticos já vivemos uma situação parecida. Você está num evento social qualquer e casualmente revela a sua profissão a um interlocutor. A reação quase inevitável aparece na forma da clássica pergunta: “Em quem eu devo votar nas próximas eleições?”.
Esse tipo de questionamento, pelo menos para mim, é particularmente insuportável quando estou no meio de parentes ou de amigos. Não gosto de misturar trabalho com vida pessoal. E também não me considero um formador de opinião. Nesses casos, a minha resposta é sempre a mesma: “Vote em quem você quiser!”.
Assim, resolvi dedicar a minha coluna dessa semana a todos os parentes, amigos ou simples desconhecidos que já me fizeram essa fatídica pergunta ao longo dos anos. Naturalmente, para ser coerente comigo mesmo, não recomendarei o voto em nenhum candidato específico.
Mas acho que vale a pena listar alguns critérios com base nos quais podemos escolher autonomamente os nossos representantes na Câmara dos Deputados e nas Assembléias Legislativas estaduais. Não os havia formalizado até agora, mas sempre utilizei intuitivamente esses critérios nas entrevistas que concedo sobre o tema.
Uma das regras possíveis para a escolha de um candidato é o chamado “voto de opinião”. O eleitor seleciona o seu representante com base numa determinada visão da política (ideologia, doutrina, etc.) que ambos supostamente compartilham. O voto numa legenda partidária é um dos exemplos mais conhecidos do voto de opinião.
Um segundo critério muito utilizado para a escolha de candidatos a deputado pode ser rotulada como o “voto geográfico”. Aqui, o eleitor quer ser representado por um político que resida no mesmo bairro ou cidade que ele. A lógica desse tipo de voto é que, uma vez eleito, o deputado trará benefícios materiais para a região que representa.
Talvez haja ainda uma terceira categoria, que poderíamos genericamente denominar de “voto corporativo”. Nesse caso, buscamos um candidato que represente privilegiadamente um determinado grupo ou categoria (religiosa, profissional, etc.) dentro da qual nos inserimos – fazendo abstração dos demais grupos ou categorias a que pertencemos.
Na prática, esses critérios podem aparecer misturados uns aos outros, e serem usados simultaneamente. Também há muitos eleitores que escolhem os seus candidatos baseados na recomendação de terceiros, na propaganda eleitoral, ou até em fatores aleatórios.
Pretendo voltar a esse tema em breve. Mas fica a ressalva de que todos esses critérios me parecem igualmente legítimos, pois nenhum é necessariamente melhor ou pior do que os demais.
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