Márcia Denser*
Minha boa e velha amiga, a escritora Tânia Faillace me manda um longo e-mail de Porto Alegre – um texto ele próprio um singular exemplo de articulação e elegância, que escritor não se revela apenas pelo que escreve em livros mas até como engendra a lista do supermercado – pedindo notícias, informações, milhares delas.
Nos últimos parágrafos, ela diz mais ou menos o seguinte: “Também está difícil distinguir exatamente o que está acontecendo nas rivalidades secundárias entre as grandes redes midiáticas, siglas partidárias já nada significam, porque o oportunismo campeia. Como complicação extra, temos o "politicamente correto" confundindo, de propósito, alhos com bugalhos, e as tais diversidades, como pretexto do incentivo ao racismo e à pulverização política das classes desfavorecidas. O futuro imediato se apresenta muito opaco, porque há muita cortina de fumaça por aí para impedir-nos de ver o concreto.”
Aí eu penso que para responder teria que fazer um inventário das minhas próprias perplexidades, do meu incurável ceticismo, de todas aquelas malditas esperanças secretas mas que persistem em me dar uma razão para levantar da cama todas as manhãs (você está me obrigando a fazer literatura, Tânia).
Então penso que sua carta é objetivamente um pedido de informações mas, Tânia, ironicamente, a era da informação é também a da desinformação: se no passado a ausência de informação e a censura caracterizavam a negação da democracia pelo estado totalitário, atualmente ocorre o inverso. Desinforma-se o espectador, o leitor, afogando-o num oceano de informações, de dados contraditórios, periféricos, irrelevantes. O estado globalitário das alianças econômico-estratégicas é Babel, não mais a velha censura com sua tesoura. Atualmente Mais é Menos, às vezes até menos que nada, já não é mais possível distinguir a manipulação voluntária do acidente involuntário.
Daí o sentimento de irrealidade que afeta populações e proíbe finalmente a adesão plena e completa, o engajamento da opinião pública diante dos fatos do mundo.
Assim, a conquista da ubiqüidade global desemboca no império da Passividade: o jugo da confusão dos espíritos superando o esclarecimento do passado, a antiga escravização dos vencidos dá lugar agora à submissão de uma opinião pública desconcertada pelo caos de factóides – porque não me venha dizer que essas CPIs, esses Dossiês, essa Oposição, todo esse som e essa fúria que eles chamam Política existe, aliás, qual política? Parafraseando Arantes.
Então imagino que você deve estar pensando, porra, não enrola, e com razão, mas o que te responder sobre a quantas anda a UBE – União Brasileira de Escritores – uma “entidade” fisiologicamente surrealista e inexistente desde sempre? Que porra eu sei da UBE? Um fantasma que tentaram reativar na década de 80 e hoje vegeta cacofonicamente tendo como “presidente” o dono duma editora paulistana que só edita autores que se autoeditam? E na seqüência: que Ministério, que Funarte, que Biblioteca, que Cultura, qual Cultura? Hein, Tânia?
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