Márcia Denser
Ultimamente, os eventos políticos mais relevantes insistem apenas em oscilar entre o cínico, o ridículo e o estúpido.
Nessa pauta, o sociólogo Emir Sader salienta que os tucanos não indicaram propriamente um futuro presidente do país, mas um candidato a “gerente do Brasil”, como assim se auto-definiu o ex-governador de São Paulo ao se lançar na disputa, pois é disso que o Brasil precisaria – de um gerente. A partir daí, Alckmin começou a construir uma plataforma liberal ortodoxa, reunindo-se com velhos membros do governo FHC e outras figuras do mundo financeiro, defendendo utopias mercantilistas, tais como a privatização do Banco do Brasil, da Petrobras, da Eletrobrás, da Caixa Econômica e do que ainda esteja por ventura nas mãos do Estado.
Ou seja, o sonho dourado das elites. Cinismo maior do que este, só o descaramento em proclamá-lo.
Já a estupidez ficou por conta do setor cultural tucano, com Chalita promovido a educador, modelito “intelectual” neoliberal de auto-ajuda, permanecendo a nunca por demais esquecida Claudia Costin, a “rainha da sucata cultural”, como trunfo na manga do ex-governador.
Ao escolher a Alckmin, o PSDB abandona qualquer prurido planejador ou de regate de políticas sociais e aponta diretamente para a retomada da versão mais radical das privatizações do governo FHC. É uma escolha fácil no início, porque cativa o grande empresariado paulista, antes de tudo aos banqueiros. Mas leva uma bola de ferro amarrada nos pés, que não se resume ao estilo sem qualquer carisma do escolhido, mas se estende a um modelo que se choca frontalmente com as maiores preocupações dos brasileiros. Menos Estado significa menos políticas sociais, menos possibilidades de incentivo à criação de empregos e à distribuição de renda. Em suma, é uma candidatura cínica, na falta de adjetivo mais preciso.
Sader conclui que, para o PT, o presente não poderia ser melhor: um candidato opositor com pouca projeção popular, que obriga a campanha lulista a se diferenciar pela esquerda, é tudo o que o partido precisa para propor o resgate do social no segundo mandato presidencial. Se a isso se soma a inexistência de um candidato peemedebista, Lula sai direto do inferno astral para o paraíso, sem passagem pelo purgatório.
E com efusivos agradecimentos não só ao pré-gerente tucano, como a Anthony Garotinho & respectiva greve de fome, que, agora sim, definitivamente leva o troféu do ridículo.
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