Márcia Denser
Fui conselheira da comissão de avaliação da Lei Mendonça durante cinco anos e o nosso maior problema para vetar projetos sem mérito, ineptos, caríssimos e claramente oportunistas era, e é, o dispositivo na lei de incentivo que impede o veto com base no julgamento de valor, mérito ou relevância do projeto em si.
Graças a esse dispositivo (a Lei Rouanet deve ser semelhante) o dinheiro público brasileiro financia o Cirque de Soleil, ou seja, os ricos artistas canadenses.
É a festa do caqui total. Porque a anomia – ausência de regras,normas e valores – na cultura e nas artes foi legalizada, o que, absurdamente é uma contradição nos termos. No âmbito da Lei Mendonça, por exemplo, a atual administração da Secretaria Municipal de Cultura já fez algo positivo no sentido de, por decreto, estabelecer que os projetos sejam realizados em São Paulo, exclusivamente. Contudo, como a lei não foi alterada, a próxima gestão poderá simplesmente revogar o decreto e se volta à estaca zero.
Sobre as críticas do Mirisola ao bonde, a Folha tratou o assunto de forma muito superficial, dando relevância apenas a uma suposta briga inter-grupos literários, quando o buraco é bem mais embaixo. Dêem uma espiada no blog do Ademir Assunção, onde ele manisfesta uma opinião semelhante à minha… Por quê? É um dos raríssimos escritores da nova geração politicamente engajados.
Os demais, Sérgio Rodrigues de www.nominimo.com.br, ou Santiago Nazarian, os próprios Cuenca e Teixeira, só focalizam a coisa do ponto de vista de quem confunde "intercâmbio cultural" com "intercurso sexual". O blog do Miguel Conde, editor do Caderno Prosa e Verso, de O Globo do Rio, embora tenha dado a nossa matéria com destaque, também focaliza a questão da mesma forma simplista, eu diria até "minimalista".
E todos, indiscriminadamente, acumulando pontos para que essa situação acrítica da cultura, essa ausência de critério de valoração do artista e da arte se eternizem e permaneçam fazendo, a longo prazo, desaparecer para a posteridade escritores e obras produzidas nestes tempos.
Glamour now, dead forever, Resquiescat in pace, beijos desta La Denser.
Para entender a polêmica, clique aqui na imperdível entrevista em que o escritor Marcelo Mirisola chuta o pau da barraca.
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